Bifurcação

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Fecho a porta assim que Paul atravessa-lhe o umbral. Findo a cerveja da garrafa e meto-a embaixo do balcão da cozinha, perpasso o corredor e vou ao quarto, esvaziei a garrafa e agora preciso esvaziar-me, passo pela cômoda e não vejo o cilindro de Vicodin que até então estava lá. Sinto meu celular vibrar quando disto poucos centímetros da pia.

— Sim?

— Harry, aconteceu algo? — Selena ressoa do outro lado.

— Por que? Como assim?

— Taylor não atende o celular.

— Ela está no estúdio, deve ter deixado-o no silencioso.

— Eu acabei de comprar as passagens, embarco amanhã.

— Maravilha! Ed também!

— Você poderia avisar a ela...?

— Claro! Claro!

— Obrigado!

Devolvo o celular ao bolso, lavo minhas mãos e volto-me ao corredor. Embrenho-me pelas sombras entre o fim daquele caminho e o portal do estúdio, empurro-lhe a madeira que sela a entrada, o que vi primeiro estava no piso, os comprimidos brancos espalhados pelo tapete espesso, distantes do invólucro e ela, a minha fada, deitada sobre o assento do piano, desacordada.

Corro ao seu corpo, seguro-lhe o pescoço e levanto sua cabeça, sacudo-a levemente, mas seus olhos não abrem, empurro então uma pálpebra e os globos estão rolados mui adentro, chamo-a num tom comedido, mas não há resposta, então berro-lhe o nome e fracasso da mesma forma, não existe uma saída ali.

Tento sentá-la, mas seu corpo não tem postura, não tem rigidez, é como se ela não estivesse lá e só ficara uma mera casca. Por longos segundos temo que ela tenha ido-se de vez.

— Acorde! Vamos, Taylor! Já! Não faça isso!!

Deito-a em meus braços, levo-nos afora ao carro, firmo-a no banco e tiro-nos da garagem. Quase fora do território campestre da cidade sua mão espasma sobre a minha, seus olhos piscam e um sussurro escapa:

— A nós, a estrada se bifurca aqui.

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora