Casa nova

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Encaro as fotografias dentro da churrasqueira. Cruzo os braços enquanto venta frio ao redor do meu corpo, Harry volta com duas garrafas de cerveja, uma em cada mão, entrega-me a minha. Ele também as encara e franze as sobrancelhas, como se não soubesse o que sentir a respeito.

— Pretendia queimá-las?

Ele assente.

— É assim que trata certas memórias?

— As que não consigo suportar.

— Sei como é...

Ele se aproxima, ergue o braço e o deita sobre meus ombros. Ingiro um gole da bebida, as bolhas correm por minha língua, descem espumando.

— E agora? O que fará com elas?

— Guardarei. Em algum lugar distante.

— Por que?

— São lembranças de outros tempos. É hora de fazer novas.

— Vi que não tem um piano aqui.

— Nem estúdio.

— Mas isso é o normal — rio. — Não é um cômodo que normalmente se construa em residências.

— Também não tem piscina — ele franze o cenho. — Nenhum lugar para se afogar quando bêbado.

— Mas aposto que consigo quebrar garrafas da mesma forma.

— Não me espere pagar para ver. Eu sei bem o quanto essas paredes são duras. Quase quebrei minhas mãos nelas.

— Mesmo?

Ela negou. — Eu teria... Se tivesse energia para levantá-las.

Harry recolhe as fotos e leva consigo a caminho da sala. Acompanho-o e nos sentamos no sofá, tudo está calmo, ninguém nos fez perguntas, ninguém nos importunou, não há nada nos noticiários nem em sites. Esse silêncio é o cobertor da nossa cama e é sob o qual nos esconderemos.

O filme já vai começar, o mesmo vento agora agita as palmeiras lá fora. Descobri que ele está parando de fumar e agora estamos quase quites com nossos vícios, felizmente não usamos um ao outro como muleta, entendemos um pouco mais de saúde.

— Quer? — ele me aproxima um pote com nachos enquanto senta-se ao meu lado.

Assinto e pego um, deito a cabeça em seu ombro e o filme se desenrola.

I Knew You Were TroubleOnde histórias criam vida. Descubra agora