No escuro

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— Ela está tendo uma reação alérgica à medicação! — uma enfermeira corre à sonda ligada à minha veia.

Um outro médico adentrou o quarto, sacou uma lanterna do bolso e esticou minhas pálpebras. Minha visão já escurecia quando o facho de luz percorre minhas córneas, os sons se afastam em ecos, o ruído contínuo do aparelho que monitora meu coração fica cada vez mais lento. Fecho os olhos e sinto o corpo afundar no colchão como um mergulho numa piscina de bolas.

Respiro fundo, desço à escuridão de mim mesma, não posso me mover diante da fraqueza que me tem o corpo. O ambiente é maior, mais extenso, completamente envolto em penumbra, poucos raios de luz vão e vem como fossem vivos, em alguns instantes consigo precisar uma cadeira distante e sobre ela alguém.

Estreito meus olhos, tento identificar a silhueta sentada enquanto míseros raios percorrem o imenso, infindo breu. Posso notar as curvas no longo cabelo que guarnece-lhe os ombros, de vez em quando os anéis cintilam refletindo as estrelas correntes.

— Harry...?

— Olá.

— Pensei que tivesse ido embora!

— Eu fui.

— E o que é isso?

— Acredite, eu realmente não estou aqui.

— Aqui onde?

— É algum limbo de você. Alguma parte do seu inconsciente talvez...

— Não, eu estou no quarto, ainda estou no hospital!

— Sim, está. Mas também está aqui.

Um ponto de luz corre próximo ao seu rosto e vejo a claridade descobrir-lhe quase todo o busto, mas tamanha brevidade não garante nitidez e tudo torna a ser preto no preto. Inflo os pulmões, tento erguer-me, sentar-me na maca, meu corpo desobedece-me categoricamente.

— Sem bruteza...

— Vá pro inferno!

— Ora, feito!

— Por que está aqui?!

— Diga-me você! Você está sozinha, Taylor.

— Claro que não!

— Você está sozinha, no escuro...

— Mas você...

— Não. Esta forma é você também. Agora a verdade: a voz que ouve também é... Ela sai da sua boca, percorre toda a escuridão em forma de luz e regressa a você... Declarando: "sou sua voz e te digo, você está sozinha, de costas... No escuro."

Então ele se dissolve na escuridão; a questionar-me fico se a cadeira é simplesmente o meu coração.

I Knew You Were TroubleTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang