A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1

Capítulo 6: Trovões.

Abri o livro, enquanto o táxi estava parado no trânsito irritante de Londres naquela noite. Não vi mais Harry depois do momento que o deixei no corredor da editora, indo pra minha sala e ele para a de Dominic. Também não vi mais o estranho do restaurante. Muito menos comentei com Katie sobre ele de novo. Eu tinha certeza do que tinha visto.

Katie tinha uma reunião sobre um desfile das suas roupas que será em breve, então não iremos nos ver essa noite. O que automaticamente vai resultar em mim com a cara enfiada em um livro, como agora. Estava lendo o último livro de acotar, praticamente chegando ao clímax da história.

Se tinha algo por quem era era completamente apaixonada era livros de fantasia. Os que eu leio, tem fantasia. E os que eu escrevo? Sim, tem muita fantasia. Gosto do fato de sair fora da realidade e ver algo impossível de acontecer se tornando real na minha imaginação. Um romance também pode ser incrível de se ler, mas isso você pode encontrar na realidade. Fantasia com bruxas, fadas, feéricos e criaturas mágicas, não. É isso é o que mais me deixa fascinada.

A chuva do lado de fora começou a aumentar, me fazendo tirar a atenção do livro para as ruas movimentadas, para as pessoas que andavam correndo pela calçada com guarda-chuvas, e celulares no ouvido. Voltei a atenção para o livro e continuei lendo, quando o carro finalmente andou em direção ao meu prédio. Ainda precisava de ideias para escrever um livro de romance. E ler crepúsculo estava se tornando uma ideia mais interessante do que eu imaginava. Talvez Andrei não tenha dado uma péssima ideia, afinal.

Entreguei o dinheiro ao motorista e desci do carro, entrando no meu prédio. Acenei para Thomas, o porteiro, e entrei no elevador, deixando meu corpo se escorar na parede. Havia sido um dia longo e eu ainda sentia minha nuca formigando a cada passo que dava. Definitivamente, não era uma sensação boa.

Entrei no meu apartamento, jogando a bolsa e os sapatos no chão. Em cima da mesinha, ao lado da porta, havia uma pilha de correspondências que eu preferia ignorar. Acendi a luz, soltando um suspiro pesado e caminhando até a janela aberta, onde a chuva molhava toda minha cortina.

—Que merda! —Resmunguei, fechando a mesma. Não me lembrava de tê-la aberto de manhã. Na verdade, não fiz nada de manhã a não ser me arrumar e levar Harry para compramos café na rua. Ignorei a confusão da minha cabeça e fui para o quarto. Olhei ao redor, parando entre o batente da porta.

Meu coração martelou no peito, quando senti uma sensação estranha no ar. A mesma sensação que senti quando estava no restaurante, com aquele estranho me observando. Acendi a luz, encontrando o quarto silencioso e vazio. Engoli em seco, girando e olhando para a sala, onde a janela estava aberta segundos antes. Minha respiração estava presa na garganta e minhas mãos suavam de nervosismo.

Dei um pulo para trás quando um trovão ecoou do lado de fora, clareando toda a rua por alguns segundos. Bati contra a porta e olhei para o quarto de novo. Não havia ninguém ali. Absolutamente ninguém além de mim. Mas a sensação de estar sendo observada continuava. Soltei um grito e tampei a boca com as mãos quando a lâmpada da sala, seguida pela do quarto estourou, me deixando na completa escuridão e com o coração trovejando no peito.

—O que... —Corri pegando minha bolsa, vendo a sala sendo clareada pela luz de outro trovão que ecoou lá fora. Por um segundo, pensei ver a silhueta de alguém ao lado da janela. Mas não pensei direito sobre o fato, abri a porta e corri para o elevador, com os dedos trêmulos e a respiração pesada me deixando zonza.

Atravessei o saguão até as portas da saída, ignorando a chuva forte e saindo para a rua. Comecei a andar apressadamente pela calçada, com a chuva caindo com força sobre minha cabeça. Abracei meu próprio corpo, vendo os carros voando pelo asfalto. Quase caí na calçada, quando meus pés teimavam em tropeçar uns nos outros. Minha respiração causava um vapor no ar, quanto mais rápido eu ia.