Capítulo 65: Túmulos.

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Os guardas carregaram Harry de volta para a carruagem, enquanto encontrávamos os guardas pelo caminho. Eu havia juntado mais daquela flor e foi entregando um pouco a cada um deles, enquanto ajudava os que estavam mais feridos com aquela mistura de ervas.

Então estávamos de volta na carruagem. Harry estava deitado no chão dela, com a cabeça sobre meu colo. Havia desmaiado quando começaram a carregá-lo. Mas pelo menos o sangramento havia parado. Ainda estava pálido, mas vivo. Vivo por tempo suficiente para que chegássemos até Velará. Passei o caminho todo acariciando seu cabelo e sussurrando que ficasse comigo.

James desceu da carruagem primeiro quando chegamos a reino, gritando ordens e berrando o nome de Noah. Tudo foi um completo borrão depois disso. Harry foi tirado de dentro da carruagem e Noah foi para a cozinha do castelo, tentar criar uma poção de cura o mais rápido que conseguia.

Só me lembro das mãos de Katie em mim quando ela me tirou da carruagem e das lágrimas de desespero de Maisie quando viu o irmão. Katie me levou até um dos quartos, me ajudando a tirar o vestido completamente manchado de sangue e me ajudando a entrar em uma banheira, já que minhas mãos e meus braços estavam manchados com o sangue de Harry também.

—Está tudo bem, meu bem. —Katie começou a lavar meus braços, enquanto eu ficava encolhida dentro da banheira, lembrando involuntariamente de todos aqueles momentos que eu desejava mais do que tudo poder esquecer. —Ele vai ficar bem, Sophia. Graças a você ele vai ficar bem.

Ela beijou minha testa, enquanto eu balançava a cabeça, ainda sem reação.

[...]

—Eram quatro homens. Estavam todos de preto. Nenhum símbolo ou marca que revelasse de que reino eles eram. —James estava andando de um lado para o outro, esfregando as mãos na nuca como se estivesse muito, muito frustrado. —Mataram cinco dos nossos e deixaram os outros feridos. Três deles fugiram quando não conseguiram nos encontrar. O quarto eu mesmo matei. —Ele parou de andar, olhando na minha direção. —Pelo que a Sophia contou as ordens eram para matar especificamente ela.

Katie apertou minha mão, como se estivesse assustada com essa parte. Depois das últimas horas, acho que não vou me assustar com nada tão facilmente. A imagem de Harry banhado de sangue ainda estava me dando pesadelos e provavelmente ficaria na minha cabeça por dias ou talvez semanas.

—Conversei com meu rei. —Ele olhou para Katie e depois pra mim de novo. —Como você se tornou noiva do Harry e futura rainha, isso pode ser considerado um ato de guerra de qualquer reino que tenha os enviado lá para matá-la. Ele me aconselhou a enviar um aviso a todos os reinos sobre o acontecido e um alerta sobre as consequências. Talvez fosse melhor que Harry fizesse isso. Mas como ele ainda está indisposto, e eu estava com vocês no momento, me reservei o direito de enviar o aviso.

—Tudo bem. —Consegui dizer, sentindo minha cabeça girar com tantas informações.

James não disse nada. Ele voltou a andar de um lado para o outro, como se não conseguisse ficar parado. Como se estivesse irritado demais com o que havia acontecido e quisesse voltar lá e matar os outros três homens. E eu tinha certeza que ele faria isso se pudesse, porque James é determinado demais. Seu modo de agir antes de descobrirmos que Katie era sua irmã era um exemplo perfeito de como ele era.

—Sophia? —Fiquei de pé quando Maisie entrou na sala. Ela estava segurando a carta do príncipe Christian. O papel estava manchado de sangue nas pontas, o que fez meu estômago se revirar um pouco. —Harry acordou. Ele está perguntando de você.

[...]

Harry estava pálido como uma folha de papel em branco. Mas estava acordado. Acordado e olhando pra mim com aqueles olhos azuis que pareciam o oceano. O céu pintado com o mais belo azul. Ele estava meio sentado, meio deitado sobre a cama. Noah estava ao lado dele, checando alguma coisa antes de se afastar quando percebeu que eu estava ali.

—Parabéns, bruxinha. —Ele bagunçou meu cabelo, sorrindo. —Não sei o que fez, mas salvou a vida dele.

—Você foi um bom professor. —Afirmei, vendo ele balançar a cabeça negativamente.

—Não, você é uma bruxa. Só fez o que nós sabemos fazer de melhor. —Ele piscou pra mim e então saiu do quarto, me deixando sozinha com Harry.

Caminhei até a beirada da cama, tentando abrir um sorriso pra ele, enquanto seus olhos me seguiam muito cautelosamente, piscando lentamente como se fosse um esforço enorme continuar desperto.

—Oi. —Parei ao lado dele, sentindo meu coração martelando no peito.

—Oi, linda. —Ele arrastou a mão no colchão, deixando-a próxima a minha. Me sentei na beirada e segurei a mão dele, sentindo a pele quente e macia, enquanto ele fazia o papel de entrelaçar nossos dedos. —Você está bem?

Balancei a cabeça afirmativamente, olhando para nossas mãos juntas. As lágrimas estavam nos meus olhos, prontas para saírem como uma tempestade, sem parar. Minha garganta já estava ardendo enquanto eu tentava me segurar para não chorar, o que me impossibilitava de falar. Se eu falasse, iria chorar.

—Ei, linda, olhe pra mim. —Pediu, apertando minha mão com mais força. —Eu estou bem. Olhe pra mim. —Ergui os olhos, vendo o sorriso pequeno que estava nos lábios dele. —Estou muito feliz, sabia?

—Por quê? —Indaguei, quase sem fôlego.

—Porque vou me casar com uma bruxa e sei que ela vai cuidar de mim sempre que eu precisar. Tive uma prova disso a algumas horas atrás. —Soltei uma risada, afundando meu rosto no peito dele, com cuidado para não machuca-lo, enquanto finalmente me permitia chorar, grudada nele. —Shiiii, está tudo bem. Está tudo bem. Prometo a você. —Ele se mexeu de leve, me obrigando a sair de cima dele. —Venha, deite aqui do meu lado.

Tirei os sapatadas, me arrastando pra cima do colchão, enquanto Harry abria os braços pra me aninhar bem pertinho dele, sentindo seu calor e escutando seu coração bater. Harry beijou o topo da minha cabeça e eu fiquei tranquila pela primeira vez.

Algumas semanas depois...

—Então, é isso. —Coloquei as flores na frente dos túmulos dos meus pais, depois de passar alguns minutos contando sobre tudo que aconteceu na minha vida. Eu precisava fazer aquilo para me sentir mais próxima deles, antes de ir de fato embora de Londres, para nunca mais voltar. —Vou me casar com um príncipe de outra dimensão. É um pouco doido e irreal, mas é a verdade. Acho que sou muito sortuda, porque gosto realmente desse cara e acho que ele é tudo que eu preciso, sem brincadeira. —Passei a mão na bochecha, esfregando a pele fria. —Queria que estivessem aqui. Queria saber o que pensariam e o que falariam sobre isso. Só quero que saibam que eu estou feliz. Nunca estivesse feliz de verdade desde que vocês partiram. Mas estou feliz agora. Sei que vou ser mais feliz ainda depois que me casar. —Fiquei de pé, apertando minhas mãos unidas. —Amo vocês. Obrigada por tudo que fizeram por mim e pelo tempo que tivemos juntos. Por mais curto que ele tenha sido. Amo muito, muito vocês.

Puxei a foto que estava dentro do bolso do meu casaco, observando a imagem dos meus pais comigo. Havia sido tirada no mesmo ano que eles partiram. Alguns meses antes. Iria levá-la comigo, assim como tantas outras fotos nossas juntos, quando eu ainda era uma criança. Não havia nada que eu pudesse levar de Londres além de lembranças dos dois.

Ergui os olhos e encarei Harry, que estava se aproximando lentamente de mim. Mesmo no meio daquele lugar triste e sombrio, ele ainda era lindo. Tinha um brilho único que o segui para cada canto. Me despedi dos meus pais uma última vez e caminhei em direção a Harry.


Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Where stories live. Discover now