Capítulo 14: Convenção das bruxas.

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Sophia

Eu adormeci em algum momento, ainda amarrada aquela cadeira e caída contra o chão, com a minha testa escorada na pedra fria. Harry ficou segurando minha mão, fazendo aqueles círculos lentos e que pareciam um calmamente para o meu corpo. Mas também, deixava minha pele quente e me fazia estremecer.

Fiquei pensando em Katie e no quanto ela estaria preocupada comigo agora. Ela nem pode imaginar onde eu estou. Pra falar a verdade, ainda não sei bem onde eu estou. Não consigo acreditar no que Harry contou. Parece surreal demais. Mas também, não consigo deixar de pensar em quanto a história dele parecia real demais. Eu vi o que aquele homem fez. Eu sei a cor única que os olhos dele tinham.

Eu podia estar sonhando, não? Sim, eu poderia. Talvez eu tenha dormindo em cima de um livro de fantasia, como normalmente acontece e, agora estou sonhando com a história. Isso sim faz total sentido.

Arfei de surpresa e abri meus olhos, arregalando-os quando meu corpo foi puxado para cima com tudo, fazendo meus cabelos ruivos saltarem para meu rosto. Arqueei a cabeça para trás quando encontrei aquele par de olhos amarelos.

—Olha só quem acordou. —Ele murmurou, abrindo um sorriso largo. Engoli em seco, puxando minhas mãos e tentando me soltar. —Uma bela moça, não é, alteza?

—Ei! —Harry se remexeu bruscamente atrás de mim, quando o homem tocou meus cabelos, ajeitando-os atrás da minha orelha. —Não toque nela! —O homem riu, negando com a cabeça. —Juro que vou quebrar suas mãos se tocar nela!

—E como vai fazer isso estando com elas amaradas? —Ouvi uma voz feminina. Olhei por cima do ombro, vendo uma mulher de pele morena, cabelos encaracolados e olhos caramelos olhando para Harry com um sorriso divertido no rosto. —Essa realeza. —Ela negou com a cabeça, fazendo um barulho continuo com a boca. —Sempre tentando dar ordens e ser superiores.

—Vocês já me pegaram, não é? Já estão comigo. Então levem ela de volta pra casa. —Harry pediu, apertando minha mão. —Por favor, só leve-a de volta pra casa.

—Hm... será? —A bruxa se curvou sobre Harry, fazendo meu rosto se curvar em uma careta quando seu rosto se aproximou do dele. —Não, vamos ficar com ela. Vai dar um ótimo brinquedo.

—Não, espera... —Harry abriu a boca para protestar, mas nós dois fomos puxados com força. Fiquei de pé quando a mulher me soltou da cadeira, ainda deixando minhas mãos amarradas para trás. Senti a ponta de uma faca nas minhas costas, me fazendo ficar subitamente congelada.

—Vamos dar uma volta, que tal? —Ela murmurou, próxima ao meu ouvido. Fui empurrada para frente, em direção a porta. Harry estava sendo empurrado atrás de nós, com uma expressão furiosa no rosto.

A porta foi aberta na minha frente, pela mesma mulher que eu havia encontrado no estacionamento da editora. Fui puxava para fora pelas mãos dela. Tropecei, caindo de joelhos na grama cheia de folhas secas. Ergui os olhos, observando a floresta que se erguia ao nosso redor. Subi meus olhos para o céu noturno, soltando o ar com força quando o encontrei completamente pintado com estrelas.

Haviam constelações inteiras lá em cima, prontas para serem vistas por qualquer um que quisesse. Me maravilhei com a visão por alguns segundos, antes de ser puxada para cima com força. Olhei para Harry, vendo que ele observava cada reação minha, como se não quisesse perder absolutamente nada.

—Agora eu acredito em você. —Afirmei, vendo ele soltar um suspiro e abrir um sorriso fraco. Fui obrigada a voltar a andar, mas sem conseguir evitar de olhar para o céu de novo.

[...]

Eu estava em uma carruagem. Sim, uma carruagem de verdade, puxada por dois cavalos de pelagem negra. Meus olhos estavam atentos a fresta da cortina da pequena janela, observando as largas ruas de pedra, cheias de casas de madeira antiga e com pessoas andando de um lado para o outro. Não consegui assimilar tudo. Haviam pessoas de olhos violetas. Outros baixinhos como duendes. Seres de orelhas pontudas. E o mais comum, bruxas com olhos amarelos ou uma cor tão rara quanto.

Não sei ao certo pra onde estavam nos levando. Harry estava sentado na minha frente, em silêncio. Haviam três bruxas na carruagem junto com nós dois. Me remexi no banco, observando a ponte que se aproximava. A carruagem começou a passar por ela, e eu vi apenas uma estreita área de água, espelhando o céu estrelado da noite.

—Pra onde estamos indo? —Ousei perguntar, sentindo meu coração acelerado, martelando no meu peito.

—Convenção das bruxas. —O homem que estava ao lado de Harry murmurou, me fazendo franzir a testa. —Vamos nos reunir e decidir o que fazer com o principezinho aqui e com você.

—O que pretendem? —Harry girou a cabeça e olhou pra ele, arqueando as sobrancelhas. —Estão tão irritadas assim por eu ter entrado no seu território?

—Não somos bem vindas no seu, não é mesmo? —A mulher ao meu lado resmungou, quase rosnando. —E você acha justo entrar aqui e prender uma de nós?

—Vocês roubaram uma princesa. A levaram de sua casa apenas por pura maldade. —Harry lançou um olhar furioso a ela. —Acho que já perdeu o direito de se sentir ofendida, com o que quer que a realeza faça com vocês depois disso.

—Ah, e você acha que pode resolver essa situação, não é? Acha que pode trazê-la de volta? —Os três soltaram uma gargalhada juntos, me fazendo estremecer no banco. —Ela já deve estar morta uma hora dessas.

—Ou está vivendo no meio da lama e da sujeira.

—Pobre e infeliz.

—Quem sabe não é? —A bruxa ao meu lado abriu um sorriso lascivo. —Estamos ansiosas pra ver o que o futuro rei de Velará fará quando subir no trono. Ouvi dizer que ele não é tão generoso e calmo quanto os pais.

—Uma guerra seria um espetáculo e tanto, não? Poderíamos ver vocês se destruindo. —O homem ao lado de Harry completou. —E depois, quem sabe não teríamos o continente só pra nós, não é?

—Podem esquecer. —Harry afirmou, balançando a cabeça negativamente. —Vou encontrá-la e devolvê-la para o lugar que nunca deveria ter saído.

—Ah, vai? —Eles riram. —Espero que saiba onde ela está então. Porque nossa irmã, que você ficou tão interessado em encontrar, já está sendo devorada pela terra.

Meu sangue gelou e eu olhei para Harry, vendo ele engolir em seco, parecendo ficar subitamente sem palavras.

—Não teriam coragem. Não a matariam. —Ele rebateu. —Ela avisou vocês que eu estava aqui.

—E? —A bruxa arqueou as sobrancelhas. —Depois de ter contato coisas demais a você. É por isso que precisamos de você fora do alcance do continente. —Ela sorriu. —Vamos achar aquele mestiço nojento e trazê-lo para cá também, antes que faça algum estrago.

—Sabe o que eu acho? —O homem curvou a cabeça na direção de Harry. —Em quem vai cair a culpa do seu sumiço, agora que o príncipe de Velará está deixando claro seu grande apreço por vocês? —Ele soltou uma risadinha. —É apenas mais uma faísca no incêndio que está prestes a começar.

Harry encarou o vazio por alguns segundos, parecendo ficar pensativo. Estendi meu pé, tocando o dele e vendo-o erguer os olhos até mim. Queria dizer que ia ficar tudo bem. Mas nem eu tinha certeza sobre isso.

A carruagem parou e eu olhei para a fresta da janela de novo, encontrando uma grande construção de pedra, que parecia um castelo medieval.

—Vamos, querida. Estão ansiosos para conhecer você. —A mulher me puxou com força para fora da carruagem, me levando direto para dentro dos corredores escuros e úmidos daquela construção. Haviam tochas clareando todo o caminho, a medida que ela me guiava pelos corredores, com Harry e os outros dois atrás de nós.

Vozes altas preencheram o local, fazendo meu corpo estremecer em nervosismo. Chegamos a um corredor que acabava em grandes portas de madeira. Elas foram abertas assim que nos aproximando, me dando a visão do que havia atrás delas.



Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Where stories live. Discover now