Capítulo 35: Corte de Del Mar.

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Eu consegui evitar Harry na primeira noite, correndo para o quarto e me escondendo nele, como uma covarde, enquanto ele falava com os guardas, do lado de fora da pequena hospedaria. Quando ouvi seus passos no corredor, já estava enfiada embaixo das cobertas, torcendo para que ele não batesse na porta. E pra minha sorte, ele não fez isso.

Na manhã seguinte, demorei o mais tempo possível me arrumando, antes de descer para o café. Mas Harry, como o cavalheiro que aprendeu ser, estava me esperando quando enfim desci as escadas. Não deveria ficar surpresa, na verdade, já que ele era um príncipe. Mas ainda sim, me senti mal por tê-lo feito ficar esperando, apesar de ele não tocar no assunto em nenhum momento do café.

—Noah disse que existe algumas leis que proíbem as bruxas de ficarem andando pelos reinos. —Comentei, enquanto levava uma maçã até a boca e mordia, percebendo que Harry estava muito atento aos meus movimentos.

—Existe algumas sim. Elas ficam no seu território e nós no nosso. As bruxas que ainda vivem aqui, como Noah, tem autorização ou faz parte da corte de um dos reinos. —Comentou, levando a xícara de café até os lábios, enquanto ainda tinha os olhos em mim.

—Noah é da corte de Del Mar. —Murmurei, mesmo sendo óbvio.

—É, mas ele é mestiço, de qualquer forma. Mestiços podem perambular por onde quiserem, já que tem parte humana, mesmo que a parte bruxa se sobressaia. —Afirmou, enquanto eu sentia minhas bochechas corarem, antes de dar outra mordida na maçã, com os olhos dele super atentos.

Fiquei em silêncio, tentando comer e respirar fundo. Mas meu corpo inteiro estava em chamas e Harry parecia saber disso, já que a cada olhar, ele abria um sorriso com o canto dos lábios.

—Você fez isso de propósito. —Afirmei, constatando o óbvio.

—Não sei do que está falando. —Comentou, fingindo desinteresse. Meus dedos apertaram uns aos outros, enquanto eu encarava minha meia maçã.

—Você não me trouxe por causa de James. Fez porque queria isso. —Gesticulei entre nós dois, sentindo meu rosto pegar fogo quando o sorriso se alargou em seus lábios, apenas confirmando aquilo. —Você deveria parar.

—Por que? —Ele arqueou as sobrancelhas. —Por que minha mãe acha que você não é uma dama? Por que ela quer que eu me case com uma princesa? —Ele riu, negando com a cabeça. —Quem vai escolher sou eu, não ela. Então acho que posso continuar com isso, sim.

—Não, não pode. —Retruquei, sentindo minha respiração ficar pesada. —Isso não vai dar certo. Eu e você. Não vai dar certo.

—Por que você não quer? Ou por que está com medo? —Indagou, se curvando um pouco sobre a mesa para se aproximar de mim. Não respondi, o que o fez abrir ainda mais o sorriso. —Imaginei.

—Não estou com medo. Por que estaria com medo? —Soltei uma risada, vendo ele desdenhar da minha fala. —Você está sendo um grande presunçoso, sabia? Já passou pela sua cabeça que talvez eu só não queira?

—Hm, sim. Na verdade isso já passou bastante pela minha cabeça. —Ele tombou a cabeça de lado. —É por isso que está aqui. Porque estou começando a ficar louco. —Ele ficou de pé, circulando a mesa e ficando atrás de mim. A respiração ficou presa na minha garganta quando ele se curvou, ficando com o rosto ao lado do meu. —Você me olha como se quisesse que eu a beijasse, enquanto foge de mim ao mesmo tempo. Você, certamente, quer me deixar maluco.

—Harry... —Ele beijou minha bochecha, muito demoradamente.

—Termine seu café, Sophia. Estarei esperando lá fora. —Ele se levantou, caminhando lentamente. —Mas isso não significa que a conversa terminou.

—Isso é um tanto inadequado para um príncipe! —Afirmei, alto o suficiente pra ele ouvir, em uma onda de coragem que logo se dissipou, quando ele girou nos calcanhares, me encarando com um olhar cintilando diversão e maldade.

—Você acha? —Ele voltou até onde eu estava e eu me amaldiçoei por ter aberto a boca.

Harry parou ao meu lado, enquanto eu me colocava de pé para encara-lo. Agradeci por estarmos sozinhos ali, já que o casal que cuidava da hospedaria estava ocupado com os outros hóspedes.

—Sei fazer outras coisas inadequadas para um príncipe que te deixariam surpresa. —Afirmou, fazendo o sangue subir para o meu rosto e meus lábios se abrirem, soltando o ar com força, quando entendi o sentido duplo.

—Você também não deveria falar coisas assim pra mim. —Comentei, vendo ele ri baixinho.

—Você é adorável, sabia? —Ele tocou meu queixo, agora em encarando com carinho, me deixando ainda mais afetada com tudo aquilo. —Acho que deixá-la corada virou meu hábito favorito. Por enquanto.

—Por enquanto? —Soltei uma risada nervosa, vendo ele se aproximar e deixar um beijo na ponta do meu nariz.

—Beijar você com certeza vai ocupar esse lugar em breve. —Esclareceu, antes de se afastar e me deixar parada lá, da mesma forma que havia feito no dia anterior.

Não era Harry que estava enlouquecendo. Era eu.

[...]

Como resultado, continuei evitando Harry sempre que conseguia, com nossa viagem sendo resumida a pequenas frases trocadas, algumas provocações dele, que acabavam me deixando corada, além da minha graciosa fuga para o quarto na segunda noite, quando percebi que acabaria presa com ele na frente da porta do quarto, quando ele me lançou um olhar malicioso.

Mas pra minha sorte, ou talvez azar, nós dois finalmente chamou ao local que deveríamos encontrar James. Era uma pequena vila humana no meio do caminho. O movimento era pequeno, as pessoas se ocupavam em fazer reverências a Harry enquanto passávamos.

James estava nos esperando em uma hospedaria que ficava mais afastada da vila. Cercada de campos de tulipas e com a sombra de algumas montanhas e uma cachoeira no horizonte. Definitivamente, deveria ser uma bela vista a noite, quando as constelações estão pintando o céu.

—Deixe-me ajudá-la. —Harry pediu, colocando as mãos na minha cintura e me auxiliando a descer do cavalo.

Coisa que normalmente um dos guardas fazia, quando eu me mostrava ansiosa demais para estar no chão. Depois de três dias cavalgando, minhas pernas estavam doloridas e eu sentia meus músculos rígidos, de uma forma que me deixava tensa e desconfortável.

—Obrigada. —Murmurei, um pouco baixo, vendo ele me lançar aqueles sorrisos que eu sabia o que significava.

Mas minha atenção logo se voltou para a pequena construção de madeira de três andares que parecia um um chalé. Na imensa varanda que se abria na frente da hospedaria, havia um rapaz de cabelos castanhos escuros e olhos dourados, como os que eu estava acostumada a ver em Katie todos os dias.

—James. —Harry murmurou, acenando com a cabeça, quando o rapaz desceu os dois lances de escadas e deslizou pelo caminho de pedra até nós dois.

—Harry. —Ele acenou com a cabeça de volta, com uma expressão que deixava claro todo seu descontentamento. —Por alguns minutos, pensei que você não viria.

—Não costumo fugir de um bom diálogo com você. —Harry murmurou, com um tom de provocação no final, que fez o príncipe a sua frente pressionar os lábios em uma linha fina. —Tenho certeza que me chamou aqui pra falar da sua irmã.

—Ainda possui alguma dúvida? —Sibilou, com um ar duro. —Espero, pro bem do seu reino, que tenha algo bom a me dizer sobre ela.

—Sem ameaças, James. Vai desejar não ter feito elas quando ouvir o que temos a dizer. —Afirmou, fazendo o príncipe James trazer os olhos até mim, já que ele havia me ignorado, enquanto tentava demonstrar toda sua raiva por Harry.

—Vai dizer onde Ashley está? —Indagou, com um tom de voz totalmente diferente, parecendo não querer demonstrar tanta emoção, mas deixando as escapar mesmo assim, quando voltou a olhar pra Harry.

—Katie. —Corrigi, sentindo a mão de Harry segurar a minha. —O nome dela agora é Katie.


Continua...

A Dimensão Das Estrelas / Vol. 1Where stories live. Discover now