Capítulo 8

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O final de semana havia chegado e tudo era resumido ao primeiro passeio do ano com destino a Hogsmeade, nem mesmo o frio e as baixas temperaturas diminuíram os ânimos e a sensação de emoção. Tomei banho e vesti as peças quentes que trouxe na bagagem, o chão e árvores foram cobertos por camadas finas de neve.

Hogsmeade é o único vilarejo completo e inteiramente bruxo da Grã-Bretanha, ele foi fundado por Hengisto de Woodcroft. Os alunos têm permissão para visitar a aldeia em excursões nos finais de semana, mas somente alunos acima do terceiro ano e com a permissão do guardião legal.

A maioria dos estudantes frequenta a rua principal que abriga lojas e pubs famosos, como o Três Vassouras e também a Dedosdemel, ou simplesmente preferem observar a casa dos gritos. É uma pitoresca aldeia que fica próximo da estação de trem usada pelo expresso de Hogwarts.

- Terminou de se arrumar? - Questionou Anna sentada em sua cama.

- Sim, estou pronta - Respondi lançando a última olhada no espelho.

A imagem refletida foi de uma garota tímida e um pouco perdida, o frio excessivo trouxe uma leve e discreta coloração rosada nas bochechas. Amarrei o cachecol ao redor do pescoço e ajeitei o casaco pesado sobre o corpo, o calor aumentou e suspirei aliviada. Saímos do salão comunal e fomos andando e conversando até a entrada do Castelo, alguns alunos estava ali.

Cameron e Justin estavam afastados e reunidos com o time de quadribol, é provável e quase óbvio, que estejam elaborando novas táticas e estratégias de jogo. Olhei ao redor e identifiquei Severo Snape, o sonserino isolado de todos, inclusive por seus próprios colegas de casa. Ele tinha a expressão de indiferença e desdém, mas sei por experiência que a dor é angustiante.

- Volto em um minuto - Afirmei olhando para Anna, a garota franziu o cenho.

- Onde você vai? - Infagou e apontei para o lugar onde os sonserinos estavam reunidos - Porque, Jasmim? - Insistiu, preocupada.

- Eu posso convidar Severo para passar o dia com a gente? - Murmurei e seus olhos adquiriram resquícios de hesitação.

- Tem certeza de que é uma boa ideia? - Questionou e revirei os olhos.

- Por favor - Implorei e a lufana respirou e soube que ela havia cedido - Obrigada - Sorri e a abracei apertado.

Andei calmamente pelo lugar e desviei o percurso em determinados momentos, vi os olhares pouco discretos por parte dos sonserinos e também de outras casas, mas apenas ignorei. Foi intimidante andar no mar verde e prata, os cochichos foram imediatos e o meu rosto corou de vergonha, entretanto eu não pretendo desistir agora.

Toquei suavemente o ombro de Severo e o garoto pulou assustado e até mesmo um pouco surpreso com o contato, sorri radiante e seus olhos adquiriram indícios de confusão e curiosidade. Snape levantou a sobrancelha e permaneceu quieto, bufei exaspera e olhei o cenário ao redor, éramos o centro da atenção e alvo de especulações.

- Oi, Severo, como você está? - Indaguei e o silêncio continuou - Sempre tão simpático - Comentei sarcasticamente.

- O que você quer? - Questionou e vibrei animada ao receber uma resposta.

- Convidá-lo para passar o dia comigo e minha amiga - Respondi.

- Não, obrigada - Afirmou de imediato, ele sequer pensou na possibilidade.

- Porque? Eu prometo que será divertido - Insisti e ele apenas negou com a cabeça, o silêncio reinou - Por favor, Severo - Continuei e sua expressão continuou intacta.

- Não - Reafirmou com mais convicção e firmeza que antes.

Respirei fundo e lembrei das inúmeras e incontáveis vezes que afastei pessoas que só queriam amizade e o meu bem estar, foi complicado confiar na subita aproximação. Posso imaginar o quanto Snape está perdido e sofrendo em silêncio, mascarar a dor nunca é fácil, mas estou disposta a mostrar que sou digna de sua confiança.

- Eu respeito sua decisão e não pretendo insistir, mas quero que saiba que adoraria ter a sua amizade - Sorri gentilmente - É preciso coragem para se lançar no escuro, só aí vai descobrir o que tem do outro lado - Pisquei o olho e dei três passos para longe.

- Não faça com que eu me arrependa de tomar essa decisão, lufana - Anunciou e não contive o grito de empolgação.

Quebrei a distância que nos separava e o abracei apertado, senti a tensão e rigidez de seus músculos, forte indício de que ele não é acostumado a contato físico. Peguei sua mão e praticamente arrastei o garoto para a área cheia de lufanos, por incrível que pareça Anna e os demais sorriam de forma amistosa para o sonserino. Os apresentei formalmente e os dois tentaram interagir entre si.

- Não conseguiu fugir, não é? - Zombou e apontou para mim, franzi o cenho ultrajada e incrédula.

- É impossível fugir de suas garras, ela é teimosa e insistente - Afirmou e Anna sorriu e concordou.

- Vocês sabem que eu ainda estou aqui, certo? - Questionei de forma retórica.

As primeiras carruagens foram vistas e a imagem foi impressionante, elas possuem a cor preta com lanternas na frente, mas não vi animais, elas pareciam se mover sozinhas ou através de feitiços e encantamentos. Ficamos ao relento e aguardamos pela próxima leva de carruagens, minhas mãos estavam vermelhas e um pouco dormentes por causa do frio e do vento congelante.

- Eu não quero mais ir - Choraminguei e a dupla me olhou com expressões divertidas e provocativas.

- Frio demais para você? - Desdenhou o sonserino, Snape sorriu pela primeira vez.

- Está tão na cara assim? - Pulei no lugar e esfreguei os braços, irritada por não trazer o par de luvas - Merlim, eu quero sol - Implorei e Anna e Snape sorriram.

Lilian, Peter, Sirius, Remus e James se aproximaram de nós e senti o clima ficar mais tenso e intoxicante, Severo parou de sorrir e a postura ficou rígida. Anna instintivamente foi a primeira a reagir e se colocou ao lado dele e olhou como se pedisse para fazer o mesmo, o que obedeci no mesmo instante, as mãos do sonserino tremiam e segurei uma delas, o que atraiu a atenção do garoto.

- Bom dia - Desejei torcendo para ser o suficiente para diminuir a tensão.

- Desde quando é amiga do ranhoso? - A pergunta veio de Sirius.

- Desculpe, eu não entendi - Respondi e o aperto em minha mão aumentou.

- Não contou a ela, Snape? - Zombou e o sonserino ameaçou tirar a varinha do bolso de sua calça, mas o impedi.

Ouvi rumores de que os marotos tinham uma rixa antiga com Severo, porém imaginei e torci para que fossem apenas histórias, mas a verdade pode ser outra. A expressão no rosto de Snape foi devastadora, Cameron e Justin contaram histórias de brincadeiras cruéis e o nível de constrangimento proporcionado pelo grupo de grifanos. O sonserino chegou a ficar desacordado por dias na enfermaria, e sem a companhia de colegas ou amigos, ele ficou o tempo todo sozinho.

- Eu sou grata pelo cuidado que tiveram comigo quando cheguei, mas não vou aceitar que tratem o meu amigo assim - Comentei e o rosto de Anna indicou que ela concorda com a minha fala.

- Você ficou sabendo, não é? São apenas brincadeiras, Jasmim - James tentou defender e justificar o que ele e seus amigos fazem.

- Não é apenas uma brincadeira para quem está sofrendo, eu sei qual a sensação e não é engraçado - Afirmei e seus olhos focaram no chão - A razão da sua risada é o motivo de choro de outra pessoa - Agradeci pela carruagem ter se aproximado.

Anna, Severo e eu entramos e ela logo partiu, lembranças dolorosas invadiram meus pensamentos e os mandei para longe, hoje é o dia de aproveitar a companhia um do outro e criar novos laços de amizade. Olhei para o único bruxo no lugar e ele sorriu agradecido, o brilho discreto e quase imperceptível em seus olhos foi o suficiente para trazer a sensação de euforia e empolgação novamente.

- Obrigado - Murmurou constrangido e o rubor em suas bochechas foi adorável.

- Somos amigos, você por mim e eu por você, é assim que funciona - Afirmei e a outra lufana riu.

- A cobra passou alguns minutos com a gente e foi domesticada, eu nunca ouvi Snape agradecendo por algo - Brincou Anna e isso bastou para tornar a atmosfera tranquila e calma de novo.

- Calada, texugo maldito - Severo rosnou e não contive a risada.

- Sempre tão simpático - Zombei e nem o garoto conseguiu segurar o riso - Vejo uma grande amizade nascendo - Afirmei olhando o rosto de cada um deles.

Atração Imediata - James PotterOnde as histórias ganham vida. Descobre agora