O primogênito

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Ana

Adam? Quem é Adam? Pelo visto ele era uma figura bastante importante, já que Tracy começou a chorar automaticamente com a fala do filho e Albert abaixou o olhar.

- Confesse! Seja homem e assuma que se você pudesse escolher quem iria morrer naquele dia você me escolheria.

- Thomas, por favor... - Tracy tenta falar, mas é interrompida.

- Adam sempre foi seu filho preferido, não é? O primogênito perfeito que tinha um futuro brilhante, ele sim podia escolher o futuro que quisesse...

- Thomas, não mencione o seu irmão assim - Foi tudo que Albert falou

As peças estavam se encaixando aos poucos, Thomas tinha um irmão, mas ele faleceu.

- Acabei de me recordar de que quando Adam pediu para nos colocar na aula de canto, você adorou a ideia, falou que amaria ter um filho artista - Thomas começou a rir, porém dava para perceber o seu semblante de melancolia - acho que agora finalmente entendi a sua implicância com a minha carreira, ser cantor também era o sonho de Adam, não era? Por não ele não ter conseguido eu também não posso, é isso? Você acha que eu estou o copiando, papai? 

- Thomas, não seja baixo, você sabe que quero que você comande a nossa empresa.

- Foi para isso que vocês tiveram outro filho? Apenas para que a empresa nunca perca nosso sangue?

- Claro que não, nós sempre amamos vocês dois igualmente - Tracy falava enquanto tentava conter as lágrimas.

- Não seja ingênua, mãe. Quando Albert ouviu a causa da morte de Adam o seu tratamento comigo piorou drasticamente - Thomas se voltou para o pai - Você fez um garoto de 12 anos desejar a própria morte, eu suplicava a Deus que pudesse trocar de lugar com o meu irmão, pois você me fez sentir culpado, você fez com que eu pensasse que não merecia estar vivo.

Eu estava horrorizada com o que ouvia e o silêncio de Albert me horrorizava mais ainda. Cansado de esperar uma reação, Thomas saiu correndo da sala enquanto tentava conter as suas lágrimas.

Dei uma última olhada em Tracy que chorava e encarei Albert, o mesmo estava de cabeça baixa e estático. Resolvo, então, ir atrás de Thomas.

Eu não vi para onde ele tinha ido, mas tenho uma forte suspeita. O encontro chorando no telhado, porém quando percebe minha presença começa a secar as lágrimas rapidamente.

- Ana, eu preciso ficar sozinho.

- É só fingir que eu não estou aqui - falo.

Ele se deitou e eu fiz o mesmo. Ficamos assim, calados, por longos 5 minutos.

- Por que você veio atrás de mim? - perguntou quebrando o silêncio.

- Por que não vir?

- Se o seu objetivo é tentar bancar a psicóloga só porque fez alguns semestres na faculdade pode ir embora.

- Eu vim porque quis, e se você acha que vai conseguir me expulsar sendo grosso você está muito enganado - ele pareceu surpreso com minha resposta, pude perceber isso quando o vi direcionar o olhar para mim.

- Onde está a Julieta?

- Ela sabe se cuidar, por que não falamos sobre você? - Thomas deu um longo suspiro me deixando sem esperanças de poder ajudá-lo.

Quando já estava pensando em voltar para dentro ele finalmente abriu a boca.

- Adam tinha 14, eu 12. Estávamos jogando bola na calçada e uma babá estava cuidando da gente, ou deveria estar - ele não desviava os olhos do céu enquanto falava - a bola acabou caindo na rua e eu fui buscar - ele deu uma pausa, parecia estar criando coragem para continuar - a babá não tirava os olhos do celular, então não viu o carro em alta velocidade vindo em minha direção, Adam foi o único que percebeu...

Me aproximei de Thomas afim de segurar sua mão, o mesmo não recuou.

- Adam se jogou na frente do carro e me empurrou, ele devia ter feito o mesmo que você fez com Julieta... mas para um garoto de 14 anos que só pensava em salvar o irmão, se jogar junto comigo não passou pela sua cabeça.

- Sinto muito, Thomas - falo apertando a mão dele.

- O que mais me doeu foi ver o meu pai olhar para mim com uma expressão de desprezo após ouvir o que aconteceu.

- Thomas, por que você guardou isso tu para si? Você nunca teve culpa e nunca vai ter, só ouveram dois irresponsáveis na história e você sabe que não é um deles.

- Eu sei que não, mas todos quando me viam só falavam "por pouco não foi você", "você deve ser eternamente grato ao seu irmão", "Adam era um bom menino, coitado". Só a Maria percebeu o quão perturbado eu fiquei e sugeriu a Tracy que me levasse a um psicólogo, que foi o que ela fez.

- Como você se sentiu?

- Como assim?

- O que você sentiu quando entendeu que seu irmão tinha morrido?

Thomas ficou uns segundos processando minha pergunta.

O Irmão Mais VelhoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora