trinta e três

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Dor

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Dor. Esse é o único sentimento que eu conheço nesse momento. É um sentimento lancinante que se alastra pelo meu peito e atinge diretamente o coração. É tão torturante que, depois de um tempo, se torna anestésico. 

Derramei muitas lágrimas durante o caminho, e elas continuam caindo até eu chegar em casa. Não encontro ninguém pelo caminho até o meu quarto, e isso é um alívio. 

Eu apenas me arrasto para a cama e deito sobre o colchão em posição fetal, abraçando os joelhos. Meu choro é silencioso, e por isso o sofrimento se torna mil vezes mais arrebatador. Não quero chamar atenção; preciso desse momento a sós. Não sei quanto tempo passo ali chorando, sofrendo, mas é tempo suficiente para minhas lágrimas secarem e restar apenas um olhar vazio moldando o meu rosto e uma sensação de abismo no peito, com a dor latejante localizada em apenas um ponto: o coração. 

Sinto-me idiota. Burra. Completamente imbecil. Eu acreditava que Ryan sentia algo por mim, que todos aqueles nossos momentos juntos, os segredos compartilhados, tinham significado alguma coisa. Mas pelo visto, ele estava apenas brincando comigo todo esse tempo. No início era sim apenas um relacionamento casual, só sexo, mas ele me fez acreditar que podíamos ser algo mais e depois me apunhalou pelas costas. Eu o defendi perante tudo e todos, fui contra a minha mãe e desafiei os avisos do meu irmão, e para quê? Apenas quebrei a cara e provei que todos estavam certos, e a única errada da história fui eu. 

Então, eu amaldiçoo Ryan Blossom. Eu o odeio por me fazer gostar dele tanto assim e depois jogar os meus sentimentos no lixo. Pior do que isso: eu me odeio. Fui tola, ingênua, e no fundo sei que mereço esse castigo. Talvez seja a ira de Deus que está recaindo sobre mim. Seja qual for o castigo, eu aceito. 

Tento expulsar Ryan da minha mente, mas não consigo. Toda vez que tento odiá-lo, lembro daquele sorriso bonito e enigmático que ele reservava só para mim. Lembro-me dos momentos carinhosos, das noites de sexo cheio de fúria, e das confissões meio desajeitadas. Também me recordo do calor dos seus braços, de como nossos corpos pareciam se encaixar perfeitamente e de como eu me sentia em casa sempre que ele estava por perto. Mas não agora. Agora eu me sinto uma sem-teto, abandonada na rua fria, tendo de suportar a chuva e a escuridão. 

Ryan me destruiu. 

E temo nunca mais ser a mesma. 

— Querida? 

Sou obrigada a interromper o choro — o qual eu não tinha percebido que tinha recomeçado — quando ouço o timbre de preocupação da minha mãe. 

— Está tudo bem? — pergunta ela. 

Não, não está nada bem. Mas ela é a última pessoa com quem quero discutir isso. 

— Está. — Minha voz sai rouca e carregada de mágoa. Eu nunca fui boa em esconder o que sinto. 

— Você estava chorando, Jade — toma a liberdade de entrar no quarto. — Aconteceu alguma coisa? 

Permaneço com os olhos desfocados. 

— Quero ficar sozinha — suplico, segurando o choro. 

— Não vou sair daqui até você me dizer o que está acontecendo — o barulho dos seus sapatos estão próximos. — O que aconteceu? 

Você aconteceu! Tudo estava muito bem até você aparecer e estragar tudo! Isso tudo é culpa sua! 

— Só… me deixa sozinha. 

Seguro as lágrimas o máximo que eu consigo, mas chega um momento que simplesmente não dá mais, e a barreira dentro de mim se rompe. Escondo o rosto nos lençóis, porque não quero que ela veja isso, mas o zumbido que escapa por entre meus lábios é inevitável. Dói tanto… tudo dentro de mim está quebrado, e meu coração parece inchado, prestes a explodir. 

Sinto o colchão afundar quando mamãe senta nele e sua mão faz um leve carinho em meu braço. De alguma forma, minha cabeça foi parar no colo dela, e agora ela está acariciando meu cabelo como um sinal de conforto. 

— Ah, meu amor, não chora… — diz ela suavemente. — Não quero te ver assim tão triste. Seja lá o que estiver te incomodando, vai passar. 

Eu não quero que a verdade seja esfregada na minha cara — já estou sofrendo demais —, mas preciso urgentemente de alguém com quem eu possa desabafar. Minha mãe não é a melhor pessoa para isso, mas neste momento é a única pessoa que tenho. Se eu continuar guardando esse sentimento, vou acabar morrendo de tanta tristeza. 

— A senhora tinha razão — desabafo entre o choro. — O Ryan não é o cara certo para mim. 

Ela não diz nada por um tempo. 

— O que ele fez? — Sua voz é sombria. 

— Ele me usou — replico. — E depois me descartou feito lixo. 

— Ah, meu amor… — ela passa a mão pelo meu cabelo. — Ele não te merece. Por favor, não chore. 

— Não consigo parar — admito. — Estou muito magoada, mãe. Eu… eu o amo. 

Sinto os músculos das suas pernas ficarem rijos contra minha bochecha, como se uma corrente de tensão tivesse passado sobre elas. 

— Não ama, não — ela soa firme. — Você apenas está confusa. Tudo isso que você está sentindo é algo totalmente novo, então é normal se sentir um pouco perdida. Você está transformando isso em algo maior do que realmente é. 

Suas últimas palavras são como um soco no estômago. Ryan me disse a mesma coisa. 

— Você não entende — sussurro. 

— Eu entendo completamente, meu amor — não há julgamento na voz dela. — Você cometeu um erro, e isso é normal. Às vezes precisamos quebrar a cara para enxergar o nosso caminho mais nitidamente. Esqueça esse rapaz. Ele não merece suas lágrimas nem sua dor. 

— Eu não quero mais ficar aqui — choro. — Não quero dar de cara com ele na faculdade nem trabalhar tão perto dele. Não quero passear por essas ruas e lembrar de quando ele apenas dirigia por aí comigo sentada ao lado. Isso vai me matar, mamãe. 

— Então volte comigo para casa — incita ela. — Podemos fazer isso amanhã mesmo. Não tem nada para você nesta cidade, minha querida. 

Talvez ela tenha razão. 

— Talvez eu… 

— O quê? — desafia ela. — Você quer falar com aquele rapaz novamente? Implorar por amor e atenção? — Faz uma pausa, esperando uma resposta, mas eu não digo nada. — Ninguém merece passar por tal humilhação, Jade. Amor não é algo que se implora. 

Meu coração despenca até o estômago. A que ponto eu cheguei? Eu seria mesmo capaz de implorar a Ryan por um pouco de amor? Talvez não chegasse a tanto… mas as coisas aconteceram tão rápido. Eu só queria poder olhar nos olhos dele uma última vez e ouvir com toda clareza do mundo que ele não gosta de mim nem um tiquinho. Talvez isso ajudasse a apagar a chama de esperança que permanece acesa no meu peito. 

Sou tão idiota. 

— Aqui não é sua casa, meu amor, e no fundo você sabe disso — sua voz torna a ficar suave. — Sei que podemos superar essa fase ruim, que podemos recuperar o tempo perdido. Um tempo longe vai te ajudar a clarear os pensamentos e você vai saber que voltar para a Igreja é o caminho certo a se seguir. 

A raiva dentro de mim esfria a ponto de tudo ficar gelado como o próprio Alasca. As lágrimas secam, restando apenas um profundo sentimento de amargura. 

Entro no modo automático. 

Eu já deixei tudo para trás uma vez. Posso fazer isso novamente. 

Indecente • COMPLETO Where stories live. Discover now