Capítulo 3 - Um homem solitário

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Instigada a continuar sua vigia durante a madrugada, a detetive memorizou com atenção os barulhos e sensações a sua volta. Tanta concentração exigia um esgotamento ainda mais rápido da sua atividade mental e, consequentemente, de seu corpo.

Um breve minuto de silêncio durante a alvorada foi o suficiente para que Vanessa fechasse os olhos por um período mais longo de tempo. No entanto, o dia seguinte não estava tão distante quanto imaginava.

Pontualmente quando o sol despontou no horizonte, Aaron despertou e seus passos pesados pela casa causaram um barulho assustador. O ranger dos pisos de madeira impediu que qualquer um dos viajantes voltasse a dormir, embora o clima estivesse perfeito para tal programação.

— Podemos conversar? – Vanessa perguntou ressabiada no momento em que o lenhador colocou os pés na sala. Tratar de trabalho logo pela manhã não era adequado, mas ela não parecia se importar.

— Claro, enquanto eu preparo o desjejum.– O sorriso cordial do lenhador foi respondido com um olhar de desconfiança.

"É humanamente impossível acordar de bom humor nesse frio!", ela pensava enquanto saía das cobertas quentinhas e o seguia em direção ao que parecia ser a cozinha, separada da sala apenas pelo grande balcão de madeira.

— Eu imagino que vocês tomem café com coisas mais chiques, mas aqui temos o costume de nos alimentarmos com o que mantém nosso corpo satisfeito por mais tempo. — Aaron comentou, enquanto tirava do armário um grande pacote de batatas cruas.– Eu não sou muito bom com visitas, espero que não achem meu pão tão ruim.

Ao ver o olhar da detetive sobre si, o loiro automaticamente ajeitou sua postura, a encarando como se esperasse sua palavra.

— Seu chalé não é de todo mal...para um homem solitário. – Vanessa iniciou a conversa acreditando estar fazendo um elogio ao anfitrião, mas seu comentário não saiu tão sutil quanto planejava.

Mesmo com a falta de sensibilidade da detetive, Aaron não pareceu ofendido, mas sim surpreso. Considerando o tratamento indiferente da noite anterior, foi prudente acreditar que seria ignorado até o final da estadia.

— Não tive tempo para planejar a viagem e as despesas irão aumentar consideravelmente com o conserto do avião. Como você é um morador, imagino que conheça alguma estadia mais barata que um hotel...

Aquela havia sido a única solução encontrada pela detetive para contornar a situação desastrosa que havia arrastado seus amigos. No entanto, suas expectativas caíram ao analisar a reação do loiro.

— Você definitivamente não conhece Odda, não é?– Um pequeno sorriso surgiu nos lábios do homem, enquanto ele cortava as batatas de forma ágil.– As pessoas aqui costumam ir para a cidade ao lado pra se hospedar, a diária aqui é um absurdo. Por ser tão pequena também não temos tantas opções assim.

Aaron acendeu o fogão, colocando as batatas no fogo e começando a preparar outras partes da refeição. O barulho da lareira crepitando ainda era possível de se ouvir ao fundo, mas agora também haviam pássaros cantando ao redor da casa.

— Podemos procurar algum lugar na cidade, e talvez explicando possamos conseguir um preço mais justo.– Ele começou a sovar a massa do pão,  parecia mais contente fazendo aquilo.– Mas enquanto não conseguem quartos, podem se hospedar aqui. Não é muito espaçoso, mas é aconchegante.

Logo após suas palavras, Colocou a massa no forno, e se voltou em direção a detetive que ainda o encarava com desconfiança.

— Podemos estabelecer um preço mínimo pra isso, ou podem me ajudar com as tarefas do chalé.– Aaron comentou com um sorrisinho, se voltando para o bule de água no fogão.– Podemos pegar a bagagem no avião depois do café da manhã.

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