Capítulo 2 - O abominável homem das neves

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— Tem alguém aí?– Uma voz tenebrosa soou, mais fria do que aquela noite, grossa como um rosnado.– Estão vivos?

— Você é humano?– Khalan perguntou, mesmo não enxergando um palmo à sua frente. E como sempre, levou uma bela cotovelada da piloto ao seu lado.

— Eu vi o sinalizador, vou ajudá-los a sair daí.– Mesmo sem enxergar muito, Vanessa pôde perceber a silhueta de uma mão se estendendo para ela.– A temperatura vai continuar caindo e esse avião não vai isolar vocês da tempestade.

— Por que está oferecendo ajuda a desconhecidos? – Vanessa questionou cerrando os punhos como mecanismo de defesa. Sua postura se tornou agressiva em uma fração de segundos.

Percebendo o rumo que aquele diálogo poderia tomar, os outros dois tripulantes tomaram a frente dividindo a pouca luz que iluminava a cabine. Quando se tratava de habilidades sociais a detetive se tornava a menos indicada para o trabalho.

— Obrigado por vir. – Khalan agradeceu cerrando levemente os olhos em uma tentativa inútil de encarar diretamente o dono da respiração pesada em sua frente. – Pode nos ajudar a chegar até a cidade?

Parecia um pedido simples, mas a sugestão não agradou nada o homem que os observava pela saída de emergência. Seu silêncio em meio a resposta foi o suficiente para causar um estranhamento súbito entre o grupo.

— Não é seguro atravessar a floresta durante o crepúsculo. – Havia um medo disfarçado presente na voz rouca e a detetive pareceu ser a única a entender aquele dialeto. – E vocês aterrisaram longe demais para conseguir chegar em uma caminhada...

— Tem algum lugar perto que possamos passar a noite? O avião não é muito seguro, e também não é quente o suficiente.– Com um tom preocupado, Willow tomou a frente. Após um longo tempo tendo que lidar com diferentes pessoas, ela já sabia como estadia era difícil o suficiente àquela hora da noite.

— Tem um chalé aqui perto, mas preciso tirar vocês daí antes.– O homem comentou, agora se apoiando na borda da porta para ter força o suficiente.

Sem cerimônia alguma, Khalan estendeu a mão, segurando na do homem misterioso, e com um pouco de esforço conseguiu sair pela porta. Willow foi a segunda, sendo puxada pelo tailandês que a segurou com força para que não caísse.

Por último, Vanessa ainda tinha um olhar desconfiado e uma postura nada amigável, mas sabendo que não teria outra escolha, ela optou por aceitar a ajuda. Mesmo que fosse escuro o suficiente para que ninguém visse seu rosto, todos presentes sentiram o estranhamento da detetive.

— Vamos nos apressar antes que outra tempestade acabe chegando.– Com a voz grave e marcante, o homem de antes estendeu a mão para o machado que estava cravado na lataria do avião, e somente naquele momento todos perceberam que ele havia aberto a porta com machadadas precisas.– Não vamos demorar a chegar, fica atrás da colina.

Trincando os dentes para engolir o orgulho, a detetive concordou em seguir o morador local. Suas chances de conseguir se livrar daquela situação sozinha eram insignificantes e seu instinto de sobrevivência a obrigou a tomar a decisão.

Havia uma imensidão de neve os aguardando do lado de fora, toda aquela paisagem desconhecida se tornava assustadora aos olhos dos três viajantes, superando a experiência em queda livre vivenciada anteriormente.

— Deve ter sido um susto e tanto. – O morador misterioso comentou tomando a frente, acoplando o grande machado em suas costas, uma ferramenta pesada que o mesmo carregava sem esforço. – Tiveram uma sorte calculada para conseguir pousar...

Enquanto o grupo se movia lentamente, Vanessa se distraiu observando a paisagem que os cercavam. As pegadas eram marcados no chão por conta da densa camada de neve, mas sumiam logo após alguns passos.

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