Uma Conversa De Irmão

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Reunião da grande gangue Manji do Japão, um dia depois de eu sair do hospital e já estar pronta pra outra.

A coisa já começou boa com os roncos deliciosos e barulhentos dos motores das motos que os membros chegaram no estacionamento do templo, o clima familiar das pessoas que simplesmente se gostavam por gostas, a música esquisita que tocava e as pequenas brigas ocasionais que eram resolvidas na gargalhada ou na porrada.

Euzinha mesmo estava escondida, disse pro meu querido comandante que não tava muito bem pra ir na reunião, ele insistiu bastante mas eu resisti bravamente a aquele melodrama que o Mikey sabe muito bem fazer.

Quando estavam todos em fila e os capitães estavam junto com Draken e Mikey, eu entrei do melhor jeito possível.

— Ado Ado Ado! — grito, fazendo todos os olhares possíveis e imagináveis de virarem na minha direção automaticamente — Quem olhar pra mim é viado

Eu cai na gargalhada com as caras deles, o Mikey colocou a mão no rosto e acabou rindo, eu não entendi... Mas o semblante dele parecia meio chateado antes.

— Essa é a melhor gangue de tokyo? — ponho minhas mãos na cintura enquanto caminho entre os membros que já tinham aberto espaço — porra, tem que melhorar a tática

Dou uma boa risada e me sento do lado de Mikey ao chegar, dando um beijo com bastante vontade nos lábios do meu loirinho na frente de todo mundo, fazendo eles darem uns gritinhos de comemoração.

Foi uma reunião das mais simples, era só pro Mikey falar de uma gangue pequena que estava enchendo o saco ultimamente, foi bem descontraída inclusive.

— Kenzinho — eu ouvi o Mikey falar baixo com o Draken enquanto a gangue descia pro estacionamento — Eu to meio afim de... Conversar com o meu irmão essa noite

Ele parecia realmente desanimado, eu sabia que isso tinha alguma coisa a ver com o Mikey andar de moto... Sempre pensei que ele iria até um lugar determinado.

— Quer que eu vá com você, cara? — eu senti o tom na voz do Draken, ele tá com um pressentimento ruim

— Não, relaxa, aproveita e vai aceitar as coisas com a patroa — Mikey estala o próprio ombro, eu não entendi bem essa conversa — o Baji cuida da galera por hoje

Mikey sorri, nas nem eu nem Draken estávamos convencidos de que isso era um bom sinal.

— Olha lá hein, Mikey — Draken rosna... Esse olhar dele era meio assustador pra mim — se tu fizer merda eu te acho até no inferno

O gigante da um tapinha no ombro do Manjiro, se afastando logo em seguida

— Você é uma péssima espiã, sabia? — Mikey fala sorrindo e se vira para o lugar de onde eu estava ouvindo — o seu cabelo azul é bem fácil de ver.

— Eu não estaca espionando — falei erguendo meu dedo indicador enquanto caminho até o meu baixinho (ninguém liga que são só uns centímetros de diferença! Eu sou mais alta, chupa) — eu estava ouvindo na cara dura

Rio fraco e ele pega minha mão repentinamente.

— Pelo menos isso você admite — ele sorri tranquilo, enquanto não para de alisar o dorso da minha mão com seu dedo polegar — vem dar uma volta comigo?

O pedido dele veio acompanhado de uma leve tremida em sua mão, eu duvido que isso seja proposital.

— Vamo nessa então — vou guiando ele até o estacionamento de onde saímos de fininho... O máximo que dava com as nossas motos.

As luzes frenéticas de tokyo eram ainda mais lindas na alta velocidade, a adrenalina e ao mesmo tempo a paz que isso proporcionava era surreal. A mistura das músicas a cada esquina com as cores diferentes... Tudo me fazia bem.

Eu não sei se isso rolava pro Mikey, mas quando ousei olhar pra ele em um trecho do nosso percurso sem rota definida, percebi uma perolada lágrimas escorrer de um dos olhos de Mikey, refletir o néon das luzes intensas na nossa frente e em seguida voar pra longe pela força do vento que golpeava o rosto dele com força.

Fomos parar em uma estrada que dava pra um parque florestal, subindo um monte, Mikey decidiu parar em um mirante que parecia improvisado. Parei logo atrás dele.

— Eu te fiz ir meio longe — o loiro fala com os olhos perdidos no horizonte, percebi que ele não estava nem perto de olhar para as estrelas ou para as árvores por perto, e sim nas luzes distantes da cidade... Parecendo almejar loucamente aquele caos néon de onde acabou de sair a poucos minutos — foi mal.

As palavras pareciam meio vazias, ele só tava perdido.

— O que tá rolando? — pergunto diretamente, não tendo muita certeza se deveria ter perguntado... Mas é muito melhor do que simplesmente ficar no mistério.

— Hoje era pra ser o aniversário do meu irmão — dizer isso não trouxe ele de volta pra terra, mas fez ele se perder em algo além dos carros, motos e luzes da cidade — E hoje mesmo eu tive a notícia de que a pessoa que matou ele saiu do reformatório.

Então a expressão chateada era por isso... Foi por isso que ele insistiu tanto pra ficar comigo o dia inteiro, ele estava chateado.

— Desculpa, Mikey... — olho pro chão, bem culpada — eu... Não sabia.

Olho para o loiro, ele estava de costas pra mim, mas nesse momento se virou e me olhou sorrindo.

— Não se desculpa, você me aturou no telefone o dia inteiro — o vento bagunça seus cabelos, uma corrente que pareceu vir de baixo pra cima — inclusive acho que vou ter que pagar a fatura do seu celular esse mês de tanto que eu te liguei.

Eu realmente devo ter passado umas seis horas conversando qualquer coisa com ele no telefone.

— Não exagera — Sorrio levemente, ainda culpada — é legal conversar com você por bastante tempo.

Ando até ele, queria abraçá-lo.

— você me salvou de ficar chorando pelos cantos hoje — seu suspiro era pesado e cansado, como o de uma pessoa que estava chegando ao seu limite mental, próximo demais de um burnout.

— Vem aqui, sapinho — abro meus braços e o aconchego entre eles, em cinco segundos não obtive reação nenhuma dele, mas não o soltei... Isso foi compensado quando senti as mãos dele em minhas costas, ele desabou.

Foi estranho vê-lo chorar copiosamente surrurando coisas que nem pareciam ser sua própria voz, problemas que nem pareciam ser dele.

Depois que ele descarregou isso, meu uniforme da gangue estava levemente molhado na parte do colo, pude ver seu rostinho avermelhado nas partes dos olhos, do nariz e da boca... Ele sorriu pra mim enquanto secava seu rosto.

— Você definitivamente merecia uma companhia melhor pra um sábado a noite — o loiro ri e joga a cabeça pra trás, o vento não parava de soprar violentamente por aqui.

Depois disso, Manjiro se sentou do meu lado no chão perto das nossas motos, lá o Mikey me contou coisas sobre o irmão, eu passei a gostar bastante do Shinichiro através das memórias do Mikey, ouvi coisas com tanta riqueza de detalhes que podia assistir o momento... Principalmente do Mikey falando sobre os vinte foras que o irmão dele levou.

Na hora de voltar, Mikey me pediu pra que eu fosse na moto dele, o que eu não acreditei de primeira, mas eu aceitei... Talvez Mikey quisesse compartilhar comigo uma sensação especial pra ele.

Enquanto voltamos pra cidade, eu corri a toda naquela moto, ela era bem menos pesada que a minha, mas era resistente de verdade pelo que dava pra perceber.





É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Onde histórias criam vida. Descubra agora