Sozinha.

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Eu tô sozinha.

Mais que porra!

Eu tô sozinha depois de tudo que rolou, tudo que eu fiz pra ajudar alguém que eu tinha certeza que a gente se amava!

Eu tô sozinha e com frio.

Tá, eu tô pensando nessas merdas enquanto volto pra casa sozinha depois de terminar tudo com o Mikey. Ele não disse nada e só foi embora.

Ele é um covarde. No momento, eu só odeio aquela carinha fofa e olhos azuis quase metálicos.

O meu trato com o cabelo tá uma merda então a água do mar piorou tudo, ele tá pingando gotas azuis da tinta desbotada do meu cabelo.

Eu ainda gosto de azul?
Eu sinto raiva do mar, pra piorar, parece que vai chover. Que nem em um quadrinho KABOM. Um raio e a chuva desaba na minha cabeça

— Isso podia ser mais ridículo? — Resmungo com raiva, chutando um montinho de folhas inofensivas na raiva ridícula.

— Olha... Você podia ter se humilhado mais um pouquinho, esse não é nem o pior dos cenários — a voz estranha interrompe o meu sofrimento com a música triste de Naruto tocando de fundo.

Eu nem posso mais sofrer nessa história?

Enfim, quem tava falando comigo era um cara magrelo de camisa branca e calça jeans surrada. Ele parecia estranho com a chuva batendo em seu cabelo escuro e escorrido.

— Mano, sua cabeça tá sangrando — foi a primeira coisa que eu reparei quando ele levantou a cabeça, tinha uma puta marca vermelha de sangue fresco na cabeça dele... Pingando

— Relaxa, isso já faz bastante tempo, tempo demais — ele suspira... Pera? Esse cara tá fumando na chuva? — tá na hora de parar de voltar.

Ele me deixou confusa de verdade. Como ele sabe que eu posso voltar? Quem é esse cara com o rosto machucado?

— Que porra você tá falando? — eu perguntei já armando um soco. Depois de tudo que eu passei, eu espero que um tiro ou uma porrada possa vir de qualquer lugar. Mesmo que aqui nem carros estejam passando...

Isso é bizarro. Nem um carro. Só chuva, era o que eu podia ouvir.

— Então... Você salvou todo mundo, inclusive, salvou quem me importa... Mas... Você não tá se salvando — ele dá um trago no cigarro e a fumaça sai independente das gotas de chuva caindo muito ferozes — você tá morrendo.

Oi?

— QUE? TÁ ME TIRANDO, SEU COMÉDIA IDIOTA?— eu fui pra cima dele, eu ia descer a porrada nesse filho da puta quando ele bem calminho aponta com a mão do cigarro lá pra trás de onde eu vim.

Eu olhei meio por instinto, a minha vista demorou pra focar em alguma coisa descente naquele monte de água, tinha alguém caída no chão antes daquele monte de folhas que eu falhei em chutar... Umas poças difusas de azul e vermelho escarlate dançavam na água e formavam um roxo macabro.

— Eh... Pois é — a imagem estranha parece remontar um rosto, um rosto até bem bonito e familiar. Só assim eu percebo quanto aquele rosto que eu vi de primeira era tão fudido e deformado de verdade — cair daquele jeito ridículo não te mataria, é claro, mas ter caído e desmaiado bem onde se forma uma poça é um puta azar.

— Tá dizendo que eu vou morrer afogada numa poça? — NEM FODENDO.

— opa, calma aí — o cara bizarro segura o meu ombro, ele é tão fraco. — eu acho que o Mikey te contou de mim.

Ele dá uma risadinha. Eu entendi...

— Eu vou mesmo...? — a minha voz simplesmente morre vendo aquela cena ridículo minha apagada enquanto a poça vai enchendo rápido.

— Eu não sei... Vamos esperar — ele abraça os meus ombros e eu tenho que ver aquela cena torturante por longos instantes, podem ter sido segundos mas essa porra de tempo parece não passar.
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... RANDANDANDANDANNNN

Foi quando eu ouvi roncos de motos, pelo menos três.

— Caralho, eu achei! — grita uma voz grossa e bem folgada... Baji.

— É a primeira vez que você ver no escuro serve pra alguma coisa além de ver calcinha de mulher — Mitsuya diz tirando o capacete e já correndo na minha direção. Mesmo que uma figura alta e ainda de capacete seguida por uma menina de cabelos castanhos avermelhados já esteja perto do meu corpo.

— Blue! Acorda! — a mão grande da tapinhas no meu rosto enquanto me balança.

— Viu... A sua gangue nunca vai te abandonar — o garoto moreno da um sorriso radiante, igual ao do Mikey, e da um tapa no meu ombro. — boa vida Takara

Tomando um puta tapa na nuca que eu não sei se foi da assombração ou do Draken, eu acordo.

— Caralho... Que viagem — Murmuro, sentindo todo aquele frio me espremer até os ossos.

Depois disso os garotos me zoaram e depois me levaram pra um bar que tinha ali perto até a chuva passar, quando eu contei tudo que tinha rolado nas últimas horas... Sem a parte da experiência fora do corpo.

— Então ele vai mesmo pra Austrália, isso é bem longe — o Baji murmura isso meio sem jeito. O Draken tá super calado.

— Ele não tinha te contado né? — eu falei pro grandão.

Nessa hora, o olhar dele simplesmente se alterou, como se eu tivesse balançado uma bandeira do Japão em uma tourada.

— Eu não tô chateado, tá legal? — ele bufou e tudo mundo vira os olhares pra ele. Não foi isso que eu perguntei e todos parecem ter entendido isso — eu não tô bravo que ele simplesmente tenha decidido alguma coisa sem contar merda nenhuma pra ninguém! Sem me contar! Eu tô puto por ele ter te largado sozinha num lugar estranho.

Ele socou a mesa e seu olhar voltou ao normal, ele caiu na real e seus ombros tremeram. Antes que eu tomasse alguma ação, Baji e Mitsuya apertavam os ombros largos do dragão em demonstração de apoio e uma concordância muda em tudo que Draken tinha dito antes.

Tudo tá rachado. Eu tô me sentindo em um quadrado apertado, em um corpo que não me serve mais... Eu preciso crescer.

O que vai ser do futuro (ou passado) quando eu voltar? Não tenho a mínima ideia, só sei o que o Mikey fez as próprias escolhas e agora eu preciso fazer as minhas.

Com um piscar de olhos, eu estava no meu apartamento.




É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Where stories live. Discover now