Uma Conversa De Irmão Pt2

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Eu não tinha passado o dia bem, sério, foi uma merda.

Era aniversário do Shinichiro e justamente hoje chega pra mim que o Kazutora tá livre por aí... Vivo, enquanto eu estava indo visitar o meu irmão no cemitério.

Eu não chorei, não queria fazer isso, o Shinichiro era meu pilar e eu não quero deixar ele triste por mim hoje.

— Oi maninho, eu tenho tanta coisa pra te contar desde a última vez que eu vim te ver — Digo me sentando na frente da lápides, após ter feito as preces que fazia sempre e que o próprio Shinichiro tinha me ensinado — sobre a gangue, sobre os meus amigos... Sobre a minha namorada

Dou um sorrisinho triste, eu queria poder ouvir o que ele me diria sobre isso... Eu sempre queria ouvir a opinião do meu irmão a respeito do que eu estava fazendo, falando, comendo e etc e tal... Mas especificamente hoje, eu pude imaginar algo.

— Uau, é a primeira garota que você fala assim... — ele estava apoiado em alguma coisa como sempre fazia, com um habitual cigarro entre os dedos que ele sempre dizia que ia largar — Tomara que ela não tente de dar um fora

Ele ri fraco, me fazendo sentir uma forte dor no peito, a saudade só tinha piorado depois disso... Era só a minha cabeça criando isso... O Shinichiro de verdade já não tinha mais sua vida... Tinha sido arruinado pra sempre, levado pra longe de mim pra sempre.

Eu fui embora depois de um tempo pra não chorar, fazendo a quinta ligação do dia pra Blue. Ela estava fazendo alguma coisa na boate do pai, conversamos enquanto ela ia de carro no caminho pra casa, minha garota ia me contando sobre o que via no caminho... Na minha cabeça só vinha um pensamento o tempo todo.

"Só... Fica falando comigo"

Eu não conseguia falar com ninguém sobre e... Importunar a própria namorada não era uma atitude estranha, foi ela de quem eu enchi o saco o dia todo, até entenderia se ela simplesmente quisesse terminar comigo

Sempre que ela tinha que desligar o celular eu me via em uma espécie de buraco ou algum tipo de filme antigo, não importando onde eu passasse, tinha memórias com o meu irmão... Passar em frente da antiga loja dele foi quase uma tortura... Ele morreu lá dentro.

Mas a imagem da morte dele não foi o que me golpeou, foi um dia um pouco mais importante, o dia em que eu conheci o Kenzinho.

— E ele tem uma tatuagem na cabeça? Sério? Na tempora? — Shinichiro parecia meio assustado, ele parecia um boneco de cera andando pela oficina enquanto caçava sua caixa de cigarros que ele havia pedido de novo no meio das ferramentas.

— Isso aí — eu estava sentado no balcão, agitando meus pés que até hoje não tocariam o chão enquanto chupava um pirulito de uva, meu favorito até hoje.

— Que irado — ele parece mais animado do que deveria, logo entendo a razão, ele havia encontrado o cigarro e agora o estava acendendo — deve ter doído pra caramba.

Meu irmão mais velho se apoia na bancada só meu lado, acendendo seu cigarro.

— Ele disse que sim — meu eu menor suspira, olhando em volta eu sempre achei esse lugar o mais incrível do mundo — o Kenzinho parece ser um cara muito legal.

Sorri levemente pra meu irmão que soltava uma nuvem de fumaça com a boca.

— vocês já parecem bem amigos mesmo, Manjiro — ele pontua pelo fato do apelido fofo que eu dei pro meu melhor amigo que eu tinha acabado de conhecer do nada, mas o meu eu menor deu um olhar feio pro meu irmão — Mikey...

Ele se corrige e revira os olhos, ele sempre me chamou assim meio contrariado.

— Melhorou — dou um sorriso alegre, eu acho que nunca mais sorri assim desde que perdi ele...

— Eu gosto mais de Manjiro... Combina mais com você — o moreno coça a própria nuca, soltando mais fumaça.

— Mas eu quero Mikey, a Emma não se sente legal sendo a única com nome estrangeiro — isso me lembrou do por quê do nome Mikey... Era pra fazer a Emma incluída entre nós, eu acho que funcionou.

— Você é um bom garoto, Manji-Mikey— ele se corrige no meio e dá uma risadinha — continua assim...

Sua mão afaga meus cabelos, me trazendo de volta ao presente... Me deixando com mais saudades ainda.

Com o peito pesado, eu fui pra reunião depois que a Blue se recusou a ir, me chateou mas eu entendo... Ela saiu do hospital a pouco tempo, pode não estar legal ainda. Eu me enchi de alegria quando minha garota chegou, me deu um beijo daqueles e ainda me animou durante a reunião... Era ela... Era ela que estava me alegando hoje.

Depois que chamei ela pra dar uma volta foi uma longa conversa com meu irmão... Eu sentia conselhos que eu nunca havia ouvido o Shinichiro pronunciar mas que eu achava a cara dele. Um deles, e o principal, foi pra que eu fosse real com a Blue até o fim... Que eu a amasse plenamente todos os dias, sem medo de ser intenso ou de sentir tudo até a última consequência, de ser feliz até a última gota e aguentar se algo de ruim chegar.

Eu tive certeza que eu tinha recebido um grande apoio vindo diretamente dos céus quando Blue brigou comigo pra usar o capacete na hora de irmos embora... Isso me deixou bobamente feliz, um ato de preocupação que pouca gente tem comigo.

A Blue se deu bem com a minha moto, isso foi mais uma das coisas que só me deixou mais leve, eu estava quase flutuando quando paramos na frente da casa de Blue.

— Eu te amo — disse com segurança após beijar a minha azulada favorita desse mundo todo.

Ela pareceu meio surpresa, mas não constrangida ou com qualquer sensação ruim.

— Eu também te amo, Mikey — ela sussurra depois de uns segundos matadores de silêncio, sorrindo em seguida.

Diminuímos a distância e nos beijamos mais uma vez... Isso é tão definitivo pra mim... Eu quero ficar com ela pra sempre, mesmo que algum dia nosso relacionamento termine, quero ser amigo dela... Não posso perder a minha Blue.



É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Donde viven las historias. Descúbrelo ahora