Ah. O Tempo.

776 97 59
                                    


Eu acordei cuspindo água como uma louca.
Tossi horrores enquanto meus dedos enrugados me puxavam pra fora da banheira, ou ao menos metade dos meus ombros.
Demorei pra reconhecer o lugar... Não é o banheiro da minha casa em Tokyo que estava tão acostumada depois de tanto tempo no passado. Era um banheiro multicolorido de roxo e azul, as partes brancas de chão e pia estavam manchados de tinta azul, clássico de quem pinta o cabelo.

— Bem vinda de volta — Murmuro piscando um pouco enquanto me levanto.

Eu sai pingando pela casa mesmo sabendo que teria que secar isso depois. Estava afoita pra ver o que tinha acontecido depois de todo esse tempo. Onde eu tô agora?

Vi um quarto bem luxuoso e entulhado de poluição visual, artigos de pop art misturado com neon anos 70... Simplesmente lindo.

Olhei para a parede ao lado da cama cheio de fotos minhas com artistas dos mais premiados e também com os meus amigos.

— Agora tem fotos de vocês aqui — Digo toda animada vendo uma foto de filtro roxo minha nas costas do Draken enquanto balançamos uma bandeira do Japão com os rostos pintados... Eu não consigo me lembrar ainda do porquê que a gente estava fazendo isso.

Sai correndo lá pra baixo enquanto meus pés escorregam no piso liso, se eu morrer em um tropeço de novo vai ser engraçado pra caralho.

Na hora que eu sai do meu quarto estava numa casa linda, a decoração era cheia de neon (quem me chamar de brega é corno).

Quando olhei pra parede principal da casa ali pouco antes da entrada, estava cheia de discos de ouro e platina com vários nomes, mas tinha uma artista principal.

Isso é simplesmente incrível! Eu estava tão feliz que tudo tinha dado certo então... Eu lembrei do Mikey e fui caçar o meu celular.

— aí como eu amo o advento da Internet nesse tempo — Murmuro enquanto busco o nome do Mikey no Google. A merda é que bem na hora meu celular me deu um puta choque

— Aí porra — Murmuro quando jogo o aparelho longe por impulso — Mas também, que burrice do caralho né.

Bufo e vou caçar uma toalha, quando ouço a porta da sala abrindo.

— Gente! — Digo ao ver um pequeno grupo adentrando minha sala.

— Você acabou de voltar né? — Draken diz como se já esperasse.

— pela última vez — falo com o peito estufado de orgulho.

— Finalmente essa merda acabou — Baji corre pra mim e me abraça sem se importar com a roupa ainda molhada.

Ele não abandonou os cabelos longos e o estilo meio punk, só um pouquinho mais responsável e menos fedido.

Depois de uma certa animação inicial o Draken tratou de me situar na vida de novo, me explicar como tudo aconteceu enquanto os outros preparavam um churrasco pra nós na minha casa.

— Então o Mikey... A gente nunca mais se falou? — digo com a voz mega fraca, estava sentada na beira da piscina de casa, olhando para minhas mãos unidas no colo com a superfície trêmula da água no fundo meio desfocada na minha visão.

— Ele nunca mais apareceu, meio que a gente seguiu a vida — ele suspirou e ficou olhando pro céu — nem nas olimpíadas, a gente nem assim conseguiu se ver.

Depois disso ele meio que se explicou sobre os inúmeros desencontros do que rolou na nossa vida, como a gente nem conseguia se ver.

Eu nem preciso dizer que nem o churrasco daquela tarde foi bem mais ou menos com essa constatação.

Claro que os dias foram passando e aí a consciência real da minha vida bateu na porta e eu amei, era a vida que eu tinha sonhado (com lacunas, é claro)!

Eu até mesmo estava sendo convidada pra um evento chique de música que iria acontecer na Coreia!
A animação me deixava quase fosforescente, no meu quarto de hotel várias maquiadoras e figurinistas me aprontava pro evento, eu estava tão nervosa que parecia que algo estava prestes a acontecer.

Quando me olhei no espelho me senti encantada por mim mesma!
Um vestido sem alças em cores que dançavam entre um roxo, lilás e rosa junto com um enorme laço nas costas de um jeito elegante, tendo também uma fenda que revela uma das minhas pernas até quase o começo da coxa.

— Eu sou uma gostosa — Murmuro admirando meus cabelos longos, azuis bem fortes e lisos.

Eu fui pro evento no puro glamour, com um carro belíssimo e quando passei no tapete vermelho realmente quiseram tirar fotos de mim e eu tenho certeza que fiquei linda em todas elas.

O evento foi lindo mas... Uma das músicas da premiação me tocou profundamente... Que porra! Eu nem reparei quando eu meio que estava chorando.
(pra fins de curiosidade, a música do momento era someone like you da Adele)

Eu me levantei e fui o mais discretamente possível pro lugar mais afastado pra que eu pudesse chorar sozinha. O pressuposto de tudo que aquela letra dizia, tudo que aconteceu, voltou a pegar profundamente em mim.

— Merda! — eu estava com a visão embaçada quando bati no ombro de alguém que a altura regulava com a minha — desculpa!

Mas a mão firme não permitiu que eu me afastasse.

— Eu agradeço — a risadinha meio rouca fez o meu coração parar ou ficar tão acelerado que nem parecia estar lá — só assim pra gente se ver de novo, né, Blue?

Puta que pariu.






Epaaa então né, eu voltei pra terminar essa história depois que eu me senti uma babaca lendo o último capítulo que deixei aqui, tinha achado muito injusto o "final" que eu deixei pra esse casal que eu amo muito!

É o Azul - Manjiro Sano (Mikey) Where stories live. Discover now