Capítulo 1

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Tristan Monteiro

—Eu não quero uma reclamação sobre você neste ano. Nenhuma se quer!

Tristan já tinha ouvido aquele mesmo discurso umas cinco vezes por dia na última semana, mais umas dez vezes só no carro indo para a escola, entendia que não deveria mais se comportar da mesma forma que tinha feito no ano anterior, mas se revirasse os olhos como desejava, provavelmente não chegaria vivo para seu segundo ano do ensino médio.

—Certo pai. Pode deixar que esse ano eu não vou fazer tantas visitas ao velho.

O homem olhou sério para o filho, Tristan entendeu o recado facilmente e se virou para a janela, vendo o gramado que indicava o afastamento da cidade, não faltava muito para chegarem ao colégio.

—Desculpa. Eu vou me comportar, conte comigo, não haverá reclamações sobre mim. O senhor em nenhum momento vai receber uma ligação da escola falando que eu fui parar na sala do diretor.

—É o que eu espero.

O silêncio preencheu completamente o carro. Tristan não queria falar mais nada com seu pai, que acelerava o carro, pelo menos não estava mais reclamando sobre o atraso do filho, que apostava consigo mesmo que chegaria na escola e o discurso de início de ano nem ter sido iniciado. Depois de mais alguns minutos em uma estrada secundária, cercada apenas por grama verde, o carro fez uma curva permitindo que Tristan visse pela janela o grande prédio do Internato Realitas, onde sabia que encontraria alguns rostos conhecidos, alguns esperava encontrar mais do que outros.

—Bom ano, se cuida.

—Pode deixar.

Tristan puxou a mochila de seus pés e saiu em direção à grande porta do colégio, que estava aberta e recebia todas as pessoas que lá estudariam naquele ano. Seus pés travaram por um momento, se lembrando de quando viu o enorme prédio pela primeira vez, no ano anterior, foi algo assustador, mas agora era tudo diferente, ele já conhecia as pessoas, o lugar, as aulas, tudo seria bem mais fácil.

Andou até a porta, lá dentro via alguns grupos se dividindo. Em um canto havia alguns olhares perdidos, logo deduziu que eram do primeiro ano. A maior parte das pessoas estava à sua direita, olhando para o quadro de avisos na parede.

—Que desespero.

Seu comentário passou despercebido por qualquer pessoa, falou realmente baixo para que ninguém ouvisse, não entendia porque as pessoas tinham tanta vontade de saber logo em qual turma estariam, não é como se a escola não fosse passar um aviso sobre isso depois, além de receberem os horários da própria turma.

Deu um sorriso de lado ao reconhecer um grupinho mais afastado e decidiu ir até lá. Passou por três garotas que pareciam muito empolgadas na própria conversa, uma delas era familiar para ele, estudavam na mesma escola antes do ensino médio, mas ela era um ano mais avançada que ele. A menina olhou para o lado bem na hora e acenou para ele, que retribuiu o gesto da menina.

Continuou seu caminho até conseguir ouvir as vozes das pessoas de quem havia se aproximado no ano anterior, principalmente uma voz específica, a mais encantadora de todas.

—E então eu e o Dante ficamos ajudando nossa mãe na floricultura. Não deu pra fazer muita coisa diferente nessas férias. E você?

Beatrice Portinari estava olhando para Elizabeth Webber, as duas pareciam estar conversando, no grupo era fácil para Tristan reconhecer cada um daqueles olhares, mas só aquele castanho da menina das sardinhas era o que importava.

—Começaram a fofocar sem mim, que grandes amizades eu tenho.

O garoto rapidamente se ajeitou para ficar entre Beatrice e Thiago Fritz, com certeza não perderia a oportunidade de ficar próximo da garota, mas também queria estar ao lado de seu cúmplice de tantas coisas que aprontaram no ano anterior.

Internato RealitasWhere stories live. Discover now