Capítulo 19

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Beatrice Portinari

Quando Dante saiu da sala comum Beatrice sentia que tinha algo errado, se preocupava com o que seu irmão poderia fazer, mas ela continuou ouvindo a história que Erin contava sobre as férias. Claro, o nervosismo de Beatrice cresceu imensamente quando viu seu irmão passar pelo local, correndo sem se importar em esbarrar em algo, ou alguém.

—Tristan, Thiago. Vocês podem ir ver se o Dante está bem? Estou preocupada que algo pode ter acontecido.

Todo o grupo já tinha se levantado, ninguém entendia o que aconteceu com Dante. Os dois rapazes que dividiam o quarto com ele foram rapidamente até lá, Beatrice parecia nunca ter sentido tanto nervosismo em sua vida.

—Bea. Será que alguém falou algo pra ele?

Erin estava ao lado de Beatrice, a ruiva segurava os ombros da irmã de Dante, os olhos castanhos de Beatrice não saíam da direção daquele corredor, por onde Thiago e Tristan tinham ido em busca do irmão dela.

—Eu não tenho a menor ideia, Erin. Eu nunca vi o Dante daquele jeito, ele é sempre tão calmo. Mas é muito extremo, o que tenha deixado ele assim, tem que ser algo muito preocupante.

Sentiu o abraço de Erin ao seu redor, ela acabou retribuindo o gesto da amiga. Precisava de algum conforto, para acalmar sua ansiedade e nervosismo, tudo aquilo que sentia desde que viu seu irmão nas condições em que ele chegou na sala comum do segundo ano.

—Bea, eu sei que o Dante é alguém forte. Não consigo nem imaginar alguma coisa que poderia deixar ele naquelas condições, mas ele vai precisar de você, ele vai precisar da irmã dele.

A garota se soltou do abraço ao ouvir tais palavras, se virando na direção do dono daquela voz. Arthur tinha um sorriso confiante em seu rosto, ela tinha certeza que o que o rapaz dizia era de coração. Beatrice conhecia muito bem o irmão, mas era muito importante saber que outras pessoas também viam como Dante era uma boa pessoa.

—Muito obrigada, Arthur. Eu só espero que o Thiago e o Tristan consigam falar com ele.

Logo um alívio surgiu nos olhos de Beatrice. Tristan e Thiago vinham pelo corredor, ela conseguia ver os cabelos loiros do irmão, ele estava de cabeça baixa. Mas sua tranquilidade sumiu com facilidade, ela percebia algumas lágrimas descendo pelo rosto de Dante, alguma coisa séria tinha acontecido. Ela estaria preparada para falar com quem quer que pudesse ter feito aquilo.

—Bea, o Dante disse que quer falar com você. 

Ela balançou a cabeça, enquanto olhava para Tristan. Sentia a tensão no ar, as pessoas ali ao redor estavam preocupadas com o que estava acontecendo. Beatrice foi até o irmão e segurou o braço dele. Sem dizer nenhuma palavra, ela guiou Dante até uma mesa mais afastada, haviam duas cadeiras, deixou que o loiro se sentasse e depois foi até a outra, de frente para ele.

—Quando você quiser.

Dante olhava para baixo, ele não parava de chorar, Beatrice não se lembrava de alguma vez ter visto seu irmão daquele jeito, mesmo que se conhecessem desde seus sete anos, nunca passaram por momentos de muita tristeza. Enfrentaram dificuldades, mas ela não conseguia pensar em um dia que Dante estivesse tão acabado.

—Eu fui falar com a Rana e a Nubi, eu precisava saber sobre ela.

Os pensamentos de Beatrice ligavam alguns pontos, tentando entender do que ele podia estar falando. A voz dele saia enrolada e com pausas, devido aos soluços e lágrimas de Dante. Ela ainda não tinha entendido, precisava de mais detalhes, deixou que ele falasse.

—Bea, você conheceu a Jasmim. Eu precisava saber o que aconteceu, se ela veio para cá. Mas acabei descobrindo algo que preferia não saber. Às vezes saber as coisas é algo prejudicial para nós.

As coisas começavam a fazer sentido para Beatrice. Jasmin era uma garota com quem Dante tinha um relacionamento, era algo tão puro, parecia algo que poderia durar para sempre. O nervosismo parecia voltar a dominar Beatrice, pensando no que podia ter acontecido com a namorada de seu irmão.

—Eu perguntei para a Rana e a Nubi se ela tinha vindo para cá, ou qualquer coisa sobre ela. Mas, eu descobri o que não queria, Jasmin não sobreviveu ao incêndio da escola. Irmãzinha, ela morreu no fogo, eu não consigo acreditar que isso aconteceu. Ela, o Padre Ronaldo, a Irmã Telma e o Leo Gomes, são esses nomes que eu descobri. Não sei se quero acreditar nisso, perder a Jasmin dessa maneira. Bea, me diz que é só um pesadelo. 

A menina não sabia o que dizer para confortar seu irmão. As palavras eram um choque para ela, imaginar que aquela garota que vivia ao lado de Dante, o menino loiro com quem já tinham feito trabalhos em grupo, o padre e a freira responsáveis por comandar a escola, todas aquelas pessoas tinham morrido. Beatrice não queria que a ficha daquilo caísse, mas precisava ajudar o rapaz à sua frente, que voltava a derramar incontáveis lágrimas.

—Dante, eu sei que é complicado. Mas você precisa ser forte, como você sempre é. Por ela, pelo Leo e por todo mundo. Você não está sozinho, não precisa enfrentar tudo isso dessa maneira, tem um grupo de pessoas que estão muito preocupadas com você. Eu estou aqui e sempre vou estar, irmãozinho.

Beatrice se levantou, parando ao lado de Dante. Deu um abraço em seu irmão, que retribuiu o gesto segurando os braços dela, a garota ainda conseguia sentir os soluços vindo dele, mas também sabia que o coração de seu irmão estava mais calmo. Aquela era a prioridade de Beatrice no momento.

—Dante, você quer ir lá com o pessoal? Podemos conversar sobre qualquer coisa, a Erin estava contando uma das histórias dela lá nos Estados Unidos. Ou posso pedir para o Arthur tocar alguma coisa, sei que ele não vai se incomodar.

—Pode ser. Acho que vai ser melhor mesmo.

Beatrice se afastou, para que Dante pudesse se levantar. Já oferecendo o braço para o irmão. Ela tinha certeza que ninguém do grupo iria ficar enchendo a dupla de perguntas, sabiam respeitar o espaço de quem não se sentia confortável com algum assunto. Ela deu um sorriso, feliz com as amizades que havia encontrado, só torcia para que Dante se sentisse da mesma maneira.

Internato RealitasWhere stories live. Discover now