Capítulo 18

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Dante Portinari

Todo o grupo estava reunido na sala comum do segundo ano. A irmã de Dante sentada ao seu lado, tinha mais alguém no sofá, ele imaginava que fosse Tristan, pela direção da voz. Uma coisa ainda incomodava os pensamentos de Dante, ele precisava tirar aquela dúvida, mas não podia fazer isso com sua irmã ao seu lado.

—Pessoal, acho que vou dar uma volta, daqui a pouco eu apareço aqui de novo.

—Quer que eu vá com você? 

—Não precisa, qualquer coisa mando uma mensagem para você. Obrigado, Bea.

O loiro deixou a sala, andando pelo pátio, prestando atenção às vozes que escutava, queria saber se conseguia encontrar duas pessoas que responderiam sua pergunta com sinceridade, sem nenhuma maldade nas palavras.

Com o tempo aprendeu a fazer o caminho para os lugares da escola, no começo foi difícil, ia a qualquer ponto acompanhado de sua irmã. Mas chegou em um nível que conseguia ir para o pátio e outros lugares sozinho, além de que a escola havia colocado placas com braile dizendo o nome de cada local antes de entrar.

Chegando ao pátio, andava para lados diferentes. Haviam muitas vozes que ele não conhecia, provavelmente eram as pessoas novas que vinham de outras escolas, principalmente da Santa Menefreda. Dante tinha muito medo de encontrar quem ele não queria, mas precisava procurar as pessoas que poderiam responder aquilo, ele precisava saber sobre ela.

—Ei, amor. Você está ansiosa para as aulas?

—Parece que o tempo não passa, de tão ansiosa que estou.

Eram elas, ele sabia identificar claramente as vozes calmas de Rana e Nubi. Para a sorte de Dante ele tinha encontrado as garotas antes de qualquer outra pessoa que ele conhecia. 

—Rana, Nubi. Desculpem incomodar, eu posso falar com vocês? Juro que vai ser algo rápido.

—Claro, Dante. Aconteceu algo?

—Se for sobre Gal, ou qualquer um dos garotos que andam com ele. Você já sabe que nós não vamos nos envolver, eu e a Rana estamos felizes, não precisamos disso de volta em nossas vidas.

—Eu entendo, Nubi. Juro que não envolve o Gal, nem nada disso. Eu preciso conversar com vocês, sobre um assunto que não tenho como falar na frente da minha irmã. Vim perguntar se vocês sabem algo sobre a Jasmin, se ela veio para cá. Se não, por que não veio? Como ela está?

A ansiedade dominava a voz de Dante, ele sentia seu coração acelerar, o que era preocupante, não podia deixar seu nervosismo tomar conta de si. Tentou respirar fundo, para se acalmar, ele precisava saber sobre Jasmin.

—Dante, eu não acredito que somos nós que vamos dar essa notícia.

Notícia? Do que Rana estava falando? O que a garota queria dizer para Dante? Onde estava Jasmin? Agora ele sentia a respiração falhar, não tinha exercício que conseguisse acalmar o que estava acontecendo. l

—Dante, o incêndio do Santa menefreda aconteceu durante um dia de aula. A gente conseguiu sair, mas muita gente se machucou. Algumas poucas pessoas não tiveram tanta sorte.

—Nubi! Rana! Parem de enrolar! O que aconteceu com a Jasmin? Onde ela está?

—Dante, a Jasmin foi uma das vítimas do incêndio. Ela não sobreviveu.

O desespero o dominou, junto das lágrimas em seus olhos. Ele não podia acreditar, a garota com quem ele andava de mãos dadas pelos corredores, os selinhos escondidos do Padre Ronaldo e da Irmã Telma, as noites estudando com Jasmin. Tudo aquilo tinha sido perdido, o fogo não levou só a escola, levou a pessoa que ele mais amou na vida.

—Eu não posso, não quero acreditar. Vocês sabem o nome de mais alguém? Alguma outra pessoa que tenha morrido?

Ele ouviu Nubi soltar um suspiro, a garota parecia preocupada em dar aquela notícia. Ele tentava entender a posição dela, mas não queria aceitar que tinha perdido Jasmin, sem nem ter o direito de se despedir, de dizer o quanto a amava mais uma vez.

—Eu não sei muito mais nomes. Além da Jasmin, soubemos do Padre Ronaldo, a Irmã Telma e o Leo Gomes. Teve um pessoal que se machucou, que nem o caso do menino do primeiro ano que perdeu uma perna. Mas não sabemos além disso.

Sentia as lágrimas descendo por seu rosto. Dante estava machucado, seu coração parecia ter sido despedaçado em mil partes, não sabia se um dia conseguiria reconstruir, nem recolher todos os cacos. Ele só queria que aquilo parasse, que aquela dor acabasse. Além de Jasmin, ele conhecia o nome de Leo Gomes, tinha sido amigo daquele rapaz. O Padre e a Irmã não eram pessoas que  tinha muito apego, devido ao tratamento que estudantes recebiam na escola Santa Menefreda, mas ainda era um grande choque.

—Obrigado, meninas. Eu preciso ir.

Ele ouviu Rana chamar seu nome, mas ele já tinha virado de costas e saído correndo, de volta para a sala comum do segundo ano. Imaginava que tinha alguns olhares na direção dele, ouvia algumas reclamações entre um esbarrão e outro, mas não se importava com aquilo.

Chegou na sala comum, ignorando qualquer voz conhecida. Ele ouvia sua irmã perguntar alguma coisa, mas foi direto para o dormitório, procurando a plaquinha que trazia o número do dele. Pegou a chave de seu bolso e abriu a tranca, fechando a porta atrás de si sem nem se preocupar em trancar. Foi até o banheiro e lá ele trancou a porta, a mesma que estava apoiando suas costas, enquanto se sentava no chão frio.

—Merda! Eu não acredito nisso! Ela não merecia algo assim! Ela merecia ser feliz! Esse maldito incêndio tirou tudo de nossas vidas! E ele? O Leo era alguém tão bom! Isso é uma piada do destino, do mundo todo, não é possível que algo assim aconteceu. 

Alguns passos do lado de fora, batidas na porta do banheiro, ouvia duas vozes chamarem seu nome, mas Dante não escutava, ele não queria escutar. Precisava ficar sozinho, lidar com todos os sentimentos ruins que sentia naquele momento. 

Ele estava completamente destruído, não sabia se alguém seria capaz de o refazer. Ele não queria voltar a ser quem era, mas sabia que não podia agir daquele jeito. Tinha que se levantar. 

O que deu força para começar isso, foram as vozes de Tristan e Thiago do lado de fora, dizendo o quanto Beatrice estava preocupada com o irmão. Ele lembrou o motivo de se manter firme todos os dias, proteger a irmã dele. Dante não ia perder mais ninguém, de maneira nenhuma. 

Se levantou e foi até a pia do banheiro, para que conseguisse jogar uma água em seu rosto. Arrumou o cabelo em um novo rabo de cavalo e saiu do banheiro, já ouvindo os rapazes fazendo perguntas para ele, mas Dante não queria responder nada naquele momento, precisava conversar com uma pessoa.

—Dante, você tá bem? Deu um baita susto na gente, rapaz. Todo mundo tá preocupado.

—Pois é, tua irmã tá lá perguntando o que pode ter acontecido. Porra, dá uma dessas não.

—Thiago, Tristan. Me desculpem, mas agora só quero falar com minha irmã, ela é a primeira pessoa que deve saber disso.

Os rapazes ficaram em silêncio por um tempo, suficiente para que Dante pensasse em procurar Beatrice por conta própria. Mas Thiago concordou e ofereceu ajuda para levar Dante até a irmã.

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