Bribery

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S/n Sadik

Recomecei a rotina diária. Vesti o uniforme e tomei café da manhã. Fiquei com peso na consciência desde ontem. Às vezes me esqueço da sensibilidade excessiva de Isik. Eu não fiz por mal, apenas costumo ser muito sincera perto dela.

Isik acredita demais nas pessoas, admiro essa esperança, mas também sei que poderão usar isso contra ela. Suas ideias e concepções são maravilhosas, contudo extrapola no quesito empatia. Por exemplo, acho que ela teria pena de assassinos condenados à morte.

Entende a diferença? Nós usufruímos da mesma ideia, só que em vertentes diferentes. Eu prezo pela justiça, já ela pelo perdão. Não sinto remorço de condenar pessoas que me condenariam.

Falo na teoria, porque na prática...  Mal consigo interagir com seres humanos, quanto mais enfrentá-los.

(...)

Ler é um dos meus passa tempos favoritos. Amo me afundar numa história empolgante e surfar nas páginas. Faz um tempinho que estou lendo sentada na minha banca da sala de aula. Isik ainda não chegou... Se bem que sou a única habitando o cômodo neste instante.

Escutei a porta abrir estupidamente. Não tive coragem de encarar a pessoa. Fingi naturalidade e continuei lendo. Eu sabia que não era a Isik, aquela grosseria não combinava com ela. O que aumentou meu nervosismo foi se tratar de um grupo, vi pela minha visão periférica.

Os alunos pararam em frente a minha mesa. Persisti ignorando a presença deles.

Pode prestar atenção?— Disse arrancando o livro das minhas mão. Levantei o olhar e reconheci Kerem, capitão do time de basquete, no caso... Ex capitão, ele atacou o juiz por não marcar uma falta. Seu histórico de brigas mostra sua completa inexistência de sanidade.

Devolve o meu livro— Mandei sem demonstrar emoções. Ao seu lado estavam Osman, o vendedor de Chernobyl, Eda, a típica maluquinha perigosa de colegial, e Sinan, crush doente mental da minha melhor amiga. Ótimo, estou rodeada de malucos.

Se não você vai fazer o que?— Perguntou desafiador. Tenho insegurança de dialogar com as pessoas, entanto não suportarei provocações desaforadas. Meu senso de justiça não permitiria.

Quer saber? Pode ficar. É uma história LGBT entre um casal de homens, acho que você vai curtir— Falei debochando, eu queria a atingir a masculinidade frágil desse hétero top. Kerem largou o livro enquanto os outros três riam baixo.

Vamos direto ao ponto, sabemos quem você é— Kerem afirmou com seriedade.

S/n Sadik? Sim, essa sou eu. Parabéns pela memorização. Persista, daqui a pouco seu cérebro crescerá para o tamanho de um morango— Comemorei irônica. Era libertador falar umas verdades.

Idiota— Sussurrou antes de tentar me bater. Minha salvação foi o Osman tê-lo segurado.

Que enrolação, sabemos que você é a Transparent— Eda se pronunciou pela primeira vez. Senti meu corpo tremer e minhas mãos suarem. Isso só pode ser um pesadelo.

Eu? Por que seria eu?— Questionei como se obviamente não fosse.

Vimos a conta aberta no computador da sala de informática. Você cadastrou seus dados na conta— Osman explicou soltando Kerem. Ferrou, não tem mais saída.

Que ódio! Isso é tudo culpa de vocês! Se não tivessem acionado o alarme, eu não teria saído feito uma maluca da sala!— Falei mais pra mim do que pra eles.

Calma aí, poetinha— Eda disse achando graça.

Vocês não podem contar a ninguém— Ordenei pondo as mãos na testa.

Faremos isso... Com uma condição— Kerem iniciou uma chantagem. Lá vem...

Terá que nos ajudar a arrumar um namorado para a Senhorita Burcu— Completou me surpreendendo.

Que? Como EU iria ajudar nisso? E principalmente... Por que diabos vocês querem arranjar um namorado para ela?— Perguntei sem encontrar sentido.

Você é perita nessas baboseiras de amor. A escola inteira acompanha o seu blog— Eda explicou meio impaciente.

Quase fomos expulsos da escola. O conselho fez uma votação e a única que não concordou foi a Senhorita Burcu. Só que ela vai ser transferida— Osman contou gesticulando os braços.

Necdet prometeu nos expulsar quando ela for embora— Eda revelou inquieta.

Deixa eu ver se entendi. Vocês querem que a Senhorita Burcu arranje um namorado para ter um motivo de continuar na cidade?— Supus pensativa. Os três concordaram, Sinan não falou absolutamente nada até agora. O menino parece um morto vivo.

Exatamente, assim não seríamos expulsos— Kerem finalizou.

Olha... Faz sentido, mas eu não tenho como fazer duas pessoas se apaixonarem do nada— Falei franzindo o rosto.

Suas dicas podem dar um empurrãozinho— Osman falou arqueando as sobrancelhas.

Não, eu não vou fazer isso. É antiético modificar o rumo da vida de alguém. A professora é uma pessoa boa e honesta. Ela não merece sofrer pela permanência de quatro adolescentes rebeldes e imaturos na escola— Concluí levantando da mesa. Kerem segurou meus ombros e me empurrou para eu continuar sentada.

Que pena, a escola inteira irá descobrir a identidade da Transparent— Eda debochou chantageando. Os quatro começaram a caminhar na direção da porta. Merda...

Espera!— Falei num volume elevado. Os quatro pararam de andar e se viraram.

Eu vou ajudar vocês— Concordei bufando.

Vou me arrepender disso depois, tenho certeza.

Love 101- Sinan and S/nWhere stories live. Discover now