Inefável

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Nairobe adormecera entre os lençóis da cama desarrumada.

A mãe, parada na porta, cabeça recostada no batente, trazia aquela expressão, que sabemos bem qual é, de quando perdemos algo que nos era importante.

Qualquer um de nós já deve tê-la repetido algum dia.

A boca curvada para baixo e o olhar distante acompanhando os pés, os braços, os cabelos longos e anelados da menina se esparramando no travesseiro.

Não era mais uma menina. Nairobe deveria estar quase do seu tamanho ou maior.

Se aproximou suave, como sempre fazia.

Sentou-se sem ruído algum ou sequer pesar sobre o colchão ao lado da filha.

E a olhou.

As mãos magras enroscaram um dos cachos em seus dedos finos e ela poderia ter suspirado. Não suspirou. Mas era como se o tivesse feito.

Não era tristeza... Era... Era a sensação de que algo escapara por seus dedos.

Dedos em garras ou não, não importava, nada poderia reter por mais tempo aquela sensação.

Parada, respirando um pouco do que se havia perdido naquele quarto entre a noite e o amanhecer, ela permaneceu assim até os olhos escuros da menina se fixarem nela.

— Bom dia, Nairobe, o café já está pronto.

E saiu do quarto sem fazer alarde.

NairobeWhere stories live. Discover now