O leite quente parecia a melhor coisa do mundo. A cabeça de Nairobe rodava sem parar e ela tentava pescar uma das milhões de perguntas que nadavam através dela. A mãe apenas a olhava, brincando com um biscoito, mordiscando-o de leve, sem comê-lo de verdade. Parecia esperar.
— E então? — ela falou na voz baixa e musical que Nairobe tanto gostava.
Nairobe sorriu, tomou mais um gole de leite, baixou os olhos e encheu-se de uma segurança desconhecida:
— O que era aquilo?
— Uma alma.
Esperou mais um pouco.
— Por que você a engoliu?
— Ora, Nairobe, essa é uma cidade violenta, eu não poderia andar a essas horas com uma alma por aí, não é?
Ela não sabia se era ou se não era. Almas poderiam ser roubadas? Quem roubaria uma alma? Quase que telepaticamente a mãe respondeu.
— São itens valiosos.
— Elas têm gosto?
A mãe a encarou, divertida, sorrindo com as sobrancelhas.
— Como assim, Nairobe?
— Ah, você reclamou do gosto dessa, escovando os dentes.
— Ah! Você observa tudo, hein?
Nairobe gostou de ouvir aquilo no tom usado por sua mãe.
— Então... Elas têm sim, e algumas, como essa, são indigestas. — E Nairobe poderia jurar que sua mãe gargalhara. Mas sua mãe nunca faria isso.
A menina concluiu que seria melhor interromper o questionário. O leite quente começara a fazer efeito e tudo o que ela desejava era voltar para a cama e poder dormir ao lado de sua mãe.
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Nairobe
FantasyNunca gostei de curiosos. Gente assim como você, que acaba de abrir um livro e está disposto a pôr seu nariz exatamente sobre tudo. Preferível seria se agora mesmo você se retirasse e voltasse aos seus afazeres - ou seja lá o que for (garanto que nã...