Impenetrável

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Uma coisa poderíamos dizer ser um traço de caráter marcante de Nairobe: sua determinação. Da mesma forma que quando criança, há poucos meses antes, decidira seguir sua mãe ou mesmo decidira não mastigar as pontas dos lápis coloridos, por mais que isso chamasse sua atenção (e dificilmente alguém soube algo sobre isso, porque Nairobe não costumava contar para ninguém sobre suas decisões), ela agora estava convicta de que sua mãe evitaria ao máximo suas perguntas e que isso fazia com que apenas uma outra pessoa pudesse dar-lhe respostas. Pelo menos algumas.Seu irmão não escaparia — com a mesma facilidade — que sua mãe ao interrogatório. Ele poderia ter asas carmins, uma foice e ser o tal "Senhor das Hecatombes", mas ainda era seu irmão e ela o conhecia bem há muitas e muitas décadas.Quieto, calado, reservado, mas presente em sua vida como mais ninguém além de sua mãe e, para o desgosto de Nairobe, Rodolfo. A ele, ela jamais perguntaria nada. Se ela pagava com sua existência pelas respostas que recebia, não facilitaria que ele lhe arrancasse um só dia de vida.Seu irmão a levara aos parques, ensinara-lhe detalhes sobre o sistema solar, o universo e sobre o motor de combustão, almoçaram lado a lado todos os dias desde que sua memória poderia alcançar um tempo anterior.Era com ele que ela deveria falar primeiro.Nairobe sabia que não seria a mesma coisa, que ele também desconhecia muito, mas ela precisava conversar com ele como nunca fizera antes.Agora ele era um adulto.

NairobeWhere stories live. Discover now