Inadiável

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— Nairobe?

A mãe esperava, ainda com o pano de prato sobre o ombro, poucos metros do tanque de areia.

Nairobe compreendeu que ela também viera correndo.

Parou de se balançar, mas só conseguia olhar fixamente para a ponta dos seus pés. Nem percebera, mas calçava apenas meias com pompons laranja. Estavam cobertos de areia.

A mãe chamou novamente... Mas não se aproximou.

Os pompons ali, repletos de grãos, pareciam dentes-de-leão. Nairobe pensou em assoprá-los e imaginou vê-los voando leves pelo ar. E sem muita convicção, deixou uma pequena lufada de ar escapar de sua boca. Ainda sentia o olhar firme de sua mãe sobre si, e quando pensou em retribuir o olhar, um pequeno dente-de-leão veio balouçando lentamente, como se preparado para pousar em sua mão.

Nairobe, de alguma forma, se alegrou com a coincidência.

Como sempre, ao nos perdermos em pensamentos densos demais perto da hora do almoço, e sermos surpreendidos pelo inusitado, algo se quebra. O ar se torna mais leve, um raio de sol incide por entre as folhas, uma música nos remete a outro estado de espírito.

Nairobe sorriu.

Não quis, mas sorriu.

Sua mãe se aproximou e colocou, gentilmente, as mãos em seus joelhos.

— Vamos almoçar? Está quase pronto...

Nairobe queria ouvir a mãe gargalhar novamente, queria os olhos violeta de novo e aquela dança de cores em seus cabelos.

Olhando para ela ali, como sempre, a menina sentiu como se perdesse algo. Não desviou o olhar.

— O que foi, Nairobe?

— Respostas.

Por um instante longo sua mãe a encarou. Não havia nada em sua face, nem rancor, receio, medo. Nada.

O instante durou o tempo de uma nuvem mudar de posição e então sua mãe deu de ombros, como se admitisse uma derrota.

— Não as tenho... todas.

— Qualquer uma.

Parecia que a mãe ponderava enquanto sondava os olhos escuros de Nairobe. Por fim, assentiu com a cabeça.

— Mas depois do almoço — foi só que a mãe respondeu.

NairobeWhere stories live. Discover now