3 - Crime sem castigo

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"E aí, já conseguiu?"

"Calma, estou colocando o código... Será que eles ainda usam o mesmo?", no escuro e silêncio da noite, ouviu-se apenas barulhos mecânicos de um teclado. "Sim. Meu Deus, que idiotas!"

Um barulho de porta abrindo, seguido de passos ecoou pela rua deserta. Os cinco entraram na mansão: Heitor, vinte e nove anos, cabelos pretos, olhos castanhos e pele negra clara. Desde os nove anos, teve de cuidar da família sozinho, por conta de uma acusação injusta feita contra seu pai. O homem foi assassinado na prisão após dois anos de pena. Já sua mãe morreu pouco depois, após uma longa batalha contra a depressão. O que ele buscava naquela noite? Justiça, juntamente de sua irmã, Letícia (vinte e três anos, cabelos e olhos castanhos e pele escura) que, a partir do momento em que teve consciência de tudo, decidiu ajudar o irmão com seu plano de vingança. Os dois arquitetaram durante dois anos o assassinato de Mário Junqueira, o antigo chefe de seu pai que o usou como laranja por anos, sem sequer consultá-lo. E que, quando a barra apertou, não abriu a carteira nem para pagar os advogados de seu pai.

Heitor tinha um plano em mente, mas precisava de algo mais concreto. E foi aí que Julian entrou na jogada. Um garoto jovem, vinte e cinco anos, de pele clara, num tom mais esbranquiçado, cabelos cor de cobre e olhos azuis. Durante toda a sua vida, ele foi elogiado por seu talento em matemática e experiência com vendas. Um empreendedor nato, todos diziam. Aos dezesseis, conseguiu um estágio na empresa de Junqueira. Logo nos primeiros meses, Mário deu-lhe, como recompensa pelo trabalho duro, um apartamento pequeno, para que ele morasse com sua mãe, já que tinha comentado com o chefe que morava numa cidade vizinha e o transporte era complicado. Após o fim do período de seu estágio (uma época terrível que envolveu exploração de funcionários, corrupção, sujeira e mais sujeira), Julian perdeu o apartamento, que estava no nome de Mário, e todos seus direitos como recém desempregado, já que, tecnicamente, ele não era registrado legalmente. Um movimento sujo de Mário, que se aproveitou do fato daquele ser o primeiro emprego de Julian. Desde então, o rapaz estava apenas esperando a oportunidade perfeita para se vingar.

Então chegamos à Eliane (vinte e oito anos, pele clara, cabelos castanhos e olhos cor de mel), ex-namorada de Julian. Ela estava tendo uma crise dos trinta anos, pela proximidade do tal. Sentia que precisava fazer algo grandioso, que suprimisse esse vazio. Basicamente, ela tinha passado a vida toda fazendo "a coisa certa" e queria fazer algo ruim, para variar. Ela era doida, obviamente.

Por fim, William (vinte e nove anos, pele cor de areia, cabelos roxos e olhos castanhos), o melhor amigo de Heitor. Ele tinha acompanhado todo o processo de sede por vingança que Heitor tinha desenvolvido ao longo dos anos e queria ajudar. Ele também tinha acesso fácil a armas de fogo.

Após bolarem o melhor plano que tinham consigo pensar, eles começaram a colocá-lo em prática. Letícia foi contratada como governanta da casa de Mário, sob o nome de Sarah. Sempre sendo a funcionária mais dedicada do local, a garota aprendeu sobre todos os truques, segredos e artimanhas da mansão, era como se ela mesma tivesse sido a dona da casa. Não havia escapatória para Mário Junqueira...

Já dentro da casa, Heitor começou a dar as ordens, em voz baixa:

"Eliane, você faz os turnos ao redor dos alarmes; Julian, checa os quartos dos primeiros andares, se encontrar alguém, aplica a injeção de sonífero, como combinamos. Toma aqui", ele entrega uma bolsa com três injeções para o garoto. "Will, você vai para o porão, destrancar o alçapão e ficar esperando a gente chegar lá. Tícia, entrega o chaveiro para ele", a garota tira um chaveiro com três chaves do bolso e entrega para William. "É a do meio. A mais dourada. Tícia..."

"Eu vou com você. Já sei"

Os cinco seguiram suas direções. Eliane ficaria no andar de baixo, rondando os quatro alarmes da casa: o das salas de estar e jantar, o da cozinha, o dos quartos e banheiros e o da área de serviço. Todos esses cômodos possuíam sensores que ativavam os alarmes assim que algum estranho passase. O reconhecimento facial e digital ajudava nisso. Claro que os alarmes eram ativados apenas à noite, para que os empregados pudessem passar pela casa livremente. Letícia sabia onde cada sensor estava e como desativá-los, mas, caso tivesse algum novo, quem teria que desativar manualmente seria Eliane. Falando neles, Letícia e Heitor seguiram para a sala de comando no quintal. Como sempre, o segurança estava dormindo. Heitor adentrou e, silenciosamente, aplicou o sonífero no homem. Assim, com o acesso dos comandos, os dois desativaram os sensores que conheciam e as câmeras. E só aí seguiram para os aposentos do sr. Junqueira.

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now