9 - Realidade

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Para vocês, passaram-se semanas, até meses, mas, para Elizabeth, apenas um minuto tinha se passado desde que ela tinha partido o coração do seu primeiro grande amor em plena véspera de natal. Ela sabia o que fazer agora, ela tinha certeza do que faria. A adrenalina corria por suas veias e ela sabia que não vacilaria dessa vez. Porém, primeiramente, creio que devo aos senhores uma explicação desse épico fracasso de Thiago que acabamos de assistir. E, para isso, devemos voltar para a manhã do dia vinte-e-quatro de dezembro...

Beth tinha acabado de sair do banheiro, estava descendo para a cozinha. Era tarde, ela sabia que sua mãe reclamaria do horário que ela tinha acordado, assim como ela tinha feito nas últimas duas semanas, desde que ela tinha se graduado do colegial. Que culpa tinha ela por querer recuperar as horas de sono perdidas com estudos e trabalhos dos últimos anos? Ela desceu as escadas, já ouvindo as vozes de sua mãe com alguma vizinha. As duas estavam na sala de estar. Antes de ir tomar café, vou dar bom dia para as duas, pensou ela.

— E então, ele veio até aqui pedir minha benção para propor Elizabeth em casamento na noite de hoje, você acredita? — Sua mãe disse. Beth, que estava no corredor, ficou estática assim que ouviu. Não é possível. Não podia ser verdade. — Um cavalheiro de verdade, não é?

— Quem vai propor para mim?! — Ela entrou na sala, não conseguindo se conter.

— Beth! Que susto, minha filha. Não é nada disso, meu bem, você ouviu errado. Eu só...

— Eu ouvi muito bem, mamãe — ela interrompeu-a. — O Thiago vai me pedir minha mão?

— Ah, bom, já que você já ouviu mesmo — ela se levantou e começou a dar pulinhos. — Sim, ele vai! Filha isso não é...

— ...horrível! Mamãe, eu não quero me casar agora! — Dona Inez parou sua comemoração.

— Como é? — A vizinha então se levantou:

— Bem, vou indo, querida. Depois proseamos. Não precisa me acompanhar — ela gesticulou negativamente com as mãos em direção a Inez —, posso chegar até a porta sozinha — então riu desconfortavelmente, e saiu da sala.

— Mamãe, eu tenho dezoito anos! Eu não posso me casar agora. Tenho muito para viver, para conhecer — Beth voltou à discussão, assim que a moça se retirou.

— Justamente, você já tem dezoito anos, Elizabeth! Se não agarrar Thiago logo, vai acabar ficando pra titia...

— Mamãe, isso é insano. Eu não vou me casar com... espera aí. O Thiago me chamou para passar o natal com ele essa noite. Eu achei que... mamãe! Não, não, não, não! Isso não pode acontecer.

— Minha filha, pense assim, como uma oportunidade. Você vai poder viver tudo, conhecer, mas com um companheiro ao seu lado. O Thiago é um bom moço e te ama. Você não o ama também?

— Eu... não sei.

— Pois então — ela parou no meio da frase. — Espera, o quê?

— No começo, ficar com ele era muito bom, eu apreciava muito o tempo que passávamos juntos. Mas agora, eu não sei mais...

— Elizabeth, ouça as bobagens que está dizendo! Como não sabe se ama? Claro que você o ama! — Ela começou a andar de um lado para o outro, estalando os dedos. Aparentemente, Inez não estava convicta de tudo que estava dizendo. — E também, se não ama, não importa. Vocês nasceram para ficar juntos. Que outro você encontraria?

— Bem... mamãe, esse não é o meu ponto! Eu não vou me casar com alguém que eu não amo. Se em quatro anos de namoro, eu já me sinto dessa forma em relação ao Thiago, imagina se, por um acaso, acabamos nos casando! Você não quer a vergonha de ter uma filha divorciada, quer?

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now