5 - Correio Elegante do Século XXI

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Entro na loja de doces naquela tarde de quinta. A cor laranja do Sol refletindo na fofa bancada de doces da loja da dona Leia. Espero algum atendente sair da cozinha para me atender, mas minha cabeça não está muito ali. Finalmente tinha entrado de férias, aquele cronograma do primeiro ano estava me matando! Eu estudo em uma das escolas mais conceituadas da cidade, e isso é ótimo, mas demandava alguns esforços. Além de ter que acordar às seis para andar a cidade toda até o centro (onde a escola era localizada), o ritmo lá era bem puxado. Eu tinha me mudado para aquela escola há três anos, mas, aparentemente, no ensino médio, tudo dava um reboot e nós que nos virássemos para pegar o ritmo novamente.

Uma garota sai de dentro da portinha da cozinha, seus cabelos castanhos presos num coque dentro da touca transparente. Ela usava um avental branco com uma flor no centro (a logo da loja) e, quando ela se aproxima, percebo que, por trás de seus óculos, grandes olhos verdes me encaravam. Seu batom rosa claro combinava com o esmalte de suas unhas, tão claros que pareciam até naturais de seu corpo, já que o subtom da sua pele era um pouco mais puxado para um areado, um pouco mais bronzeado que meu bege esbranquiçado. Ela sorri para mim e pergunta:

— Boa tarde, senhorita, o que vai querer? — Ela dá um sorriso amarelo.

— Eu não te conheço, você é nova aqui? — Pergunto.

— Sim, comecei no começo do mês. Deu tão na cara que sou novata?

— Não —, rio. Ela sorri também. Um frio na barriga surge, de repente. — É só que eu venho aqui com certa frequência e nunca te vi. Por isso perguntei.

— Ah, sim. Também era uma cliente assídua antes de me tornar funcionária daqui —, ela diz, orgulhosa. — Estou surpresa que nunca te vi, já que você diz que sempre vem aqui.

— Vai ver a gente vem em horários diferentes —, sorrio.

— Pode ser, eu normalmente vinha de manhã. Enfim, o que você vai querer...

— ...Amanda.

— Amanda! Bonito nome.

— O seu também, Emília —, digo, sorrindo, apontando para seu crachá. Eu não me cansava de sorrir. — Eu vou querer um latte e um bombom de chocolate branco.

— Você gosta desse bombom? Eu nunca vejo ninguém que gosta!

— É meu favorito!

— Meu Deus, o meu também!

— Caramba, eu realmente nunca encontro ninguém que gosta dele, achava que era a única.

— Eu também —, ela diz, voltando da porta da cozinha, onde tinha deixado o papel com meu pedido. Ficamos falando sobre nossos favoritos do menu até meu pedido chegar. — Certo, Amanda, nosso papo tá bom, mas eu preciso trabalhar, infelizmente. Aqui está seu bombom e seu latte —, ela me entrega uma sacola de papel marrom com uns desenhos feitos à mão por ela e um copo de plástico de café. — Volte sempre —, sorri e volta para a cozinha.

Pego meu pedido e saio da loja. No caminho de volta para a casa, abro a sacola para pegar o bombom. Acabo encontrando uma surpresa agradável dentro dela. Um bilhetinho de Emília:

Oi, Amanda-que-gosta-de-bombom-de-chocolate-branco

Achei você muito legal e interessante, vamos conversar mais?

Aqui meu número, se quiser: 9981-0042

Pego meu celular e meu bombom enquanto caminho de volta para casa, sorrindo. Ao chegar em casa, mando uma mensagem. Fico uns bons minutos pensando no que dizer. Como parecer legal, mas sem parecer maluca? Qual a coisa certa a dizer? Como seria sua resposta? E se ela mudasse de ideia e não respondesse? Meu Deus, o que estava acontecendo comigo? Eu nunca tinha me sentido assim, insegura. Principalmente com uma garota. Eu faço amigas o tempo todo, ser interativa nunca foi um problema para mim, por que eu estava assim com ela? Ela não tinha nada de diferente das outras. Quer dizer, ela era bonita, parecia ser legal, quando eu fiquei perto dela, meu rosto se recusava a parar de sorrir e, quando ela sorria de volta, eu sentia um sentimento estranho. Um sentimento que eu só tinha sentido com garotos até agora... É só que eu nunca tinha me imaginado desse jeito com garotas... Claro, tem umas garotas que são tão bonitas que mexem com a gente, eu as beijaria sem problema nenhum, mas, isso acontece com todo mundo. Não? Eu tinha conhecido garotas em festas que me falavam que queriam me beijar e tal, mas elas diziam que eram hétero, só queriam testar coisas novas.

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now