6 - N.J.L.

3 0 0
                                    

Cheguei na porta da diretoria revoltado naquela manhã. Apesar de já saber o motivo de eu estar sendo chamado lá, eu não concordava. O corredor branco cheio de troféus de campeonatos escolares e certificados de primeiro lugar em vestibulares. Deus, como eu odiava aquele lugar! Sua pele branca como papel, seu batom roxo escuro aberto num sorriso assustadoramente passivo-agressivo, sua blusa de cetim e sua calça jeans branca. Seus cabelos pretos e desidratados caíam sobre seus ombros. Eu sabia que passaríamos pela mesma conversa (uma que tivemos umas três vezes só naquele mês). Mesmo assim, entrei na sala calado e aparentando estar calmo. Eu sempre fazia isso. Cheio de raiva, revolta e amargura. Mas nunca falava nada para ninguém. Era muito mais fácil ficar calado ou pedir qualquer desculpa, dizer o que a pessoa quer ouvir. Evitava conflitos. Não que eu não ame um bom conflito. Mas não com ela. Eu só queria me livrar o mais rápido possível dela.

Sentei na cadeira da direita, como sempre fazia. Tinha um garoto na outra cadeira. Ele parecia assustado e tímido. Eu tinha o visto nos corredores algumas vezes, mas não o conhecia. Ele estava um ano na minha frente. Sua pele escura contrastava com o uniforme branco com azul. Seus cabelos crespos pareciam recém cortados. Ele estava abraçado com sua mochila e parecia realmente assustado. A sra. Viviane fechou a porta da sala e se sentou em sua mesa. Ela parecia estressada. Mas sempre com o sorriso no rosto:

"Vamos começar com você...", ela se virou para o garoto.

"...Jonas", ele completou.

"Isso. Bem, recebi reclamações de seus professores que você não tem aparecido nas aulas há uma semana. Preciso que explique sua situação", seu sorriso cresceu, parecendo mais cínico que nunca. Um arrepio percorreu minha espinha.

"Eu... não estava me sentindo muito bem. Só isso", Jonas diz, encolhendo-se mais ainda.

"Certo. Tem atestado?", ela começou a anotar numa grande agenda que dizia '2º ANO'.

"Não"

"Certo, Jonas. Preciso que pare de fazer isso. Pelo que fiquei sabendo, não é a primeira vez. Senão terei que chamar seus pais. Você não quer isso, quer?"

"Não", mais um arrepio.

"Certo. Então está liberado, querido. Pegue uma declaração com a secretária de justificativa de atraso", ela terminou de anotar e olhava diretamente para ele. Seu sorriso crescia enquanto falava.

O garoto correu para fora da sala, ainda com seu ar nervoso. Viviane se virou para mim e seu sorriso diminuiu um pouco. Ok, isso era novo.

"Luciano...", ela diz. "Mais uma vez? Eu não sei mais o que fazer. Os professores dizem que não tem uma reclamação contra você, você diz que não tem nenhum amigo e, mesmo assim, arranja briga no grupo de mensagens da sala..."

"Eu sei, sinto muito", começo meu discurso de sempre. "Mas eu não consigo evitar. Eu vejo eles falando aquele tipo de coisa e, não sei, talvez na internet eu tenha um pouco mais de..."

"Coragem?", ela se inclina para mim de forma debochada, como se quisesse me humilhar.

"Eu ia dizer liberdade, mas ok, serve", disse, me sentindo mesmo um pouco humilhado.

"Saia desse grupo, pelo amor de Deus. Eu estou te pedindo", sua guarda tinha baixado. Era a primeira vez que via isso. "Eu realmente não quero ter que chamar seus pais aqui mais uma vez por conta disso."

"Certo. Se você acha que será o melhor..."

"Eu acho. Pega a justificativa", ela me entrega o papel. "Imagino que saiba o caminho de volta"

"Com certeza", o que estava acontecendo? Ela tinha sido... humana? Longe de legal, mas, humana.

Encostei na bancada da secretaria e pedi minha declaração. O garoto assustado chegou em mim e disse:

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now