7 - Expectativa

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Ah, o natal... a época do ano favorita de Thiago. Apesar de todo o caos que tinha ocorrido no país naquele ano, sua vida pessoal não poderia estar mais perfeita. Após se formar, seus pais haviam lhe dado um automóvel incrível como presente de aniversário dos dezoito anos dele, seu xodó. Também tinha conseguido um emprego na fábrica de creme dental da cidade, e tinha passado com louvor para o vestibular de medicina na faculdade recém-estreada da Capital. A única coisa que faltava era um natal perfeito para fechar o ano com chave de ouro. E ele tinha tudo planejado...

Ele acordou naquela manhã de sábado do dia vinte-e-quatro sentindo cheiro de bolo de baunilha quentinho e leite fresco. Desceu as escadas de sua casa já de bom-humor — o que era raro, acredite. Encontrou sua mãe e Augusta, a empregada da casa, preparando uma farta mesa de café da manhã, e seu pai sentado na mesa, tomando um café e lendo o jornal.

— Bom dia — sentou-se na mesa também.

— Bom dia, filhão — seu pai disse, sem desviar os olhos do jornal. — Você viu isso, Marjorie? — Apontou o jornal para a mãe, que leu a manchete em voz alta:

"Cantores são presos na noite do dia vinte-e-dois após concerto 'rebelde' em boate do Rio de Janeiro".

— Veja se pode uma coisa dessas! Desafiar as autoridades desse jeito? — Sr. Coluber exclamou.

— Com licença, sr. Thiago — Augusta serviu a comida no prato dele.

— Obrigado.

— Ai, amor, vamos parar de falar desses assuntos logo de manhã. É véspera de natal. E, além do mais, o nosso Titi tem o maior plano de todos para hoje.

— Eu sei, desculpa filho. É só que isso me revolta de tal maneira. Eu juro para vocês, se não controlarem esse povão logo, sabe-se lá aonde iremos parar — o pai bufou.

— Está tudo bem, senhor — Thiago falou, em voz baixa.

— Mas, conte-me, filhinho, como vai ser com a Beth hoje à noite? — A mãe se sentou de frente para ele, mal conseguindo conter sua excitação.

— Eu pedi para a Augusta preparar um jantar bem gema para nós, vou comprar margaridas, que são suas favoritas e então vou passar na joalheria para pegar os anéis que reservei. Lá pelas nove da noite, vou buscá-la em casa, e o plano é que já passemos o natal noivos.

— Ai, meu Deus, que romântico! Bem que eu queria que certas pessoas tivessem feito isso para mim na época do meu noivado...

— Não comece, Marjorie — seu pai disse, irritado. Thiago soltou uma risadinha. — Mas, de verdade, Thiago, com um plano desses, não tem como dar errado. Quem diria, hein, meu filho, o maior garanhão!

— Um rapaz noivado! — Sua mãe se levantou. — Mal posso esperar para contar para as minhas amigas do Lira, elas vão morrer de inveja! Não esqueça de tirar fotos, vou deixar a câmera no jeito para quando vocês chegarem.

— Não se esqueçam que até às sete vocês já têm que ter saído. Eu quero que esse momento seja especial, só meu e da Elizabeth.

— Claro, filho. Vou ajudar a Augusta com o jantar e já vou dispensá-la, antes mesmo de eu sair. Aliás, vou agora mesmo separar as roupas que seu pai usará na festa da tia Marie, para que ele vá para lá direto do trabalho.

— Não tem nenhum jeito de escaparmos dessa festa? A firma vai dar uma festa também — sr. Coluber fez uma expressão de desespero.

— De jeito nenhum. Já é ruim demais termos que explicar para todos que Thiago não irá. Imagina se não formos! Bem, se vocês me dão licença... — ela disse e saiu.

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now