8 - Promessas de ano novo

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"O que você acha que eu devo colocar em minha lista?" Du me perguntou, assim que saí da cozinha.

"Lista do quê?" Perguntei de volta.

"Minhas promessas de fim de ano, ora! O ano novo é daqui alguns dias, eu preciso ter minhas promessas todas prontas"

"Meu Deus, Eduardo!" Disse, indignado. "Achei que era algo mais importante. Todo mundo sabe que promessas de fim de ano são a maior baboseira da humanidade. Ninguém nunca as segue. É só uma maneira das pessoas pensarem que o ano seguinte vai ser melhor que o que passou"

"Nossa, não sabia que você era tão amargurado assim", ele disse, com uma cara feia. "Ver o futuro com um olhar positivo é bom às vezes, sabia?"

"Escuta, eu estou cheio de coisa para fazer, vou sair para comprar uva-passa, que acabou. Coloca o frango no forno para mim, por favor?" Ele concordou. Abri a porta e estava quase saindo quando ele exclamou:

"Ei, você não quer levar o Moody para passear enquanto for?"

"Certeza? Ele fica bem agitado no mercado"

"Prende ele no estacionamento. Nunca tem ninguém lá"

Peguei a coleira e saí com o cachorro. As ruas estavam movimentadas, mas todo mundo num clima amigável, nem parecia uma manhã de véspera de natal normal, com todo mundo deixando para comprar os ingredientes da ceia de última hora, mercados lotados, correria e os pobres trabalhadores ficando até às nove da noite no caixa. Tudo estava em paz hoje.

Coloquei meus fones, abri minha playlist de músicas natalinas e comecei a caminhar com Moody pela rua. O dia estava nublado e ventoso. Em outros dias de verão, eu reclamaria disso, mas, com as músicas animadas e com sensação de cobertor no frio, parecia muito apropriado.

Entrei pelo estacionamento do mercadinho do bairro e deixei Moody amarrado em um dos postes do "cantinho dos cachorros". Era muito legal que o mercado tivesse esse lugar, principalmente por ser um mercado pequeno, onde a maioria das pessoas apenas paravam para comprar coisas pequenas e, normalmente, estavam com seus pets juntos de si. Tirei o fone e fui para dentro do mercado. A decoração parecia aconchegante e colorida.

Já tinha pego minhas uvas-passas e ido para o caixa quando o vi. O ex do meu namorado.

Eu e o Du tínhamos nos conhecido há três anos. Ele estava terminando a faculdade e eu estava no penúltimo ano. Sempre tivemos uma boa relação, antes de sermos amantes, éramos amigos. Mas, nem ele e nem eu éramos mais adolescentes que estavam vivenciando as coisas pela primeira vez, nós tínhamos tido outros amores. E o Breno era um desses outros amores do Du. Eles tinham se conhecido no ensino médio, eu acho, e tinham continuado juntos até o começo da faculdade. Ele foi o segundo namorado do Du. Eles tinham planos para o futuro e tudo mais, cogitaram até morar juntos, mas aí o Breno conseguiu uma bolsa e uma vaga de estágio na Capital e se mudou para lá, e eles terminaram o namoro.

E isso era muito suspeito, pois, além de o Du ter me contado que o Breno não mantinha contato com ninguém de sua família e, depois de tantos anos, o que ele estaria fazendo no mercadinho a duas quadras de casa? Fiquei observando-o fazer suas compras e sair do mercado. Num impulso, decidi segui-lo. Ele estava saindo com a bicicleta do estacionamento. Tirei Moody do cantinho e fui atrás dele a toda velocidade.

Depois de dar umas voltas, ele finalmente parou no portão de um condomínio, deu seu nome na portaria e entrou. Esperei alguns segundos e fui para a catraca de entrada. Fingi estar passando com casualidade, até que o porteiro me parou e perguntou:

"Boa tarde, senhor. Nome?"

"Hã... e-eu moro aqui", gaguejei.

"Com certeza, não. Eu saberia", ele me olhou com desdém.

Histórias Para Gaivota DormirWhere stories live. Discover now