Prólogo

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E mais uma vez me pego preso durante uma paralisia do sono. Já é a quarta só esta noite. Sinto uma pressão em meu peito e muita falta de ar. Tento me mover, mas é completamente inútil. Um trovão ecoa até os meus ouvidos que me faz despertar de uma só vez. Arregalo os meus olhos e inspiro profundamente, preenchendo os meus pulmões de ar. Eu realmente havia parado de respirar enquanto dormia, mas por sorte o trovão me acordou a tempo.

Pisco algumas vezes tentando recobrar minha consciência por completo. Cerro os meus olhos quando a iluminação vinda da tela da TV me incomoda. Outro trovão ecoa pelo céu, e com ele um clarão que adentra pelas janelas e ocasiona em uma queda de energia que desliga a minha TV.

Suspiro profundamente e passo a mão em meus olhos, mas logo os abro novamente enxergando apenas escuridão. O escuro nunca me incomodou, muito pelo contrário, me sinto acolhido por ele. Normalmente as pessoas dormem no escuro, mas no meu caso, ele parece me deixar ainda mais acordado. Como se eu fosse um ser das trevas ou coisa do tipo.

Em meio a tempestade que caía lá fora, sons estranhos eram abafados por ela, mas não completamente. Talvez minha audição fosse boa demais, ou eu estivesse mais ansioso do que o normal. Seja como for, pude ouvi-los com clareza em meio aos estrondos dos trovões e os pingos fortes de chuva no meu telhado.

Me levanto da poltrona ainda um pouco sonolento para procurar a exata origem daquele barulho estranho. Os sons que eu não podia reconhecer quais eram, logo se tornam choramingos bastante perceptíveis. Sou levado até a porta de entrada da minha casa e assim que a abro, um vento forte e gélido chega até mim. Me recomponho do arrepio e olho para baixo, encontrando por fim a origem dos choramingos. Vinha de uma caixa de papelão fechada. Ela estava um pouco molhada e deformada. Olho em volta pela rua, mas não vejo ninguém. Finalmente me abaixo e abro a caixa, me deparando com dois filhotes de cachorro.

Eles eram muito pequenos e indefesos, não iriam sobreviver se continuassem debaixo desse temporal. Alguém os havia abandonado ali e eu não queria fazer o mesmo. Eu não podia deixa-los ali na minha porta da mesma maneira que os encontrei. Se eu fizesse isso seria exatamente igual a pessoa que os deixou aqui para morrer.

Eu posso ajuda-los. Não preciso necessariamente ficar com eles. Talvez eu encontre uma nova casa para eles assim que amanhecer, até porque, não tenho certeza se eu saberia cuidar de filhotes de cachorro. Ou pior, não tenho certeza se eles estarão mesmo seguros aqui comigo.

Olho para o outro lado da rua e vejo a casa de Frida. Talvez se eu fosse até lá e perguntasse se ela viu alguma coisa... Mas eu não quero incomoda-la. A essa hora ela já deve estar dormindo. Quem em sã consciência vai até o vizinho em meio a uma tempestade perguntar se ele viu alguma coisa?! É óbvio que não viu! Está uma tempestade e tanta, é impossível ver qualquer coisa nessa rua. O melhor que eu posso fazer agora é levar os filhotes para dentro.

Afasto os pensamentos pegando a caixa do chão com os filhotes e os trago para dentro de casa. Apanho a minha toalha de banho no meu quarto e a levo até a sala onde eu havia deixado os cachorrinhos. Tiro os dois filhotes da caixa e começo a seca-los cuidadosamente. Eles não paravam de chorar enquanto eu os secava, talvez estivessem com bastante frio mesmo. Eles pulam em mim sem parar e me lambem enquanto choravam desesperadamente. Vejo um deles andar pela casa e alcançar o meu prato no chão, devorando rapidamente o resto da carne que eu não quis comer.

- Ei! - Tento impedi-lo, mas ele rosna para mim enquanto mastigava e eu desisto.

Ele era tão pequeno, mas já agia como um cachorro adulto. Um pouco que me distraio com o filhote que devorava a carne, ao procurar pelo outro o pego fazendo xixi no meu tapete.

- Ei! - Eu o tiro lá e ele choraminga.

- Que porra é essa, Alan?!

Olho para o lado e vejo o meu irmão, Jack, saindo de dentro do seu quarto.

- Não é nada, volte para o seu quarto! - Falo pegando os dois cachorros em meus braços, mas eles escapolem.

- Não me diga que agora você é amigo dos animais. - Jack gargalha e se aproxima de um dos cachorrinhos.

- Fique longe dele! - Eu apanho o outro filhote que estava prestes a chegar perto de Jack. - Alguém deixou eles na porta de casa. Assim que amanhecer vou procurar um dono para eles.

- Eu preciso dormir. - Jack fala com os braços cruzados. - Faça-os calar a boca.

- Eu estou tentando... Talvez seja frio, mas eu já os sequei...

- Eles só podem estar com fome.

- Eu não tenho ração de cachorro aqui.

- Dê carne a eles.

- Eu não vou dar a nossa carne para esses cachorros.

- Se você não vai, então eu vou. - Jack vai até a cozinha e eu o sigo. - Amanhã você compra mais, vai ser só dessa vez.

- Certo, tudo bem. Só dessa vez.

Jack pega carne na geladeira e coloca em um prato. Ele deixa no chão e os dois filhotes devoram a carne em um minuto. Em seguida eles param de chorar.

- Viu?! O que eu disse. - Jack fala.

- Você tinha razão, parabéns. Agora volte para a sua cama antes que o Theo acorde também.

- Aquele moleque não vai acordar, ele dorme feito uma pedra. - Jack fala dando de ombros e voltando a dormir.

Vou para o meu quarto também levando os dois filhotes comigo. Fecho a porta e coloco uma das minhas cobertas no chão. Coloco os cachorrinhos em cima dela, mas eles não ficam. Coloco-os novamente em cima dela, mas eles insistiam em sair correndo pelo meu quarto. Desisto de tenta-los faze-los dormir e apenas sento em minha cama e os observo correrem pelo meu quarto. Quando finalmente se cansam, os dois deitam em cima do cobertor e adormecem.

- Eu realmente preciso encontrar um lar para eles. - Murmuro enquanto os observava dormir.

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Cerberus: O Homem de Três CabeçasWhere stories live. Discover now