Capítulo 12

8 1 0
                                    

O dia amanhece e a primeira coisa que faço é tomar um bom banho. Lavo os meus cabelos e escovo os meus dentes. Queria ficar completamente impecável antes de entregar as flores para Frida. Acredito que ela ficará contente com isso, pois sempre que nos encontramos eu estou um pouco sujo por conta do meu trabalho.

Eu trabalho com encanamentos. Sou um ótimo encanador. Não tive muita escolha, pois é a única coisa que eu sei fazer. Eu odeio ter que oferecer o meu serviço, ter de fazer propaganda, esse tipo de coisa. Então me vinculei a uma empresa de marketing, assim como outros trabalhadores autônomos como eu. Ela fica com uma pequena porcentagem do meu lucro para fazer as propagandas por mim. Então quando o trabalho aparece, eles me ligam e eu vou. Os clientes pagam diretamente para eles e eles me entregam o restante do valor pago pelo serviço já com a porcentagem deles abatida.

Por eu ser um autônomo, as vezes acontece de aparecer um serviço por onde passo, e eu prontamente me ofereço para ajudar. O que felizmente me faz tirar um lucro extra no final do mês. E o melhor, sem a maldita porcentagem da empresa de marketing.

Esses dias que estão se passando são das minhas férias que eu mesmo me dei. Depois de tantos anos trabalhando sem parar consegui juntar dinheiro suficiente para me virar por alguns dias sem ter que fazer nada. Outro motivo que me fez tirar essas férias, foi para dar um pouco mais de atenção para Frida. Precisava que ela fosse minha, e eu só tinha alguns dias para tentar fazer isso.

- E então, Theo?! Como eu estou?! – Pergunto ao meu irmão que estava ao meu lado enquanto eu me encarava no espelho.

- Acho que nunca te vi tão arrumado e cheiroso. – Ele ri.

- Era tudo o que eu precisava ouvir! – Saio rapidamente em direção a porta. – Acho que agora eu finalmente estou pronto! Nos vemos mais tarde!

- Espera, Alan! – Theo me grita e eu olho para trás. – Não se esqueça das flores!

- Ah! É verdade! Obrigado, irmãozinho! – Abro a porta. – Não me esperem para o jantar!

Ao fechar a porta e me virar, eu paraliso no lugar quando dou de cara com dois homens muito bem trajados. Pareciam perigosamente importantes.

- Bom dia, senhor...? – Um deles se apresenta.

- McCall... Alan McCall.

- Bom dia, senhor McCall.

- Bom dia. – Respondo tentando disfarçar a minha surpresa.

- Eu sou o Detetive Rick Rogers. – O homem me mostra o seu distintivo de detetive, e quando ele abre o paletó para o guardar de volta, vejo uma arma em sua cintura. - Esse é meu parceiro, Detetive Davon Monroe. Estamos batendo em todas a casas dessa região perguntando sobre o desaparecimento de duas garotas de dezesseis anos que aconteceu nessa mesma rua. O senhor ficou sabendo?

- Acho que ouvi alguns vizinhos comentando, é que eu não fico muito tempo em casa então não sei muito bem sobre os detalhes...

- Por acaso o senhor viu alguma coisa estranha na noite de sexta para sábado? Entre meia noite e quatro da manhã?

- Estranha? Tipo o que por exemplo?

- Gritos... Movimentação anormal na rua... Esse tipo de coisa.

- Não consigo me lembrar de nada. Provavelmente eu estava dormindo nesse horário.

- Tem alguém que possa comprovar que você estavam em casa nesse horário?

- Infelizmente não... Eu moro sozinho...

- E com quem o senhor estava falando quando saiu de casa agora?

- Eu... São meus cachorros... – Raspo a garganta. – É que eu falo com eles... Eles são bons ouvintes para um homem solitário como eu...

- Entendi. Então o senhor é um “pet-friendly”?! – O detetive debocha e olha sorrindo para o amigo. Porém, o tal detetive Davon estava muito mais interessado em vasculhar a frente da minha casa.

- “Pet” o que? – Não entendo o termo que ele havia usado e ele volta sua atenção para mim.

- Deixa para lá... – Ele aponta para mim. – E essas flores? Vai a um encontro com sua namorada?

- São para a minha avó. Ela faleceu ontem. – Minto.

- Eu lamento... - O Detetive tira um cartão do bolso. – Me ligue se souber de alguma coisa. Os pais das garotas estão oferecendo um prémio em dinheiro para quem encontrá-las.

- Sim, senhor. – Falo pegando o cartão e guardando no meu bolso.

- Vamos, Davon. – Rick chama o amigo.

O detetive Davon parecia mais sério do que Rick. Ele não havia dito uma palavra desde que fomos apresentados, apenas ficava observando tudo ao redor. Ele me encara sério antes de dar de ombros para mim e ir embora com seu amigo, Rick.

Aguardo eles se afastarem e atravesso a rua, indo em direção a casa de Frida. Afasto os pensamentos, tentando não me preocupar com aqueles dois detetives rondando a minha casa. Não posso deixar nada tirar o meu foco do que eu estou prestes a fazer, exceto...

O que é isso?!

Me aproximo da janela quando vejo duas pessoas do lado de dentro da casa de Frida. Uma das pessoas era ela e a outra era um homem. Ele estava sentado no sofá com as mãos na cabeça, parecia frustrado com algo. Frida se aproxima dele e acaricia sua cabeça. Ela se abaixa para ficar na mesma altura que o homem e ele a encara. Frida acaricia rosto do homem e o vejo sorrir para ela.

A essa altura eu já estava queimando por dentro com toda a fúria que pudesse existir, não só em mim, mas no universo inteiro. Aperto as rosas em minha mão, sentindo os espinhos atravessarem o plástico e furarem a minha carne. Mas aquela dor não significava nada para mim naquele momento. ABSOLUTAMENTE NADA!!!

O homem se aproxima do rosto de Frida e beija sua testa. Como ele pôde encostar nela assim?! Na minha Frida! MINHA!!! QUEM É ELE?! PORQUE EU NUNCA O VI POR AQUI?! NÃO É POSSÍVEL QUE ELA ARRANJOU UM... UM... NÃO...

Me afasto da janela bruscamente, mas acidentalmente derrubo um vaso de flores que se quebra e causa um barulho que entrega a minha posição. Eu largo as rosas brancas no chão e corro de volta para a minha casa. Bato com a porta e me viro para ela, encostando minha testa na madeira. Espremo os meus olhos tentando conter meus sentimentos.

Como ela pôde fazer isso comigo?! Me trocar assim! Pensei que eu era o único homem que tinha contato com ela! Aquela vadia mentirosa! Bato com a testa na porta e dou um murro nela não contendo mais tudo o que eu estava sentindo naquele momento.

Ouço conversas vindo do lado de fora e corro até a janela mais próxima. Ao olhar através da cortina vejo o homem desconhecido pegar as rosas brancas do chão e procurar em volta. Frida logo aparece também e olha ao redor até que sua visão para no vaso destruído no chão após a queda. Ela se aproxima do vaso quebrado e recolhe os pedaços. Os dois entram de volta para casa e a aflição me consome por dentro outra vez.

Esse homem... Ele não pode tomar o meu lugar assim... A Frida será minha e de mais ninguém... Ele precisa sumir... Preciso de ajuda... E sei quem é a pessoa perfeita para me ajudar com isso...

Encaro um dos quartos da minha casa que estava com a porta fechada.

Jack.

━━ •⁠ᴥ⁠• ━━

Gostou do capítulo? Não se esqueça de votar e se possível comentar!

Cerberus: O Homem de Três CabeçasWhere stories live. Discover now