Capítulo 2 - Paisagem de casas tão parecidas

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#ClubeJeongchaeng 🎭

A mãe se empenhava em bater a massa na vasilha mais do que evitar que a sujeira se espalhasse. Insistia que as batedeiras faziam estrago maior, mas a verdade é que nunca se concentrava o suficiente, enfraquecia o braço e perdia o controle. Sabia que ela devia estar dando o seu máximo para mexer aquele início de bolo.

Aproveitando a concentração da senhora Yoo Seunghyun, Jeongyeon parava lentamente de mexer a calda no fogão desligado e pegava na colher um pouco, apenas para matar a vontade.

"Não coma, Jeongyeon." Sem nenhum movimento além do braço batendo com força a massa, a mãe advertiu. Como ela conseguia isso? Às vezes, o instinto de mãe funcionava mesmo.

Jeongyeon bufou e cruzou os braços, parando por completo de mexer o doce.

Olhando por cima do ombro, a senhora Seunghyun indicou com a cabeça e Jeongyeon se aproximou.

"Qual o problema, hein? Está estranha desde que lhe chamei para cozinhar."

"A senhora nunca chama, mãe." Jeongyeon fez uma pausa longa. Sua mãe não a encarou nem demonstrou insatisfação, sabia que era verdade. "Coisa do colégio, só isso."

Fingindo se importar, deixou de lado a vasilha, a colher e esperou que Jeongyeon prosseguisse. Jeongyeon não queria falar tudo, esses momentos não eram comuns, na verdade, nem se lembrava qual foi a última vez que ficou junto de sua mãe por tanto tempo. Falar sobre problemas, então? Não queria ser uma dor de cabeça.

"Pode falar o que quiser, Jeongyeon." Não, não poderia.

Jeongyeon encostou as costas na cadeira e arranhou a mesa com as unhas curtas. Até onde poderia dizer a ela?

Mãe, eu encontrei algo que eu torcia para nunca mais ver. Ou, mãe, eu estou totalmente perdida.

"Nota baixa." Disfarçou o tom entediado com uma leve tosse. "Fui chamada atenção."

A mão suja de farinha veio logo ao seu encontro, afagando parte do braço. A mãe criou um bico chateado e concordou com a cabeça:

"Não se preocupe tanto." Foi o que disse antes de voltar a vasilha ao lado.

Viu? Jeongyeon não sabia se era seu jeito compreensivo ou uma forma de não lidar com problemas. Odiava os dois, de qualquer forma.

"Precisa de mais alguma coisa?" Jeongyeon levantava da mesa, desinteressada.

"Já untou a forma?" Nem ao menos olhou para filha.

"Uhum."

"Tudo bem, pode ir." Jeongyeon não esperou a frase ser completada, apenas se apressou até o arco da cozinha. "E filha, estude, certo? Seu pai pode ser duro com você."

"Uhum."

Preferia um sermão ao sorriso sonso, logo depois, a inexpressão. Nem conseguia ficar com tanta raiva assim, não é como se esperasse mais do que aquilo. Jeongyeon, ao invés de ir ao quarto, pegou o gato preguiçoso que virara quase uma peça do sofá da sala e saiu de casa.

Não tinha um rumo, um lugar específico, mas gostava de pegar a bicicleta que ia à escola, para andar pelas ruas pacatas do bairro. Nem que fosse para circular a quadra, mas precisava sair dali.

Pôs o gato grande na cesta da bicicleta, que aceitava tranquilamente o lugar apertado, ocupando cada espacinho com seu pelo cinza. Devia trocar a cestinha, do jeito que Bomb andava, não iria caber em pouco tempo ali, e sair de bicicleta sem o maior companheiro era algo fora de cogitação. Precisava de alguém para conversar enquanto visitava aquelas ruas tão conhecidas.

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