Pendente

Capítulo 4 - Respire

#ClubeJeongchaeng🎭

A tinta laranja da quadra descascava perto da entrada, onde havia o bebedouro que vez ou outra dava problema e vazava água. Lembrou disto, pois tinha sede e não bebeu algo ao longo do caminho e como tinha uma poça de água próxima àquele troço enorme de metal, precisaria aguentar mais um pouco.

Era aula de educação física, matéria obrigatória até aos atletas do colégio. O horário não era nada estratégico, início do dia e já iriam suar jogando na quadra abafada.

Jeongyeon andava atrás dos alunos da turma, que iam dispersando até os vestiários. A quadra já estava ocupada, mesmo não tendo uma boa memória, reconhecia rostos de outros terceiranistas. Devia ser uma turma com tempo vago.

Meninas riam escandalosamente sentadas ao alto na arquibancada. Jeongyeon odiava reconhecer quem era. Infelizmente, era necessário proteção.

Não demorou a virar de costas com a pequena muda de roupa e apressar até o vestiário. Empurrou a porta com o braço e foi engolida por aquele mundo feminino. Garotas de sua turma trocavam frente umas as outras sem censura, conversavam alto e dificultavam a passagem para as cabines seguras atrás.

Jeongyeon fixava o olhar ao chão, contando cada ladrilho branco que conseguia afim de chegar ao fundo do vestiário sem bochechas vermelhas. O lugar era tão minúsculo assim? Os bancos de madeira que dividiam os armários atrapalhavam mais que ajudavam.

Por mais que tivesse perdido a conta dos ladrilhos, conseguiu chegar a salvo na porta da cabine. Ao menos uma não estava ocupada, graças.

Se enfiou dentro do banheiro micro e fechou a porta. Não devia confiar nas trancas dos banheiros do colégio, mas era melhor arriscar ficar presa a alguém invadir seu espaço.

Jeongyeon se concentrava apenas na roupa, em retirar rápido a farda social e trocar pela de educação física sem muita enrolação. Se desviasse o olhar a qualquer centímetro seboso daquelas paredes, iria passar mal.

Afrouxava o laço do pescoço e desabotoava a camisa branca. Não era um processo lento, mas congelou com a pancada forte na porta.

"Jeongyeon-ah, abre a porta!" Nayeon ordenou. "Sohee está doida tentando me apertar!" Ela estava rindo.

Era possível distinguir a risadas das duas ali, perto demais. Perigoso demais.

Jeongyeon continuou em silêncio, crendo que assim as espantaria.

É claro que estava errada, quando se tratava de Sohee, nenhuma oportunidade de pôr Jeongyeon no lugar era perdida.

"Ela está aqui dentro?" Kim Sohee perguntou. Nayeon deve ter confirmado com a cabeça, pois uma mão apareceu debaixo da cabine, cheias de unhas grandes e chamativas. "Vou te pegar, Jeong-ah." Era uma ameaça real, mesmo que todas estivessem rindo, sabia ser um aviso próximo.

Segurou com força a roupa contra o corpo e se atirou a parede do banheiro, o mais longe da garra. Fechou os olhos e prendeu a respiração. De novo não.

Sua mente rugia que Sohee iria desistir, deixaria as provocações de lado e sumiria de uma vez. Sua garganta queimava, mas lágrimas nunca eram derramadas. Não conseguia acreditar nas mentiras com tanta força.

Foi a batida forte na porta do vestiário que conseguiu arrancar as serpentes da cabine.

"Estão demorando muito, quem estiver pronta, para a quadra!" Jung utilizava da autoridade de professora, mais o apito estridente para pôr ordem nas garotas.

Jeongyeon disparou até a porta encardida.

Piscava freneticamente, ar esvaia de seus pulmões, não conseguia escutar nada além de seu coração batendo tão desordenado quanto os pés do lado de fora do cubículo. Sua cabeça, a cada puxada de ar, sentia uma fisgada forte e constante. Era necessário colocar as roupas que tinha em suas mãos trêmulas e sumir de uma vez dali.