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O dia amanheceu errado está manhã, começar que meu despertador não funcionou, sua bateria acabou e o bendito não avisou. Tudo bem, apenas o atirei contra a parede e peguei o de segurança, que comprei junto ao outro e coloquei no lugar. Ao ir no banheiro depois do café, tomar meus remedios, adivinha o que aconteceu? Meu último remedio, por um acaso do destino, caiu no ralo da pia, antes que pudesse tomá-lo. Sem o calmante do dia. Devido a esse pequeno incidente, cheguei ao café atrasado, encontrando apenas Corey tendo que lidar com todo mundo, pois minha mãe precisou viajar para resolver umas coisas para David.

Até aí, o dia estava sendo razoável.

Então, tudo desandou quando o supervisor do curso, o senhor Yukimura mandou me chamar na sua sala, bem no início da manhã, tinha acabado de chegar na faculdade e bum, orientação. Me fui, o coração na mão, o humor no chão. Um dos professores, o Finch, teve um problema no apartamento, alagou, e perdeu os três trabalhos que entreguei. Observação: esse professor odeia tecnologia, acredita que elas só servem para nos alienar e distorcer a verdade. Resumindo: vou precisar refazer as atividades. Somente isso, já acabou com o vestígio de humor que ainda mantinha. Se ele estava no chão, agora se encontrava no núcleo da terra.

Sento-me ao lado de Mason, meu melhor amigo está cheio de cadernos na sua frente. Hayden me encara, ela parece sentir minha irritação, a pergunta presente nos olhos. "O que aconteceu?". Tiro meu livro da mochila, ignorando sua atenção e largando em cima da mesa.

— Quero chamar o Corey para sair. — Mason nos conta, mexendo as mãos.

Minha visão está embaçada. Como se nao pudesse enxergar nada. Não preciso de muito para saber que minha pressão esta desregular e alta, minhas mãos estão tremendo, meu controle esta por um triz.

— Chame. — Hayden dá de ombros, os olhos ainda grudados em mim.

— O que você acha?

Ignoro a pergunta de Mason, discando o número de Brett. Lembro-me de ter deixado umas coisas na sua casa, uma cartela de meus remedios no meio das roupas. Tenho certeza.

A chamada é recusada logo após o terceiro toque. Brett está me evitando desde nosso último encontro. Desde o término. Retorno a discar. Quem ele pensa que é para me negar?

Aperto o celular entre os dedos, ouvindo a voz da secretária eletrônica. Minha cabeça já começou a latejar, a raiva cresceu ainda mais. Fazia meses que não ficava sem meu remédio, fazia meses que nao sentia minhas sensações a flor da pele, e elas estavam cobrando esses dias.

— Li? — Mason pega o celular de entre meus dedos, me fazendo erguer a cabeça — Liam, respira.

Concordo. Puxando o ar pelo nariz, soltando pela boca. Os tiques aprendidos na terapia retornam a minha cabeça e eu tento voltar ao normal, apenas tento.

— Eu... — estou transpirando, a respiração falha — Eu vou embora.

Hayden afirma. Ela percebeu antes mesmo de Mason que estou numa crise, que estou irritado, e ela já me viu estourando. Não seria legal estourar novamente, não na faculdade.

No primeiro ano, quando entrei pela bolsa de esportes, eu não estava tomando meus remédios, não dá para jogar lacroste quando se toma eles. Eu ficava lento demais, a reação automática só acontecia segundos depois do oponente. Não tinha como jogar. Então, quando no segundo jogo, fui posto. Um garoto se bateu comigo, atrapalhou minha chance de marcar. Quando o jogo terminou, o esperei na frente do ônibus e soquei sua cara até ser tirado de cima dele. Mason e mais dois garotos do time rival.

A universidade revogou minha bolsa, só não me expulsou por conta de David, ele era o médico da cidade, mesmo tendo pouco tempo, já tinha um bom relacionamento com pessoas influentes. Continuei na BHU, mas sem bolsa agora.

TORTA, CAPPUCCINO & (DES)ENCONTRO | 𝓣𝓱𝓲𝓪𝓶حيث تعيش القصص. اكتشف الآن