Cap. 7

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Por Eduardo

São 17:30hs e estou no metrô, sento em um assento e coloco os fones, meu aleatório me surpreende com "Simplesmente Aconteceu" da Ana Carolina. Encosto minha cabeça no vidro e olho por ele, antes das lágrimas transbordarem por minhas bochechas. Tô cansado disso, cansado de ter que continuar vivendo desse jeito monótono e vazio.

Todos os dias que acordo e não encontro meu André do meu lado é como se um pedaço de mim, estivesse se perdido por aí  por mais que eu tentasse seguir, essa ausência só me machucava ainda mais. Não queria que tivesse chegado a esse ponto, mas eu preciso fazer isso, meu filho precisa de proteção e o único jeito de fazer isso é continuar vivendo com a Judite.

Maldita hora que o Paulo apareceu na minha vida e do André, se ele não tivesse aparecido eu jamais teria encontrado a Judite naquele fim de mundo, apesar que, se isso não tivesse acontecido não teria encontrado o meu filho.

Quando o avô do André, Gustavo, soube que eu tinha um filho, sabia que precisava me ajudar a cuidar dele, porque, até aquele presente eu só tinha tempo pra cuidar do meu pai. E mesmo sabendo que tudo estava complicado eu acabei engravidando a minha namorada — que deu a luz a um menino — o pequeno Miguel.

Naquela época, Judite era o amor da minha vida, éramos felizes de certo modo, mas o pai dela não aprovava nosso relacionamento e aparentemente criou um tipo de aversão descabida com o próprio neto. Logo, ele e o ex-namorado da Judite começaram a nos perseguir, o que só dificultou ainda mais nossa relação. Lembro que conversei com o Gustavo, e ele teve a ideia de tentar esconder a Judite e meu filho em uma cidade vizinha, mas com a influência do pai dela juntamente com os aparatos da tecnologia, não foi difícil para ele encontra-los.

Primeiro foi só uma surra, e na segunda vez que a Judite fugiu e ele os encontrou, foi algo muito pior, sobrou até pro Miguel, ambos foram espancados pelos capangas do meu sogro até quase a morte. Foi a gota d'água pra mim, implorei pro seu Gustavo fazer algo a respeito e ele os escondeu nos confins do nordeste, e eu só os encontrei semanas atrás depois de uma ironia do destino.

Quando vi a Judite algo reacendeu dentro de mim, mas não foi amor, foi aquela sensação de medo e insegurança, não vou dizer que ela me agarrou e me obrigou a beijá-la, eu permiti e isso só foi acarretando uma série de problemas, eu não conseguia dispensa-la.

Imagine falar que depois dela ter deixado sua vida de lado para proteger nosso filho, eu simplesmente me apaixonei por um cara e que não a amava mais. Acabei sendo fraco, e com isso preferi ficar com a Judite, numa forma de recompensa por tantos sacrifícios.

Infelizmente, tomando essa atitude machuquei o André e ainda o perdi, uma das piores dores que já senti na minha vida. Toda vez que eu o via com aquele olhar triste, era como se mil facas fossem cravadas no meu peito. Mas  agora é tentar seguir em frente por mais que doa.

*[…]*
Chego em casa e encontro o Miguel assistindo TV, aquela cena aquece de um jeito meu coração, como se independente de todas as perdas que eu já tive na vida, aquilo amenizasse toda a dor instalada em meu peito.

— Oi Guel! — ele me encara. — Cadê sua mãe?

— Oi, Eduardo, ela acabou de sair. — pelas ausências eu e o Miguel não tínhamos uma relação forte de pai e filho, mas isso vai mudar, tenho trabalhado nisso.

— Será que ela demorar? — sento no sofá. 

— Acho que não, ela só foi no supermercado comprar umas coisas que estavam faltando!

— E o trabalho de segurança, como vai? — sento no sofá ao seu lado, já sabendo que vou levantar em seguida.

— Que cara de desânimo é essa?

— Nada. Só estou cansado mesmo! — bocejo. — Vida corrida! Vou só comer algo e me preparar pro outro trabalho.

— Haja disposição. — ele sorri. — Vou tomar logo meu banho pra poder comer também, tô com uma fominha já.

— Deixa eu ir primeiro, pra não me atrasar.

— Tá certo então! — Levanto

— E a escola? Tá tudo direitinho?

— Tô tentando me acostumar, sou novato, as aulas já estão em andamento, então é complicado ainda. — Miguel sorri amarelo. — Mas não se preocupe, é uma questão de tempo até tudo fluir.

— Sabe que qualquer coisa pode contar comigo, né? — ele assente.

— Não seria melhor eu procurar algum trabalho pra ajudar nas despesas? Você tá se matando de trabalhar…

— De onde tirou isso? Não quero você trabalhando, quero você estudando, tirando boas notas e se preocupando com seu futuro, moço! — passo a mão em seu cabelo. — Sua mãe tá procurando emprego, assim que ela conseguir vou poder respirar um pouquinho. Mas não se preocupe, como você mesmo acabou de dizer, daqui a pouco tudo começa a fluir.

— Tudo bem então!

Vou no quarto pegar o uniforme no quarto e me dirijo pro banheiro, o cheiro de alecrim invadem minhas narinas, me deixando levemente enjoado, tenho que falar com a Judite pra trocar esse desinfetante insuportável.

Retiro as calças, seguido da camisa e fico pelado, enquanto encaro meu reflexo no espelho. É, o Miguel tem razão, tô acabado, há olheiras ao redor dos meus olhos, e minha pela tá com uma cor estranha, como se estivesse perdendo a cor.

— Ai, André, que saudades de você, meu pequeno! — lágrimas solitárias começam a molhar minha bochecha. — Eu só queria a vida não fosse tão complicada. — limpo meu rosto com o polegar e entro no box. Ligo o chuveiro e a água morna molha meu corpo de forma violenta, respiro fundo e desligo o chuveiro. Pego o sabonete em barra e espalho levemente sobre meu rosto e peitoral, vou descendo, e ao tocar na glande do meu pênis, é inevitável não lembrar do André chupando ele, coloco o sabonete e resolvo me aliviar um pouco.

Saio do banheiro me sentindo leve, e vou direto pra cozinha, onde encontro Judite esquentando algo na panela!

- E então, comprou o que precisava ? - Puxo a cadeira e sento - Já tem café ?

- Comprei sim amor - Ela me passa a  garrafa térmica - Mas tá complicado viu, tá tudo muito caro! Preciso arranjar logo esse emprego, pra te ajudar nas despesas!

- Você vai achar, não se preocupe! - Pego cinco pedaços de bolo e começo a tomar meu café!

- Vou começar a procurar como faxineira? O que não posso é ficar parada! 

- Sim...

- Tá tudo bem ? - Ergo o olhar - Tá com uma expressão de tristeza!

- Não se preocupe, só tô um pouco cansado! - Estou me sentindo um papagaio, toda hora repetindo a mesma coisa!

- Miguel tava me falando mas cedo sobre trabalhar acredita ? - Ela volta a mexer algo na panela!

- Sim! Ele me falou!

- E o que você falou ? - Termino de comer!

- Óbvio que não né ... Ele tem que focar nos estudos!

- Também acho amor, foi o que eu disse pra ele! - Levanto da cadeira - Já vai ? - Assinto - Você mal sentou!

- Não quero chegar atrasado amor! Vou de ônibus, não dá pra ir de metrô!

-  Tudo bem então amor - Ela se aproxima e me dá um selinho de leve! - Bom trabalho amor!

(...)

Entro no ônibus e só pra variar ele tá lotadissímo, procuro um lugar pra ficar e aumento o volume do celular, e a voz de  Lewis invade meus ouvidos!
O que será que o André tá fazendo uma hora dessas? Será que sente minha falta, assim como eu sinto dele ? É acho que não, não depois de tudo que eu fiz, eu o perdi pra sempre!
Sinto a tristeza tomar conta do meu corpo, sinto tanta saudades do André que até as músicas que ele gostava, eu tô ouvindo, e olha que eu detestava elas, mas agora, quando eu as ouço, fecho os olhos, e por um momento sinto que o André tá aqui comigo!
Vaga um lugar, e eu praticamente me atiro no assento, me ajeito e coloco a cabeça grudada no vidro da janela!

Continua...

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