Mate-me de agonia;

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14h55min.

Havia essa goteira irritante no fundo, como quando você esquece uma torneira ligada e apenas ouve o gotejar de longe. Também tinha fumaça ao redor, muita fumaça, e o som de pneu girando levemente com um ranger, mas fora isso havia somente o silêncio.

E parecia lhe engolir.

Jungkook abriu os olhos e a primeira coisa que percebeu é que o gotejar vinha da ponta de seus dedos, o sangue que escorria de seu antebraço pingava em cima de uma superfície de isopor que ele não fazia a menor ideia do que seria. Estava de cabeça pra baixo, o carro amassado e destruído, com a janela ao seu lado despedaçada e o vidro dianteiro trincado.

A segunda coisa que percebeu, foi a dor aguda em seu abdômen ao puxar a respiração e ela sair de forma trêmula de seus lábios. O cinto de segurança estava mal ajustado em seu corpo, pressionado junto ao próprio peso diretamente onde vinha a dor em sua barriga. Sentiu medo de olhar, medo da gravidade do ferimento.

Portanto olhou ao seu redor, procurando um jeito de sair dali quando notou Jimin inconsciente ao seu lado na mesma posição. Sentiu que a única coisa que lhe mantinha suspenso no ar era o cinto de segurança quando se impulsionou para o lado, os dedos ensanguentados da mão esquerda completamente instáveis ao checar o pescoço do Park para ver se havia pulsação.

Por que ainda se importava, inferno?

Com raiva do alívio idiota que correu seu corpo ao constatar que o mesmo estava vivo, tateou ao seu redor até encontrar a trava de segurança do cinto, apoiando a outra mão no teto do carro para não cair de vez ao tirar o mesmo. Dessa vez foi impossível não deixar um pequeno ruído sair de seus lábios, ele tinha certeza de que havia fraturado uma costela ou algo do tipo.

Olhou brevemente para baixo para certificar-se de que não havia nada alojado em sua pele, imaginando então que algo durante o acidente tenha acertado ali com uma força considerável. Suspirou em alívio, podia ter sido muito pior.

Arrastou-se para fora usando a janela quebrada, os cacos de vidro no chão não contribuindo muito ao arranharem seus antebraços, a palma de suas mãos e seus joelhos. Quando enfim estava completamente fora do carro se levantou com dificuldade, apoiando a mão ferida nas costelas e engolindo um gemido de dor. Não poderia reclamar disso, afinal ele mesmo havia causado tudo.

Imaginou onde o Park estaria lhe levando, e se sentiu um pouco melhor em relação a isso. Na certa o acidente era melhor do que o seu destino final nas mãos do outro. E com esse pensamento forçou os pés a andarem até o outro lado do carro, onde Jimin ainda estava.

Ele se agachou na janela, tentando não olhar muito para o mais velho e sendo o mais cuidadoso possível quando vasculhou em seus bolsos em busca do celular dele, com medo de deixar sair uma respiração mais forte que fosse. Além disso, procurou também a carteira e a arma escondida embaixo do volante - sempre soube da mesma ali, mas até então nunca havia parecido um risco, somente uma precaução. Ao recuperar tudo remotamente necessário para ir pra bem longe do Park, levou um longo segundo focando os olhos no rostinho ferido de filho da puta dele.

Ainda não podia acreditar.

Tudo, tudo mesmo, havia sido uma mentira.

Se levantou, a raiva retornando e lhe deixando aéreo, contribuindo para que sentisse menos as feridas em seu corpo. Olhou ao redor em busca de algo, mas não havia nada, somente estrada e uma grande floresta nos dois lados da pista, parecendo a porra de um filme. O lugar era como uma fotografia, tão bonito e sinistro que chegava a ser patético.

Tomou um minuto indeciso entre voltar ao chalé ou seguir pelo outro lado da estrada, ele poderia colocar fogo no lugar e destruir todas as evidências que o Park tinha. Mas o que lhe garantia que aquelas eram as únicas? Ele não era idiota, com certeza tinha um plano B caso aquelas provas fossem comprometidas. Além disso, considerando quantos anos Jimin estava ao redor com toda certeza muitas informações já haviam sido entregues a polícia.

Mate-me, JungkookWhere stories live. Discover now