Pão e sopa

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Quando Chaeyoung saiu da cabine do capitão, sua mente zumbia, cheia de pensamentos em Jimin. Quando seu irmão iria se juntar a eles? Onde estaria agora? Ao passar pela porta, viu-se não no convés exterior, como esperava, mas no corredor interno, cheio de portas fechadas dos dois lados.

Os aposentos do capitão deviam ter duas entradas, percebeu. Não ousou voltar para a cabine dele e sair pela outra porta. Além disso, devia haver outra saída desse corredor para o lado de fora.

Sem dúvida, quando chegou ao fim do corredor havia uma porta à esquerda, dando para o convés. À direita notou uma escada que mergulhava até as profundezas escuras do navio. Deveria ir para a esquerda, de volta à segurança de sua cabine, ou então para o convés deserto iluminado pelo sol.

Mas a escada oferecia uma alternativa hipnotizante, o capitão não a proibira de explorar o navio. Só havia pedido que voltasse à cabine na hora do Toque do Anoitecer, o dia ainda estava no início. Tinha bastante tempo para dar uma volta rápida e olhar embaixo do convés para ter uma idéia melhor do navio, enquanto os tripulantes dormiam.

A escada levava a outro corredor. Era mal iluminado, com lampiões que pouco clareavam as fileiras de portas das cabines dos dois lados. Felizmente um tapete — ainda que puído — fora esticado ao longo das tábuas e absorvia o som de seus passos cautelosos.

Era um silêncio fantasmagórico, ou talvez assim parecesse, enquanto Chaeyoung imaginava as pessoas, as criaturas, que habitavam os aposentos ao redor. Era um corredor longo, e ela ficou tentada a voltar e interromper a exploração.

Não, disse a si mesma, isso é bobagem. Já não havia conhecido dois vampiros? Mesmo não querendo pensar neles desse modo, era isso que Lisa e o capitão eram.

E haviam se mostrado demônios? Lisa não poderia ser mais diferente de um demônio, a não ser, talvez, naquele breve momento em que suas feições tinham assumido uma súbita aspereza — mas havia sido tão rápido que talvez fosse apenas um efeito da luz.

Quanto ao capitão — claro que a máscara e a capa eram intimidantes, e demorava algum tempo para que se acostumasse com o sussurro estranho e incorpóreo. No entanto, suas palavras haviam expressado apenas o desejo de cuidar dela. E através da visão de Jimin ele lhe dera esperança.

Os dois vampiros que havia conhecido tinham mostrado prudência e preocupação. Por que o restante da tripulação seria diferente, mais perigoso? Mesmo assim, nem Lisa nem o capitão tinham parecido gostar da idéia de Chaeyoung encontrar os outros. Seria cautelosa.

Continuou pelo corredor, contando cada porta para ter a idéia do tamanho da tripulação. Depois de vinte, parou de contar. Se havia dois vampiros em cada cabine, já seriam quarenta. Se houvesse quatro, seriam oitenta. Mesmo que cada cabine fosse ocupada apenas por um deles, ainda seria... algo em que ela preferiria não pensar.

Tremendo ligeiramente, continuou andando, tendo o cuidado de pisar com firmeza e em silêncio no centro do tapete.

Lembrou-se de quando era pequena e, inspirada por algum filme ou livro de histórias, havia passado meses decidida a jamais pisar nas rachaduras da calçada para não cair, através delas, no covil de leões, tigres e ursos.

No final do corredor havia outra escada. Chaeyoung hesitou, mas parecia não haver sentido em não descê-la e ver aonde levava — principalmente depois de ter chegado tão longe.

Ela a conduziu a outro corredor, semelhante ao primeiro, mas talvez só um pouco mais estreito e com menos lampiões. Seria lar de outros deles? Devia ser. Indo em frente, contou mais trinta portas, depois parou.

De novo lembrou-se de que Lisa e o capitão tinham prometido protegê-la. As palavras do capitão redemoinharam de volta em sua cabeça. Não estamos atrás do seu sangue. Temos outros modos de atender às necessidades da tripulação.

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