Prólogo

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Lucia

Perder um ente querido é uma dor que parece dilacerar a gente de dentro pra fora.  Meu avô Gregório Brown teve um infarto e não resistiu falecendo logo logo seguida. Minha avó está destruída, minha mãe e minha tia tentam ser fortes, mas sei que a dor de perder o pai também está machucando elas.
Vovô era incrível, uma avó doce, gentil e brincalhão. Lembro-me de quando José Vicente, Kate e eu éramos crianças, ele sempre estava onde a gente estava, e sempre tinha boas risadas. Saber que nunca mais vamos vê-lo torna tudo mais triste e sem vida.

— Como você está, prima?

Kate pergunta sentando ao meu lado no banco, estamos do lado de fora da sala de velório onde vovô esta sendo velado.

— Na medida do possível bem... E você?

— A mesma coisa... Vou sentir saudades do vovô. Ele era incrível...

Sorrimos.
Logo José Vicente senta do meu outro lado e ficamos os três sentados no banco, olhando para a imensidão azul do céu e os muitos túmulos pelo cemitério.

— Acham que nossa família vai superar a perda do vovô?

Kate e eu olhamos para José.

— A vovó está sofrendo tanto... A mamãe e a tia Helena tentam esconder, mas também estão sofrendo. Acham que vamos conseguir vencer essa dor?

— Vamos sim, José — Kate diz. — Infelizmente essa é a única certeza que temos na nossa vida. Um dia todos vamos morrer... As pessoas que sofrem aqui na terra sofrem por um certo período, depois toda dor se torna saudade, apenas. Saudade dos momentos em que viveu com a pessoa amada... e isso vai acontecer. Não agora, porque ainda está muito recente, mas com o passar dos dias, dos meses, dos anos, todos vamos superar a dor de perder o vovô e o que ficará será apenas a saudade.

Sorrio balançando a cabeça assentindo, então pego a mão do meu irmão, em seguida a de Kate e digo:

— Nossa família já passou por coisas muito piores, vamos superar essa também. E nós três vamos ajudar elas a vencerem essa dor, está bem? O vovô ia querer isso.

— Isso! Isso mesmo!

— Os primos Browns em ação?

José Vicente pergunta rindo:

— Os primos Browns em ação!

Unimos nossas mãos selando a missão de ajudar nossa família a passar por essa dor. Esse seria o desejo do vovô. Que não ficássemos estagnados na dor, que sentissemos a dor, mas não para sempre.
Existe vida depois da morte, e uma vida muito melhor que essa... E por mais que doa a morte do vovô, vamos seguir em frente, porque esse seria, sem duvidas, o desejo dele.

Alguns dias depois

— Oh Lucia, que bom te ver querida!

— Oi tia, também é bom te ver — digo levantando do sofá onde estava conversando com Kate, em seguida abraço tia Helena. — Como está?

— Estou bem, bem melhor que ontem e amanhã bem melhor que hoje — ela diz quando nos afastamos e sorri gentilmente. — E você, como está? Desculpe não ter ido te receber no aeroporto, Teresa disse que você chegou um dia antes da morte do papai.

— Foi sim... 10 meses fora e quando retorno... — respiro fundo. — queria ter me despedido do vovô, mas não deu...

— Ele te amava muito, Lucia! Jamais duvide disso, está bem?

Balanço a cabeça assentindo.

— Mas me conta, como foi esses meses todos fora do país? Me diz, o que fez por lá? O que...

— Foi só trabalho, tia — digo a interrompendo. — Na verdade muito trabalho e muito estudo, só isso.

— Você como sempre com a cara afundada nos estudos e trabalhando demais! E Kate está indo pelo mesmo caminho.

Kate e eu nos entreolhamos e no mesmo instante rimos, tia Helena também rir.

— Mas que bom, assim você não dão trabalho.

Tio Lucas entra na sala, quando tia Helena o vê, abre um sorriso largo, ela o ama tanto e esse amor que ambos sentem um pelo outro é perceptível e incrivelmente fofo.
Ambos selam seus lábios e após tio Lucas me cumprimenta, sorrio dizendo:

— Como esta, tio?

— Estou bem, Lucia! E você cresceu — ele diz entre risos. — Como foram os meses fora?

— Ela disse que só estudou e trabalhou, amor! Veja só...

— Essa é a Lucia Brown!

Rimos.

— Mamãe, papai, Lucia e eu vamos sair um pouco. Tudo bem?

— Claro filhaa — tia Helena diz. — Você já é adulta, nem precisa pedir permissão. E aliás, eu super apoio que você saia um pouco e se destraia...

Sorrio olhando para Kate.

— Então vamos, prima?

— Eu só vou pegar minha bolsa lá em cima e já vamos.

— Tá bom!

Dou risada e Kate sobe correndo.

— Ela quer cuidar de mim o tempo todo e acaba esquecendo dela mesmo. Cuida bem dela, está bem?

— Ela é incrível, tia e está preocupada com a senhora. Depois de tudo, acho que ela só precisa ter certeza que a senhora está bem.

Tia Helena sorri e seus olhos se enchem de lágrimas.

— Eu perdi 3 filhos e perdi meu pai, isso de fato machuca qualquer pessoa. Mas eu tenho o Lucas, tenho a Kate e tenho todos vocês. Isso me dá forças para continuar seguindo minha vida, da melhor maneira possível. Então, por favor, coloca na cabeça da minha filha que ela precisa construir a vida dela, da melhor maneira que ela puder.

Sorrio balançando a cabeça assentindo, então tio Lucas beija a testa de tia Helena e ela sorri fechando os olhos.
Há alguns anos tia Helena e tio Lucas tentam ter outro filho, mas não conseguem. Todas as 3 vezes que ela conseguiu engravidar, acabou perdendo o bebê e sofrendo como nunca. Mas como nunca, também se restaurava e seguia em frente.
Essa é a minha tia Helena, uma das mulheres mais fortes e guerreiras que já conheci em toda a minha vida.

— Vamos! Vamos! Vamos!

Kate diz descendo as escadas correndo.

— Se cuidem meninas!

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Até logo!

Unidos Por Ela - 5° temporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora