Capítulo 14

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Lúcia

Jamais poderia aceitar a ideia de que mamãe se culpa ou se sente fracassada.
A escolha de não contar o que rainha acontecido foi minha, eu tinha vergonha, tinha medo do que poderia acontecer, de como as coisas aconteceram e por das consequências que tudo aquilo estava causando. Por mais que eu tivesse vontade de contar e de correr pro colo dela e chorar, eu não tinha coragem de o fazer. Vergonha de como as coisas aconteceram, raiva de mim mesmo por ter aceitado ir pra aquela festa e medo das ameaças que eu já estava recebendo deles.
Contei a minha família sobre o que sofri, sobre a Grace, sobre a adoção e sobre a volta da Renata, da doença e sobre ter a Grace de volta. Eu não contei o que de fato fez eu tomar a decisão de entregar a Grace pra Renata, embora eles tenham mesmo me deixado em paz, não quero correr riscos, nesse momento a Grace é o que mais importa.
Eles acham que tomei a decisão de entregar, mas meu amor por ela só cresceu, mesmo com a decisão. O que não é uma mentira, meu amor pela Grace só cresceu desde que a deixei em Lisboa, meu único consolo foi aquela bendita foto.
Quando percebi que meus pais estavam dormindo, levantei devagar da cama e em passos devagar, saí do quarto. Respiro fundo e desço para a cozinha beber água, assim que entro, pego um copo, em seguida vou até a geladeira e a abro pegando a jarra de água, sento na cadeira do balcão e após colocar a água no copo, fecho meus olhos bebendo um gole. Sorrio fraco e quando abro os olhos, vejo meu pai entrando na cozinha.

— Pai? Não estava dormindo?

— Não, eu vi você levantar e sair como um ladrão fugindo — ele fala rindo, então pega meu copo e bebe o restante da água, sorrio. — Está sem sono, querida?

— Estou com muitas coisas na cabeça... A doença da Renata, ter a Grace...

— Isso te deixa triste ou feliz?

Papai senta na cadeira do balcão ao meu lado, coloco mais água no copo.

— Triste por causa da Renata. Criamos uma amizade linda em Lisboa, e saber que ela tem pouco tempo de vida me deixa muito triste. E ao mesmo tempo, feliz por ter minha filha de novo na minha vida.

Ele balança a cabeça assentindo, então percebo que ele está um pouco estranho, franzo a testa perguntando:

— Tudo bem, pai?

— Na verdade não...

— O que houve?

— Lúcia, filha, eu trabalho há muitos anos na polícia. Eu já enfrentei todos os tipos de casos, acredite quando eu digo todos os tipos de casos. E isso me fez ter uma boa experiência em situações como essa que você viveu, então eu consigo enxergar nas vítimas quando estão escondendo algo, quando estão escondendo algo por medo.

— Não entendo, pai...

— Filha, você contou tudo pra gente?

Meu coração acelera.

— Lúcia, você contou absolutamente tudo o que aconteceu com você pra gente? Por que quando eu olho pra você, eu vejo medo, filha. Vejo uma vítima que está escondendo algo delicado, não porque quer esconder, mas por medo das consequências que isso pode trazer caso conte tudo.

— Pai...

— Quero que você me conte absolutamente tudo, filha! Tudo.

Unidos Por Ela - 5° temporadaWhere stories live. Discover now