Bem assim, as mulheres eram escravas dentro do harém. Faziam todos os tipos de trabalhos: arrumadeira, babás, aias, copeiras e algumas tinham a sorte de serem escolhidas pela valide e também pelo sultão, que podia escolher qual queria se relacionar.
Essas mulheres chegavam dos quatro cantos do império, e muitas vezes eram compradas no mercado, sequestradas da família e trazidas como prisioneiras de guerra. Por isso que elas não gostavam quando eram expostas como mercadorias, porque devia ser horrível se sentir um objeto.
Nem mesmo Tayla com todo o seu amor, estava disponível a ser assim tão desvalorizada.
No outro final de semana, a valide Soraia veio escolher seis mulheres que seriam apreciadas e escolhida para uma noite com o sultão. Esse era um momento que todas nós odiávamos, porque uma coisa é ser submissa a um homem e outra é ser analisada por ele, se servimos para o sexo e a procriação.
No fim das contas, ali nós não tínhamos mesmo voz ativa, aliás, nenhum tipo de voz. Mesmo não querendo essa exposição, fiquei decepcionada por não ter sido a escolhida, achei que ele me queria de alguma forma, que pudesse interferir nas escolhas da sua mãe. A escolhida por ele voltou nas nuvens, Hadija tem vinte e um anos como eu e já tinha sido iniciada por ele alguns meses atrás. Segundo o que contou para todas, ele é lindo, cheiroso e a tratou com carinho.
— Vocês fizeram sexo oral? — Pergunto alto no meio da conversa e todas olham para mim curiosas.
— Por que está perguntando isso agora, Tayla?
— Sei lá, quero saber o que acontece entre quatro paredes com ele, sabem que eu não tenho experiência nenhuma. — Desconverso e fico ansiosa que alguma delas me responda. Hadija me conta.
— Não, Tayla. Nós não podemos tocá-lo, nem mesmo beijá-lo. Ele é atencioso, mas somos apenas usadas para procriação e eu espero estar em meus dias férteis, seria um sonho se tornar a favorita. Dizem que lá nós temos algumas regalias.
— Você o ama? — Todas riem da minha cara.
— Claro que não, que pergunta é essa? Não estamos em um lugar para pensar em romantismo, estamos fardadas a um homem e temos que tentar nos manter no melhor lugar do palácio e o melhor lugar é parindo um filho homem. — As garotas ficam conversando e eu me afasto, pensando nas carícias que trocamos. Então se isso não é frequente entre as mulheres do sultão, porque ele me deixou fazer? Também deu para notar que não existe sentimentos aqui nessa ala, que eu sou a única a amar aquele homem.
O dia de ter as respostas das minhas indagações chegou, quando fui enviada a ala das favoritas levar um corte de tecido para a confecção de roupas de inverno. Uma delas fez questão de um tecido xadrez que é usado na ala dos serviçais e eu fui encarregada de levar até lá.
Na volta, ao passar pela fonte dos amores, meu lugar preferido no palácio, paro um pouco para tomar sol e contemplar a beleza do lugar. São poucas as vezes que me sinto livre aqui e estar em contato com a natureza me faz feliz. Olho o céu azul e respiro o ar puro do lugar tão pouco frequentado. Não estou usando o véu, então deixo meus cabelos receberem os raios solares.
— Espero que não esteja em apuros outra vez, Tayla. — O sultão diz bem próximo de mim, me assustando de verdade.
— Acho que dessa vez o senhor não tem do que se preocupar. — Ele senta ao meu lado na fonte e pede distanciamento do seu conselheiro Yossef.
— Já que está aqui, posso ser audaciosa e perguntar algo?
— Naturalmente, já percebi que é uma mulher curiosa.
— Por que não me escolhe como candidata se sabe que eu o desejo e também sabe que nossas interações foram boas para mim e para o senhor?
— Porque candidatas não são escolhidas assim, Tayla.
— Okay, eu entendo isso, estudei sobre o império e seu harém, mas muitas mulheres estão aqui sem desejarem estar, enquanto eu estou aqui porque eu quero ser sua, e aí eu não posso ser sua, porque não estou dentro dos padrões.
— E quem disse que você não está dentro dos padrões?
— Você acabou de dizer isso.
— Não, eu não disse isso, eu falei que as candidatas e as favoritas são escolhidas por outros motivos que não sejam só os sexuais. Há uma somatória de vários quesitos e você não se enquadra nela. — Levo a cabeça nas minhas mãos.
— Então, eu nunca vou ter a chance de estar em sua cama? — Ele levanta da fonte.
— Eu não disse isso também.
— Por Allah, Said. Eu quero você, não enxerga isso? — Levo a mão aos lábios porque acredito que infringi muitas regras, chamando-o pelo nome de batismo e alterando a voz um pouquinho.
— Desculpe, senhor. — Viro as costas para ele e caminho em direção a minha ala. Não é possível que não posso ficar com ele nenhuma noite sequer. Não sei o que eu tenho, ou o que eu não tenho que atrapalha esse encontro. Com certeza, eu devo ser alguém bem inferior as outras, mas eu não sou uma idiota e quando eu digo que eu me deitarei com ele, eu deitarei, ou não me chamo Tayla Al-Rashidi, a determinada.
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A ÚNICA DO SULTÃO
Short StoryÉ um conto com 16 capítulos que mostra a estória de uma mulher, Tayla, 21 anos, que vive em um harém e se apaixona pelo sultão, sem pensar que ali não é um lugar para uma mulher ter esse tipo de sentimento. Tayla nem mesmo fazia parte das candidatas...