CAPÍTULO 14

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Verdades precisam ser ditas, há muita especulação sobre os desejos sexuais na gravidez. Desde a diminuição do desejo no primeiro trimestre por conta das alterações hormonais, como enjoos, sono excessivo, quanto ao aumento da libido no segundo trimestre por conta da vascularização da região da vagina que favorece o prazer no ato sexual.

Há quem diga que na gestação de menina há mais enjoos por conta dos hormônios femininos e na gestação de meninos o desejo aumenta por conta da abundância de hormônios masculinos. Eu só acho que a placenta é quem produz os hormônios da gravidez, mas tá tudo bem, cada um no seu quadrado.

Pode ser que o sultão enfim, tenha o seu filho homem...

Depois dessa nossa conversa, o sultão criou uma rotina semanal comigo. Não eram momentos oficiais, mas eram extremamente prazerosos. Nós vivíamos em uma bolha, uma vida de casados quando ele estava em casa. Sexo, comida, diversão e mais sexo. Ele saia ao amanhecer e todas sabiam o que vinha acontecendo do outro lado da cerca. Para mim isso estava me bastando até quarenta dias antes do parto.

O sultão avisou que se ausentaria nos últimos dias para não provocar nenhum problema para mim, e apesar de achar que tínhamos muito mais a fazer do que simplesmente sexo, eu já tinha invadido demais o seu espaço masculino.

Minha bolsa estourou em exatos nove meses e foi um parto delicado porque a criança era grande e eu pequena demais para colocá-la ao mundo. Tive muito medo de não suportar a dor.

Por Allah, o médico estava ali e ajudou a parteira. Quando ele colocou meu filho nos braços e eu vi que era um homem, que era lindo e que era perfeito, o meu destino estava traçado. Eu seria a número um, a esposa favorita e isso sempre foi o que eu almejei.

O sultão entrou no quarto logo depois, olhou para mim preocupado e pegou nosso filho nos braços. Uma lágrima rolou em sua face, mas algo me chamou a atenção. Ele não parecia feliz, ele estava apenas cumprindo um ritual, de tantos outros que eu assisti nesses meses em que estive ao seu lado de modo mais efetivo.

Esse sentimento foi aumentando à medida que Mohammed Abdul Al-Maktoun foi ganhando peso. Meu filho era uma criança tranquila e faminta, bem o oposto da mãe que andava impaciente com os acontecimentos a sua volta.

O sultão esteve muitas vezes em meus aposentos e sempre distante. Beijava a minha face, brincava com seu filho e ia embora rapidamente. Quando o médico me deu alta do resguardo, achei que a minha vida mudaria, mas não foi o que aconteceu.

Said não me levou para a ala das esposas, o que me fez crer que isso não iria acontecer, e por mais que eu fosse esperta, porque eu sei que um filho homem tem maior prioridade dentro de um clã, algo estava muito errado.

Isso potencializou quando passeando com Mohammed ouvi uma conversa entre duas favoritas, sem que elas me notassem.

Espero que ela tenha aproveitado antes do nascimento da criança, porque uma hora ela vai saber a verdade e aí, acabou seu sonho de ser a mais importante.

Tenho pena dela, vive um amor impossível. — Volto para casa com a cabeça explodindo. O que eu não sei e que deveria saber? Por que elas sabem e eu estou no escuro? Hoje Said não me escapa...

Me arrumo para esperá-lo, dessa vez vestida como antes, preparada para agradá-lo e não como uma mãe recém parida. Peço para a Aisha ficar comigo na sala e levar Mohammed quando eu assim o determinar.

— Fica calma, Tayla. Não faça nada que o seu leite pode secar.

— Eu só preciso de respostas, Aisha. Pode ficar sossegada que eu não pretendo me alterar.

— Quem não te conhece que te compre.

O sultão entra em casa e ergue as sobrancelhas a cena que vê.

— Vocês duas estão com uma cara estranha. — Feliz observação, ele é perspicaz.

— Para variar a Aisha está aqui me enchendo a cabeça, dizendo que eu tenho que esperar sua mãe conversar comigo sobre a nossa mudança de ala. — Said fica pálido e é o que eu preciso para saber que as conversas em cochichos têm fundamento.

— Beija o seu filho agora, porque Aisha vai colocá-lo para dormir. — Ele pega, brinca, pergunta sobre a sua saúde, até que me cansa.

— Chega, Said. Pode levar, Aisha. — Ela sai rapidamente com o menino e eu os acompanho com o olhar, porque Mohammed é uma criança linda, tem as características do sultão, será um homem apaixonante.

— Agora somos só nós dois. — Encaro o sultão de igual para igual e sei que ele não gosta desse meu jeito desafiador. — Eu sempre fui bem sincera com você, senhor. Acho que sincera até demais e estou vendo que a recíproca não é verdadeira. Estou passando vergonha, escutando conversas baixas a meu respeito, e de verdade, pouco me importo com os outros, mas eu me importo com você e com a relação que pensei que tínhamos.

— Você é muito extremista, Tayla. Sempre foi assim. — Said não move um músculo da face e eu não consigo analisá-lo.

— Então, não há nada errado acontecendo? — Ele engole saliva.

— É que você não tem culpa de nada, ninguém tem culpa de nada a não ser eu. — Meu coração sangra porque eu sinto que é algo que não pode ser mudado, mas que podia ser evitado. Espero ele organizar os pensamentos e tento não entrar em desespero.

A ÚNICA DO SULTÃOWhere stories live. Discover now