um

802 121 11
                                    

A boate estava cheia. Luzes, música alta, pessoas dançando e bebendo... Lá embaixo a festa estava acontecendo, aqui em cima na área vip, outra festa acontecia. Eu estou comemorando meu   vigésimo primeiro aniversário, e este  em especial tem um gosto diferente. Depois desta noite, eu serei  uma mulher livre!

E claro, tenho motivos de sobre para comemorar.

Puxando Michele pelo o braço, me jogo na pista de dança. A Mix Dance é uma boate famosa no bairro Vila Olímpia em São Paulo, não era pra menos, o dono dela era ninguém menos que o irmão da Michele, o cara  era o cara quando se tratava em boates.

- Alê, sério, tô cansada de dançar. Vou sentar um pouco! - Michele  disse. Fiz que sim e então ela se afastou sentando-se num dos sofás que ficava ao canto da sala.

Meu corpo não sentia cansaço. Eu simplesmente estou em êxtase.

Enquanto eu danço na companhia de Lorena, minha outra amiga,  em certo momento, sinto sede. E então fomos ao barzinho da área vip e pedimos mais bebidas. E então Michele se juntou a nós enquanto os demais convidados se divertiam na pista de dança.

- Alê! - disse Lorena chamando minha atenção enquanto bebia sua bebida. - Acho que, pra fechar com chave de ouro a noite, você precisa fazer uma loucura! - ela disse claramente já alterada pela bebida.

- Que tipo de loucura? - perguntei sorrindo. Eu também não estava tão sã assim.

- Ah, sei lá! Alguma coisa fora do comum, afinal, a partir de hoje, você será uma mulher, livre! - Lorena disse com a voz embargada por causa da bebida enquanto cutucava meu peito com o dedo indicador.

- Lore tem razão! - Michele disse parecendo mais bêbada que nós.  - Vamos marcar essa noite como a despedida de casada! É isso!

- Vocês estão... Muito bêbadas! - falei rindo, não que eu não tivesse também.

Todas nós rimos.

-  Tá, chega de conversa, vamos fazer loucuras! - Lorena disse colocando fim naquele monólogo sem sentido.

Lorena nos puxa pelo o braço e saímos da sala de vip.

Andando pelo o corredor do segundo andar, vimos um grupo de rapazes saindo de uma outra sala. Eram quatro no total, e sim, eram lindos. Eles conversavam distraídos enquanto nós paradas, babamos neles.

- Já sei Alê! - Lorena disse enquanto nós olhamos fixamente para o grupo de amigos que ainda não tinham percebido nossa presença ali, há alguns metros de distância deles.
- Tá vendo aquele cara do meio? De camisa branca dobrada nas mangas? - fiz que sim. - Vai lá e beija ele! - Lorena disse para minha surpresa.

- Não, eu não posso! Esqueceu que sou casada? - perguntei rindo. Aquilo parecia realmente piada.

- Não vejo uma aliança em seu dedo que prove isso! Além do mais, você logo será uma ex, mulher casada! - Lorena retrucou.

- Ela tem razão! - Michele palpitou.

Olhei para as duas que me olhavam com olhar de "vai logo e faz" e então olhei novamente para o homem em questão. Apesar de ser um estranho para mim, ele tinha lá seu charme. Um belo negro com a barba por fazer que sim, não saía despercebido em nenhum lugar. E então, voltando minha atenção para minhas amigas que me olhavam com atenção e encorajamento, respirei fundo e fui.

Andando a passos rápidos em sua direção, porque eu temia me arrepender no caminho, me aproximo e então eles finalmente percebem que estou ali. Os quatro param de conversar e então me olham atentamente. O rapaz do meio em questão que seria meu alvo, me olha atentamente. Por mais que eu quisesse o olhar melhor antes do beijo, eu temia perder a coragem, e então, apenas parei a sua frente e em seguida me aproximei de seu rosto, grudei em seus lábios nos seus  e envolvi meus braços em seu pescoço. O beijo estava dado.

Durou breves instantes mas por incrível que pareça para mim, parecia uma eternidade. Era como se o tempo houvesse parado ali, no momento que nossos lábios se uniram. E para completar o beijo, pedi passagem com minha língua para sua boca e ele aceitou. Nosso beijo ficou mais intenso e gostoso e então em certo momento, ele parou.

Ao me afastar um pouco, percebi que o homem me olhava surpreso e atônito. E olhando bem em seu rosto, vi uma certa familiaridade em seus olhos. Todos que estavam a nossa volta pararam e nos observaram. E então, algo estalou em minha cabeça, como se uma ficha houvesse caído.

Aqueles olhos castanhos claros quase mel...

Olhei dentro de seus olhos, no mais profundo que eu conseguia chegar e ele também olhou nos meus.

- Alessandra? - ouço aquele belo homem dizer meu nome como se não acreditasse que fosse eu, bem ali a sua frente.

E então tudo fez sentido. Seus olhos, sua voz, sua aparência. Era ele.

Meus olhos sabiam que era verdade, eles estavam o vendo. Já meu cérebro queria acreditar que era mentira. Não podia ser ele. Ele não estava no Brasil, estava na Inglaterra há anos, bem longe. José Ricardo não veio nem para o nosso casamento, não veio nem para o enterro de meus pais. Ele nunca deu notícias, nunca entrou em contato comigo, nunca me procurou. E no entanto, ele estava ali, bem na minha. E o pior, eu havia acabado de o beijar. Como eu não o reconheci antes? Ele estava mudado. Muito mudado. Estava mais, homem. Seu físico, seu porte, sua barba, suas roupas. Não era o mesmo José Ricardo que me lembro, que cresceu comigo. E isso me desestabilizou.

Olhando atentamente em seus olhos, sinto que vou me desmontar. Uma lágrima solitária caí de meu olho, eu simplesmente não conseguia lidar com aquela situação. Estava frágil, cansada, havia tristeza dentro de mim. E então, sinto minhas pernas falharem, e em seguida tudo se apaga. 

Te Amo! Where stories live. Discover now