Três

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Um preso rumo a sua liberdade. Era exatamente assim que eu estava me sentindo. José Ricardo ter vindo pessoalmente ao Brasil só poderia significar uma coisa, ele iria assinar pessoalmente o divórcio, e o melhor, eu teria o controle de tudo o que era meu em minhas mãos.

Maldivas, aí vamos nós!

Sigo a passos rápidos até o escritório que foi de papai e que fiz questão de deixar exatamente do jeito que era depois que me mudei para aquela cobertura. Depois da morte de meus pais, decidi que era hora de vender aquela casa em que morávamos e que eles haviam sido assassinados, as lembranças não eram boas ali. E assim, por intermédio do advogado da família dr. Lucas, aluguei o apartamento que a Luciana Gimenez estava vendendo, não foi fácil convence-la a alugar, mas o apartamento estava há venda há anos e ninguém havia o comprado ainda. Ela mesma, a apresentadora e ex do Mike Jagger. O que eu mais amava naquele luxuoso apartamento não era apenas ele em si, mas, ele ficava estrategicamente localizado na cobertura do shopping cidade Jardim, com elevador privado, eu tinha acesso ao shopping literalmente sem sair de casa. Era um sonho.

Respiro fundo ao bater na porta e então a abro.

E lá estava ele. Meu futuro ex-marido sentado atrás da mesa que um dia foi de papai. Concentrado na tela do notebook, José Ricardo usava um óculos de grau e seu semblante era sério. Muito sério.

- Pode entrar! - a voz dele me tira desses pensamentos.

Vejo José Ricardo dizer isso ainda olhando para a tela do notebook. Fecho a porta e sigo em sua direção. Me sento a sua frente e ele continua com os olhos vidrados na tela. Minutos se passaram.

- Eu não tenho o dia todo! - digo já irritada. Se tem uma coisa que eu detesto é esperar.

- Na verdade tem sim! - ele retruca sem me olhar. Reviro os olhos.

- Olha aqui, quem você pensa que é? - pergunto o fuzilando com os olhos.

Ele me olha, finalmente.

- Seu marido! - diz ele olhando em meus olhos.

Sua voz era firme e sua postura mais ainda. Ao ouvir essa afirmação de seus lábios, sinto meu corpo estremecer. José Ricardo parecia, bravo.

- Que bom que se lembrou disso, marido! - digo claramente debochando. Ele ergue uma sobrancelha.

E então, meus olhos me traem quando ao o encarar eles passeiam vagarosamente por seus lábios, lábios esses que eu havia beijado na noite passada. E ao me lembrar disso, minha mente viaja. Nosso beijo! Mesmo quase que em coma alcoólico eu não esqueceria daquilo. Aquele beijo foi breve, intenso, envolvente, e, meu primeiro beijo. E sim, eu estava me odiando por isso. Dei meu primeiro beijo justamente na pessoa que eu mais detestava nesta terra, que azar!

Eu sei, tenho 21 anos e nunca fui beijada. Fazer o que se eu tenho princípios. Me casei aos 16 anos, até então não tinha namorado ainda, e eu não iria trair meu marido, mesmo um marido de mentira.

- Está me ouvindo? - mais uma vez sua voz me tira de meus desvaneios.

- Sim, não, o que disse? - pergunto meio atônita.

- Eu estava dizendo que recebi o e-mail que você enviou através do dr. Lucas!

- Ah sim. E, então? - pergunto.

- Por isso mesmo que resolvi vir pessoalmente te dar a resposta Alessandra! - ele disse seriamente.

- Como assim resposta? No testamento e no nosso acordo está claro, após meu aniversário de 21 anos, nos divorciamos e acabou! - contesto. - Você nem precisava ter vindo aqui para resolver nada, deveria ter feito como no casamento, a distância! - ele apenas me olha.

- Alessandra, - ele diz ao se acomodar na cadeia. - Existe uma cláusula no testamento e no acordo de casamento também. - o olho atentamente. - Seu pai deixou claro que, se ao chegar nessa idade você demonstrar imaturidade, rebeldia, irresponsabilidade, enfim, se você demonstrar ter atitudes e comportamentos que coloquem em risco sua vida e os negócios, eu poderei manter o casamento até que veja mudança em você! - ele diz calmamente.

- O QUÊ? - não digo, grito. Estou surtando.

- Deveria ler melhor antes de assinar! - ele me repreende. Aquele idiota me repreende.

Ao dizer isso, José Ricardo abre a primeira gaveta da mesa e retira de lá um papel. Ele me entrega o papel.

- Marquei as cláusulas de que estou falando! - ele disse ao me entregar a folha.

Pego o papel mais rápido que a velocidade da luz e então vejo, bem na minha frente, era uma cópia do testamento, e ele tinha razão. Papai havia deixado essa cláusula lá. E naquele momento meu chão se abriu novamente. Como papai pôde ter feito isso comigo?!

- Deveria ter lido com mais atenção! - ele diz após um certo tempo enquanto eu leio e releio a cláusula e fico de boca aberta. Minha liberdade estava sendo aprisionada, de novo.

- Eu estava de luto! - digo firmemente o encarando. - Não era nem pra eu ter assinado aquele acordo de casamento e muito menos os papéis do casamento em si. Eu estava, DE LUTO! ENTENDEU? LUTO! - grito ao jogar a folha sob a mesa. Minha vontade mesmo era de ter a jogado na cara dele.

José Ricardo nada diz. Apenas me olha, e aquilo me estressa ainda mais.

- Vamos fazer um acordo Alessandra! - ele diz calmamente. - Te darei 6 meses. Se no final desse prazo você me provar que mudou, que é responsável o suficiente para cuidar de sua herança, eu lhe dou o divórcio!

- Você só pode estar de brincadeira! - sorrio de nervoso. - Como sabe que não sou responsável para cuidar de minha herança? Quem te deu o direito de decidir isso?

- Seu pai! Seu pai me deu o direito de decidir isso, registrado em cartório! - tento me controlar, minha vontade era de voar no pescoço dele. - E, tenho provas de que você ainda é imatura e irresponsável! - ele tira da gaveta outra folha e me dá.

- O que é isso? - pergunto ao pegar a folha.

- Isso são todos os seus gastos. Aí está escrito e detalhado para onde vai o dinheiro que você gasta desde que seus pais se foram!

Era verdade, lá estava escrito tudo. Os gastos com salão de beleza, desde o primeiro ao último carro que comprei, o aluguel do luxuoso apartamento, tudo. Tudo estava registrado lá.

O olho seriamente.

- Sei de todos os seus passos, de tudo o que você faz, de tudo com o que você gasta! Desde quanto você gasta com absorventes, até o valor mensal do aluguel deste apartamento, que, na minha opinião, está fora do orçamento. - ele diz seriamente. Engulo em seco.

- Eu posso até passar um pouco dos limites, mas, o dinheiro é meu! - me defendo.

- Sim, o dinheiro é seu. Mas quem está responsável por cuidar do seu dinheiro e de você, sou eu. E eu não vejo uma pessoa responsável na minha frente. Se eu lhe der o divórcio e a administração da sua herança, você vai falir em menos de um ano. E eu não vou permitir isso... Meu acordo é esse, me prove que pode mudar e mude. Caso o contrário, ficaremos casados pelo o resto de nossas vidas! - ele diz exibindo uma calma que me irritava.

- Com você, não quero ficar casada nem mais um segundo! - digo firmemente o encarando.

E ao dizer isso, me levanto e saio daquela sala pisando firme no chão, era aquilo ou voar no pescoço daquele infeliz.

Te Amo! Where stories live. Discover now