dezenove

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- Bom dia Alessandra! - Ellen, a secretária do escritório diz ao me ver sair do elevador.

- Bom dia Ellen! - digo ao me aproximar.

Nem preciso dizer que eu e Ellen havíamos nos tornado amigas. Sim, como diz o ditado: Mantenha os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda! Na verdade, Ellen não era um inimiga, nossa amizade começou aos poucos, acredite se quiser mas Ellen era a única companhia que eu tinha ali. Todos os outros eram formais demais, e, ela era a única normal ali. Claro que depois que nos tornamos amigas ela confessou que no início, antes de descobrir que José Ricardo era casado comigo, ela havia tentado se aproximar dele mas sem sucesso.

Eu vestia um vestido MIDI vermelho tubinho de gola alta e manga cavada. Scarpian e em meu rosto, meu óculos de sol. Sim, meus olhos estavam inchados por tanto chorar. A verdade é que eu não havia dormido na noite passada.

- Pensei que você não viria hoje! - ela diz.

- Estou de passagem, vou passar uns dias viajando. Cuide da minha sala na minha ausência por favor!

- Pode deixar! - ela diz com um leve sorriso.

- E José Ricardo?

- Está em sua sala.

- Certo! - e ao dizer isso, sigo pelo o corredor até a sala de meu marido.

Seja forte! Seu firme! Não chore! Não baixe a cabeça! Supere!

Eu dizia a mim mesma enquanto me aproximava da sala.

A porta estava aberta, dentro da sala, um José Ricardo pensativo olhava para o nada a sua frente, e meu coração doeu ao vê-lo tão... Triste.

- Atrapalho? - pergunto seriamente.

Imediatamente José Ricardo parece sair do transe que antes ele estava. Sua atenção se volta para mim, e ele rapidamente se levanta e me encara.

- Nunca! - ele diz visivelmente nervoso.

Entro em sua sala e paro bem a sua frente, a mesa nos separava. Não tiro o óculos do meu rosto, não iria mostrar a ele o quanto sofri. Isso ele não iria ver em mim, dor, sofrimento.

- Passei apenas para dizer que, estou indo fazer uma viagem! - vejo surpresa em seu olhar.

- Viagem?

- Sim! Faz tempo que quero ir em um certo lugar, mas, venho adiando. Agora me parece o momento perfeito para isso! - digo. Ele engole em seco.

- Alessandra, por favor, não vá, não viaje assim, sem conversarmos antes! - ele implora.

- Está bem... Me diga o que quer conversar, e, depois, seguirei minha viajem! - digo firmemente.

José Ricardo me olha parecendo perdido, e então após alguns instantes ele fala:

- Eu sei que errei! Fiz besteira, não agi certo com você! E mais uma vez lhe peço perdão. Eu não sou digno de sua confiança nem do seu amor. Mas, mesmo assim, eu não vou desistir de nós. Lá atrás, você não desistiu, mesmo quando eu não tinha certeza de nada, mesmo quando até você não tinha certeza de nada. Você não desistiu de nós, e agora, eu não vou desistir! Ontem você me pediu um tempo, e vou lhe dar Alessandra, por mais que me doa ficar longe de você, vou esperar o seu tempo. Não vou a lugar algum, vou esperar! Só peço por favor que você não desista de nós, porque eu não vou!

Ok, eu não esperava por aquilo. Esperava na verdade que ele fosse tentar se justificar, que ele fosse tentar me mostrar que não errou. Mas, ouvir José Ricardo dizer que não iria desistir de nós, mexeu com algo dentro de mim. Confesso, eu o amo.

- Quando eu voltar te procuro! - digo apenas. Ele faz que sim. O olho pela a última vez e então saio daquela sala.

Entro novamente no elevador e assim que a porta se fecha, permito que as lágrimas que tanto reprimi caírem por meu rosto.

Como doía!

******

- Então vamos recapitular! - Lorena disse depois que ela e Michele ouviram atentamente minha versão dos fatos.

Estávamos em um avião particular tendo como destino as ilhas Maldivas.

- O bonitão teve uma aventura com uma brasileira lá em Londres, enquanto você estava de luto por seus pais, ele estava comendo uma vaca. Aí a vaca em questão engravidou e eles ficaram juntos até o bebê nascer, depois se separaram e a vaca voltou pro Brasil com a menina, e desde então eles vivem felizes entre São Paulo e Londres!

- É isso aí! - digo. Em seguida, bebo um gole de champanhe.

- E agora, a vaca está doente. E quer que o bonitão cuide da menina. E só então ele resolve te contar... Típico! Ele iria fazer o quê? Chegar em casa com a menina que certamente é o clone dele porque as meninas parecem com os pais e dizer que era filha de um amigo? - Lorena questiona.

Me mantenho calada.

Uma filha. José Ricardo tinha uma filha. E não era comigo.

- E como você está Alê? - Michele pergunta. Respiro pesadamente.

- Nem eu sei Mi como eu estou! - confesso.
- Sinto, raiva, ódio, dor, tristeza, medo... Não sei exatamente como eu estou!

- Entendo! - Michele apenas diz.

- Não estou com raiva dele apenas pelo o fato da traição em si... Sei como nosso casamento começou, ele não tinha nada comigo, não nos víamos há anos quando nos casamos, José Ricardo estava apenas fazendo cumprir o desejo do meu pai, nada a mais. Entendo que, ele teve suas aventuras, seus romances. Mas, por mais que eu entenda isso, ainda dói sabe?! Mas, eu me conformo! Só não me conformo porque, estamos juntos há 1 ano meninas! 1 ano! Não 1 dia! Será que nesse tempo ele não encontrou nenhuma maneira de me dizer a verdade? Por mais que fosse cruel, a verdade é sempre o melhor caminho! Poxa, era só ele me dizer a verdade! Eu o amo tanto que certamente passaria por cima disso! - confesso.
- Mas, ele não me contou. E só fez isso agora porque a mãe da menina está doente, só me disse isso agora porque dr. Lucas ficou no pé dele! E porque a menina vai ter que ficar com ele por um tempo. Se não fosse isso, talvez eu nunca fosse descobrir a verdade.

- Alê, você precisa parar de pensar um pouco nisso! - Michele diz.
- Estamos indo para um lugar que você sempre sonhou em conhecer. Vamos aproveitar essa viagem para esquecer os problemas! Vamos nos divertir, curtir, beber, gastar. Deixe os problemas no Brasil, e quando voltar você resolve eles!

- Mi está certa Alê! Não deixe esse problema que você está enfrentando estragar mais nada na sua vida. Esqueça tudo enquanto estivermos fora, dê um tempo. E quando voltar, você encara tudo de frente, como você sempre fez!

- Obrigada meninas. Não sei o que seria de mim sem vocês! - digo forçando um sorriso.

- Nós estamos aqui Alê! Você não está só! - Lorena diz.

- Um brinde! - Michele ergue a taça. Erguemos as nossas.
- Que as Maldivas nos faça esquecer que os homens existem! - e então brindamos.

- Não sei vocês, mas, eu não quero esquecer que eles existam! Na verdade, eu quero transar com um dentro da água, é o meu fetiche! - Lorena diz.

E então rimos alto. Só Lorena para dizer uma coisa como aquela.

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