vinte e dois

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Tudo o que eu sabia sobre "minha enteada" era que ela era uma linda menininha de pele morena, cabelos cacheados volumosos, olhos castanhos claros iguais aos do pai, e muito sorridente. Os vídeos que José Ricardo tinha no celular provava isso.

E eu?

Eu estava ansiosa por sua chegada. José Ricardo tinha acabado de mandar uma mensagem avisando que já estava a caminho com a pequena Aninha.

Não pense que foi fácil seguir em frente, ou que está sendo fácil me costumar com a ideia de ser madrasta de alguém. Um filho é um elo que liga e une duas pessoas para sempre. E José Ricardo e a tal Patrícia estariam ligados para sempre através da Aninha. E isso de certa forma me incomoda. Não pela a menina, mas, pela a mãe. Saber que haverá momentos e ocasiões em que José Ricardo e Patrícia terão que resolver alguma coisa relacionado a Aninha juntos e sozinhos me deixa insegura. Afinal, eles tiveram uma história no passado, breve, mas foi uma história, e o elo existia.

- Meu Deus! A fada rosa passou por aqui? - Glória pergunta ao adentrar na sala de estar.

- Exagerei? - pergunto. Ela olha em volta.

Já disse que amo gastar, e quando estou nervosa gasto mais ainda, e quando agradar alguém gasto o triplo, e quando quero parecer legal, gasto quadruplicado. E foi isso que fiz. Transformei a sala em um ambiente completamente rosa de boas vindas. Balões por todas as partes, e um bem na entrada escrito, bem vinda Aninha. Uma mesa de guloseimas ao canto, também rosa. Brinquedos como ursos e bonecas sob o tapete da sala. Fiz tudo o que eu acho que uma menina gosta. E eu torcia para que Aninha gostasse de tudo aquilo.


- Bom, um pouco! Eu acho. - Glória diz.

- Eu estou tão, nervosa! - confesso.

- Eu sei minha filha! Mas não se preocupe, tudo ficará bem! - Glória garantiu.

- E se, ela não gostar de mim? - pergunto preocupada.

- Alessandra, existe alguém nesse mundo que não goste de você? - Glória retruca. Sorrio em resposta.

- Mas...

- Minha filha... - ela diz ao pegar em minhas mãos.
- Tudo ficará bem! Não sofra por antecipação, deixe as coisas seguirem seu rumo... - faço que sim.
- Você o ama muito não é?! - ela pergunta se referindo a José Ricardo. Faço que sim sorrindo.
- Foi só por isso que perdoei ele! - ele garante.
- O amor que você sente por ele está... Transbordando! - ela diz olhando em volta.

E então a porta do elevador se abre.

Automaticamente, eu e Glória lançamos nossos olhares para a direção do elevador, e lá estavam eles. José Ricardo puxava uma mala rosa média, ao menos na cor acertei, penso. E com a outra mão, segurava a mão de sua filha.

Sua filha!

A menina era mais linda do que nas fotos ou nos vídeos. Ela vestia um vestido florido lilás e seus cabelos soltos e volumosos destacava uma pequena flor de pano que os decorava. Ela era sim muito linda. Aninha olha tudo a sua volta e vejo que ela gostou do que fiz para ela, seus lábios sorriam, e era o mesmo sorriso do pai. A menina na verdade era uma cópia fiel de José Ricardo.

- Uau! - ela diz olhando em volta.

- Viu? Ela gostou? - Glória disse baixinho.

Os dois caminham até nós.


- Aninha, essa é Glória a governanta da casa e nas horas vagas uma mãe muito exigente!  - José Ricardo diz. Estava nítido que ele e Glória ainda não tinham se superado.

- Olá Aninha! - Glória diz sorrindo.

- Oi! - a menina responde também sorrindo.

- E essa é... - ele começou, mas a menina o cortou.

- Tia Alessandra! - ela diz me olhando para minha surpresa. A olho atentamente.

- Como sabe o nome dela? - José Ricardo pergunta.

- Mamãe me mostrou uma foto dela papai, ela disse que eu deveria tratar a Alessandra muito bem porque ela será como a Glória, minha mãe mas horas vagas. - ok, aquela menina era esperta demais para a sua idade.

José Ricardo me olha atentamente.

- Olá Aninha! - digo ao me abaixar para ficar na sua altura.

- Olá! - ela diz sorrindo.

- Seja bem vinda, espero que goste de morar aqui conosco!

- Tudo isso aqui é meu? - ela diz olhando em volta. Faço que sim.
- Vou adorar morar aqui!

- Ela é esperta... - Glória diz.
- Deve ter puxado a mãe! - me levanto.

- Você quer conhecer seu quarto? - pergunto. Ela faz que sim já soltando sua mão da de José Ricardo. Estendo minha mão e ela a pega.
- Acho que você vai amar! - digo enquanto nos direcionamos para a escada.

- Ela, nem me chamou! - ouço José Ricardo dizer a ninguém em especial.

- Venha querido! - digo subindo a escada.


O quarto de Aninha ficava ao lado do nosso, na verdade era o antigo quarto de José Ricardo, só que, um pouco diferente.

- Preparada? - pergunto com a mão na maçaneta. Ela faz que sim, parece estar empolgada.

E então eu abro a porta.

Eu também já disse que haviam coisas que o dinheiro não era capaz de pagar, ou comprar, enfim, e ver a alegria no rosto daquela menina era uma.dessas coisas. O olhar, a expressão de surpresa e alegria e contentamento, tantas outras coisas boas, não tinha dinheiro nenhum que comprasse. E aquilo aqueceu meu coração.

- Vá lá, explore seu quarto! - digo a encorajando.

Aninha se solta de minha mão e entra no quarto. Segundo minhas pesquisas, a decoração do momento para as meninas era o unicórnio. E foi exatamente assim que mandei decorar o quarto de Aninha. O papel de parede, os lençóis da cama, o tapete do chão, os móveis, tudo era no tema unicórnio. Ainda no quarto, mais afastado, mandei fazerem uma espécie de cantinho dos brinquedos, com muitos brinquedos espalhados e livros, sim, descobri que ela amava ler. Ali seria seu refúgio, seu lugar na casa. Aninha olhava tudo e tocava em cada objeto que ali havia.

- Obrigado! - a voz de José Ricardo me tira de meu momento de apreciação.

O olho e ele parece feliz. Sim, José Ricardo estava feliz. E eu também.

- Não me agradeça! Fiz por ela. - digo. Ele sorri.

- Você é maravilhosa Alê! - sua voz é baixa e rouca.

- Agora temos uma criança em casa querido! Se comporte. - digo. Ele sorri.

- Culpa sua querida! Me deixou 1 mês sozinho lembra?!

- Se você for um bom menino, prometo te recompensar... - digo o olhando atentamente. Ele sorri ainda mais.
- Aninha querida, vamos jantar? - pergunto a menina chamando sua atenção. Ela vem até nós sorrindo.

- Vamos! - ela diz.

E então, Aninha pega na mão do pai, e depois na minha, e ficamos os três assim, ligados por ela. E foi naquele momento que percebi, havia algo que nos ligava, e esse algo era José Ricardo. Ele me ligava a Aninha, sem ele, não teria ela, e foi naquele exato momento que entendi, elos são fortes, e difíceis de serem quebrados. E ali, através daquela menina que segurava firme em nossas mãos, entendi que éramos um elo. Nós três, juntos, unidos, por um mesmo propósito.

O amor.

O EU TE AMO pode ser dito de várias formas. E ali estava uma delas. Enquanto descemos para o andar de baixo, José Ricardo olha em meus olhos, e através do seu olhar ele diz:

Eu te amo!

E com o meu olhar eu respondo:

Eu te amo mais!

Te Amo! Where stories live. Discover now