doze

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Se existia uma coisa em que eu era viciada era em comprar. Comprar coisas era o que me deixava satisfeita e feliz. Eu nunca me importei com o valor, nem se combinava comigo ou não, eu simplesmente comprava aquilo que chamava a minha atenção, e amava o poder de comprar e possuir algo. De dizer: Tá vendo? Comprei! É meu! Só que, existem coisas na vida que o dinheiro não compra. E isso meus pais sempre deixaram bem claro para mim. É óbvio que eu odiava isso. Saber que existiam coisas que eu simplesmente não poderia ter por meus próprios meios. E isso sempre me frustrava. E quando eu estava assim a única coisa que preenchia esse vazio do querer e não poder era uma boa dose de tequila. Sim, beber tequila sem pensar no amanhã era tão satisfatório quanto comprar uma bolsa da Prada.

Não preciso dizer que naquela noite eu bebi. Sim, bebi muito. Bebi até dizer chega.

Não me levem a mal mas, existia uma coisa que eu queria ter, que eu queria ter só para mim, existia uma coisa que eu almejava conseguir mas que dinheiro nenhum no mundo poderia me dar. E ver essa "coisa" sendo ameaçada de sair de meu domínio estava me matando por dentro. Eu queria José Ricardo, queria ele só pra mim. Queria sentir seu cheiro novamente em mim, sentir sua pele, seus beijos, seus dedos me tocando em lugares que eu nunca imaginei sentir prazer, sentir sua boca e língua fazerem de mim o que quiserem. Eu o queria, eu o desejava. E o pior. O queria com mais intensidade do que eu um dia desejei comprar um pônei quando criança. Não era uma simples cobiça, era um desejo profundo que doía só em pensar que eu simplesmente não o teria.

Sentada numa das cadeiras da área externa da cobertura, enquanto a brisa suave tocava minha pele, resolvi fazer uma festinha só para mim. Glória já havia ido para casa então eu me sentia mais a vontade para curtir minha sofrência. Sim, eu já estava sofrendo por amor!

Não lembro quantas doses de tequila eu já havia bebido. Não lembro quantas vezes eu já havia chorado por me sentir uma fracassada. Só me lembro de cantar loucamente ao som de Marília Mendonça.



Exagerado, sim
Sou mais você que eu
Sobrevivo de olhares
E alguns abraços que me deu
… E o que vai ser de mim
E o meu assunto que não muda?
Minha cabeça não ajuda
Loucura, tortura
… E que se dane a minha postura
Se eu mudei, você não viu
Eu só queria ter você por perto
Mas você sumiu
… É tipo um vício que não tem mais cura
E agora, de quem é a culpa?
A culpa é sua por ter esse sorriso
Ou a culpa é minha por me apaixonar por ele?
… Só isso
… Não finja que eu não 'to falando com você
Eu 'to parado no meio da rua
Eu 'to entrando no meio dos carros
Sem você a vida não continua
… Não finja que eu não 'to falando com você
Ninguém entende o que eu 'to passando
Quem é você, que eu não conheço mais?

Me apaixonei pelo que eu inventei de você


Sim, eu sei. Sou a tola patética apaixonada. Sofrendo por amor. Minha primeira sofrência. E a primeira a gente nunca esquece.

A música continuou mas eu já não cantava mais. Apenas bebia e refletia em cada palavra, em cada verso.

- Tudo bem? - ouço sua voz me tirar de minha meditação. Me viro ainda sentada para a entrada do apartamento e então lá está ele. Calça social preta, camisa branca dobrada nas mangas. Exatamente como na primeira vez que o vi na boate. Exatamente do mesmo jeito.

Faço que sim apenas. E então volto a olhar para a frente, para o nada enquanto os prédios estavam ao nosso redor. E então, vejo ele se sentar ao meu lado em outra cadeira. José Ricardo nada diz. E ficamos apenas em silêncio enquanto meu celular toca outra música da minha playlist.

Enxugue esse rosto
E venha aqui fora como de costume
Vamos conversar
Pra te alegrar tem até vaga-lumes
Tem dia que vai piorar
Saudade vai apertar
Até que 'cê 'tá indo bem
Faz falta aqui pra mim também
Lembra de quando
Eu ficava acordado até tarde esperando
Só pra ganhar
Um beijo de boa noite antes de dormir
Daqui não é diferente
Te beijo mas você não sente

Aquela era uma das muitas músicas em que eu ouvia e chorava. De saudades. Saudades dos meus pais. Uma lágrima solitária desceu do canto do meu olho. De sentir dor , a dor de não os ter, de não ter José Ricardo, me acertou em cheio. Eu estava só. Sempre estive só. E ali, olhando para o céu, que naquela noite não havia estrelas me senti só, mesmo que José Ricardo estivesse ali, bem ao meu lado. Mas ele não era meu. Nunca foi, nunca vai ser.


Quando bater a saudade
Olhe aqui pra cima
Sabe lá no céu aquela estrelinha
Que eu muitas vezes mostrei pra você
Hoje é minha morada
A minha casinha
Mesmo que de longe tão pequenininha
Ela brilha mais toda vez que te vê

E então, quando a música tocava mais uma vez, e desta vez na voz inconfundível de Marília Mendonça, sinto o toque suave da mão de José Ricardo na minha. Não ouso olhar para o lado. Não ouso acreditar que aquilo não era real, que era apenas fruto da minha imaginação carente. E por isso, fecho os olhos. A apenas o sinto. Sinto seu toque.

José Ricardo acaricia lentamente seus dedos em minha mão. E meu corpo se arrepia.

- Eu estou aqui Alê! Vou sempre estar! - sua voz era longe, suave. Terna.

- Estou com medo José Ricardo. - admito.
- Medo de ficar só, medo de... Não te ter! - desabafo ainda de olhos fechados.

- Eu vou sempre estar aqui com você, por você! Mesmo que, nós dois... - sua voz parecia triste, pesada, fraca.

- Não! Por favor! - imploro baixinho.
- Não me diga nada. Não posso te forçar a gostar de mim, a ter sentimentos por mim. Isso é fato! Mas, por favor, me permita apenas viver o que estamos vivendo agora! Não diga nada, apenas, continue acariciando minha mão em silêncio! Eu preciso somente te sentir. Pra mim, só isso já basta! - suplico.


José Ricardo pareceu entender meu pedido. Ele permaneceu ali, em silêncio, acariciando minha mão enquanto a música tocava ao fundo e a brisa suave daquela noite de outono tocava meu rosto. Lá no céu, seu sabia que existiam 3 pessoas olhando por nós. Cuidando de nós. Mesmo que naquela noite não houvessem estrelas. Mas eu sabia que eles estavam lá.

Por nós, para nós!

Te Amo! Where stories live. Discover now