sete

551 97 6
                                    

O domingo chegou. E com ele, uma moleza em meu corpo se fez presente. Ao acordar naquela manhã nublada de outono, eu simplesmente não conseguia me levantar da cama. Meu corpo todo pedia para eu esquecer qualquer coisa que queria fazer fora dali e me enfiar cada vez mais para dentro das cobertas. E foi exatamente isso que fiz. Desliguei o celular e dei ao meu corpo o descanso que ele tanto pedia.

Não me recordo bem em qual momento do dia ouvi batidas na porta do meu quarto. Eu já estava num sono leve, e pude ouvir mesmo que de longe as batidas que eram constantes.

- Entre! - digo com a voz cheia de sono.

Logo a porta se abriu, e um José Ricardo apressado passou por ela.

- Alessandra, você está bem? - ele pergunta ao se aproximar da cama.

Ainda com a coberta cobrindo meu rosto digo:

- Estou! Eu acho! - não, eu não estava.

- O que aconteceu? - sua voz parecia preocupada.

- Eu não sei. Só não quero me levantar, e, quero dormir. Dormir muito! - respondo.

Ele se manteve calado. Por um instante pensei que já não estivesse ali. E então, sua voz me faz perceber que sim, ele estava ali.

- Você está... Grávida? - ele pergunta com a voz trêmula.

Nesse momento retiro as cobertas de minha cabeça e o olho. As luzes do quarto estavam acessas, e ele parado bem a minha frente. Me sento na cama cobrindo minhas pernas. E José Ricardo parecia um tanto, tenso.

- Não se preocupe marido! Não estou grávida. - vejo alívio em seu olhar. - Isso chega a ser engraçado até. - ele ergue uma sobrancelha. - Não faz essa cara JR! - quando percebo, digo seu apelido de infância. Ele me olha mais atentamente ainda. Engulo em seco.

Por um momento esqueci das circunstâncias que nos colocaram ali, naquela situação. Por um momento minha mente me fez acreditar que éramos apenas nós ali, os mesmos de anos atrás antes de tanta coisa ruim acontecer em nossas vidas.

- Desculpe! - digo baixinho. Ele continua parado me olhando.

- O que você tem? - sua voz soa fria.

- Não estou grávida se é isso que pensa! Estou apenas cansada, não sei. Não acordei bem hoje. - digo evitando o olhar.

Noto que José Ricardo se aproxima de mim. Ele se senta ao meu lado na cama de frente para mim. Com sua aproximidade, meu rosto se vira para o ver. E aquele foi um dos poucos momentos que ficamos tão próximos sem brigar. Sem discutir.

- O que está fazendo? - pergunto baixinho ao ver José Ricardo levantar uma mão e a levar até meu rosto. Ele toca minha testa.

- Estou sentindo se está com febre. - ele diz tocando gentilmente minha testa.

Era incrível como nossos olhos não paravam de se olhar. Enquanto sua mão tocava minha pele, seus olhos passeavam por meu rosto, e os meus passeavam pelo o seu. E naquele momento me senti acolhida. Um simples gesto que me deu a direção que eu precisava. Para seguir em frente, para me tornar uma pessoa melhor, eu precisava acertar certas dividas do passado.

- Me desculpe JR! - digo olhando em seus olhos.

José Ricardo me olha surpreso e curioso.

- Pelo o quê? - ele pergunta com a mão firme em minha bochecha.

- Por... Tudo o que eu te disse, desde quando meus pais estavam vivos, até, agora. Me desculpe! - digo sentindo minha voz embargar.

- Esqueça isso Alê! - ele disse me deixando surpresa. José Ricardo sempre me chamou assim.

- Eu, eu preciso te perguntar uma coisa. - digo sentindo as lágrimas já encherem meus olhos. Ele faz que sim.
- Por que você não veio? Por que me deixou sozinha durante todo esse tempo? Por que não esteve aqui no enterro?

Nesse momento, José Ricardo retira sua mão do meu rosto. Ele abaixa a cabeça e depois respira profundamente. Em seguida, a levanta. E seu olhar era triste, distante.

- Me desculpe por isso Alessandra! Mas, eu não ia suportar vir aqui... Eu, não iria suportar enterrar mais um pai, não iria suportar enterrar mais alguém da família! Me desculpe. - nesse momento, as lágrimas que já haviam se formado em meus olhos, caem. E naquele momento em particular percebi que mais alguém além de mim, ainda sentia a mesma dor que eu, na mesma intensidade que eu. Mais alguém além de mim, ainda sofria.
- Eu deveria ter vindo. Deveria ser forte por nós dois. Mas, eu simplesmente não consegui.

- Está bem. Eu entendo! - digo. Era tudo o que eu poderia dizer.

- Alessandra, sei que recomeçamos com o pé esquerdo. Sei que, não estamos fazendo da maneira certa, mas, acredite, tudo o que fiz e faço, é apenas para fazer cumprir o desejo do dr. Alex. Apenas isso. Eu devo isso a ele!

Palavras não eram necessárias ali. E talvez, palavra nenhuma seria capaz de expressar a José Ricardo minha gratidão. Ele sempre foi para meus pais como um filho. E por anos, esteve no lugar de um. Não digo apenas dos anos em que eu ainda não existia, mas, digo por todos os anos de sua vida. José Ricardo era de fato o filho homem que meus pais não tiveram e que a vida deu a eles. E naquele momento entendi que papai não poderia ter encontrado homem melhor para colocar como meu  marido cuidando de mim e dos meus bens.

E naquele momento, eu simplesmente o abracei.

Envolvi meus braços em volta do corpo de José Ricardo e o apertei forte. Depositei no abraço que deu em José Ricardo o abraço que gostaria de dar em meus pais. Na verdade, José Ricardo era tudo o que me ligava a eles.

Enquanto me conectava com meus pais através de José Ricardo, sinto seus braços apertarem meu corpo magro. Gentilmente, ele retribui meu abraço sincero. E sim, aquele foi o momento mais lindo e carinhoso que tive nos últimos 5 anos. Em seus braços me senti acolhida, protegida.

Não sei por quanto tempo durou. Mas para mim, poderia ficar ali por toda a eternidade. Confesso que me desarmei.

E então, nossos corpos foram se separando, lentamente.

Eu sei, só iria voltar na segunda, mas, a ariana que exite em mim é impulsiva demais 😂😂
Espero que estejam curtindo a história. ❤️❤️❤️❤️❤️

Te Amo! Onde histórias criam vida. Descubra agora