prólogo

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Ainda confusa com toda aquela situação, eu olhava atentamente para a fita amarela que me impedia de entrar no prédio. Meu choque é ainda maior  quando vejo dois homens carregando um corpo totalmente ensanguentado em uma maca, um corpo que eu conhecia. Prendo minha respiração, enquanto meus olhos seguem o cadáver do meu chefe até um carro branco enorme.

— Você estava dizendo que trabalha aqui? — O detetive tenta mais uma vez chamar minha atenção. Dessa vez consigo finalmente voltar para realidade e o encarar

— Ele está mesmo morto? — Indago ainda confusa com a situação

— Tudo indica que desde a noite de ontem. Você por acaso notou algum comportamento estranho nele? Ou sabe se ele devia dinheiro a agiotas ou algo do tipo? — o homem negro de baixa estatura e olhos castanhos claros me indaga.

— Não... Ele estava normal, insuportável como sempre!  — arregalo os olhos ao notar que acabara de dizer algo que poderia comprometer a minha inocência. — Digo... ninguém que trabalhava aqui gostava muito dele... ele era meio carrasco

Digo, vendo o homem anotar algo em seu bloco de notas, e voltar a me olhar em seguida.

— Você pode voltar pra casa, agora aqui é  uma cena de crime, civis não podem entrar. Caso precise de mais informações, irei lhe contatar para um interrogatório

Arregalo os olhos assustada com o que acabara de ouvir. E gaguejando, faço uma pergunta que pode soar ainda mais comprometedora

— Me tornei uma suspeita? —  O homem ri de lado e me fita por alguns segundos.

— Ainda não, mas como uma pessoa que era próxima da vítima, você pode ser útil pra algo.

Ao terminar de passar meus dados e endereço para o investigador do caso, me dirijo para casa ainda muito atordoada com tudo  que estava acontecendo. Tudo bem que ele era um mala, tratava todos os funcionários como lixo e não tinha nenhuma noção de senso... Mas o assassinar de forma tão bruta é meio extremo pra qualquer situação.

Ando em passos lentos por aquele enorme corredor, enquanto a luz piscava freneticamente. Suspiro, pegando a chave em meu bolso assim que paro em frente a porta do meu apartamento.

— Chegou mais cedo, vizinha? — Pulo de susto quando  ouço uma voz vinda por trás de mim, pondo a mão sobre  o peito e encarando o homem. Seus cabelos negros escorridos caindo nos olhos, seus olhos puxados e pele amarelada, e principalmente aquele sorriso macabro nos lábios. Ele carregava duas sacolas brancas nas mãos, e me fitava parado no meio do corredor. Com aquela luz que falhava, ele conseguia parecer ainda mais bizarro. — Esqueceu alguma coisa?

— Houve um incidente no lugar onde trabalho... — Balbucio, tentando encontrar o buraco da fechadura o mais rápido possível, e em passos lentos ele se aproxima. Agora, parado do meu lado, apoiando-se na parede indaga mais uma vez

— Que tipo de incidente?

— Mataram... — engulo em seco antes de terminar a frase — Mataram o meu chefe noite passada, no prédio onde trabalho. — E então ele sorri. Foi um sorriso singelo, um pequeno sorriso que nasceu entre os lábios do homem, tal reação que me fez franzir o cenho. Quem sorri quando recebe a notícia que alguém foi assassinado?

— Você está sorrindo? — Pergunto confusa, e ele balança lentamente a cabeça.

— Apenas me perguntando o que levaria uma pessoa a assassinar a outra dessa forma... Será que ele merecia? — Aquele sorriso apenas cresceu quando  ele me questionou em alto e bom  som “Será que ele merecia?”, não  era uma pergunta, estava mais pra uma afirmação passiva agressiva.

— Ninguém  merece  ser assassinado dessa forma. Nem mesmo pessoas ruins como ele, ninguém deveria se achar no direito de tirar a vida de alguém!

Ele me encara por alguns segundos, calado e seu sorriso havia sumido. Então ele suspira e se desencosta da parede.

— Com certeza, você  tem toda a razão... Quem poderia discordar de um argumento tão bom? —Diz, voltando a sorrir. Então  em passos lentos ele caminha até a porta do lado da minha, a abrindo lentamente, se despedindo com o olhar e adentrando seu apartamento. Finalmente consigo soltar o ar que eu nem sabia estar segurando. Por algum motivo esse homem me dava medo, mas é algo específico, pois apenas eu consigo sentir essa tensão extremamente perturbadora quando estou interagindo com ele, enquanto os outros inquilinos apenas o adoram. E eu não posso negar que ele é uma ótima pessoa. É um pediatra que atua em hospitais filantrópicos. Já viajou para países pobres ou em guerra para ajudar a cuidar das crianças feridas, é um ótimo vizinho, ótima pessoa. Mas que por algum motivo não  me desce, esse arrepio na espinha que ele me causa, e principalmente a forma que ele age quando estamos apenas nós dois. E aquele sorriso... Como eu poderia descrever aquele sorriso?

O vizinho do ladoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ