Capítulo 4

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Abro lentamente os olhos, sentindo fortes investidas sobre o meu peito, que cessam, assim que eu tomo consciência. Ainda confusa, olho ao redor, percebendo estar em uma casa totalmente diferente, meu campo de vista muda, e então posso ver Jung me encarando severamente.

— O que diabos estava tentando fazer? — indaga raivoso

— Que inferno, por que me tirou de lá? — esbravejo ainda mais furiosa, me sentando na cama em que estava repousada. — O que você estava tentando fazer?

— Ainda pergunta? Estava tentando reanimar você. Por acaso perdeu o juízo de vez? — O olho por alguns segundos calada, enquanto tentava engolir a seco aquela frustração que eu já havia sentido antes.

— Eu vou até à delegacia me entregar! — Digo, com uma tentativa falha de me levantar, sentindo meu corpo mole tombar novamente para trás.

— Se entregar pelo quê? — Indaga curioso. E eu suspiro

— Antes de apagar eu vi no jornal que uma mulher foi encontrada morta, afogada na banheira... Aquela mulher tinha cuspido em mim, e me ofendido de várias formas diferente mais cedo... Eu matei aquela mulher, e devo ter matado o meu chefe também

— Eu acho que o efeito do gás ainda não passou. Volta a dormir!

— Eu estou falando sério! Nunca ouviu falar em pessoas com duplas personalidades? Geralmente dadas em pessoas com traumas ou problemas mentais. Eu! — Digo o encarando, o homem apenas suspira, e passa as mãos pelo cabelo

— Você realmente não faz ideia! — Resmunga o homem, que volta seu olhar até mim.

— Você nunca assistiu fragmentado? Eu posso ter um alter-ego, uma segunda personalidade que não suporta mais tanta humilhação e decidiu se vingar matando qualquer um que tente me ferir... Eu já senti vontade de matar antes, tanta vontade... Mas nunca tive coragem. E se essa segunda personalidade tiver?

— Eu sei que já, por isso escolhi você. É diferente de tudo que já  vi, é diferente deles... Se tem tanta raiva, deveria descontar em quem merece ao invés de descontar em si própria. — Diz sereno, ele conseguia falar sobre um assunto tão delicado com tanta tranquilidade, que chegava a me arrepiar. — Não foi libertador quando xingou aquela mulher hoje mais cedo? Eu prefiro assim. Em vez de guardar tudo pra si, é melhor dizer o que quer, fazer o que quer... É mais humano.

— Como você sabe que eu xinguei ela? Como sabia de todos os detalhes da vida da minha irmã? Quem é  você?

— Quando escolho meu alvo, nunca o perco. — Diz, e pode soar repetitivo. Mas aquele maldito sorriso que tanto me assusta estava lá, estampada em seu rosto. — Eu prometo, você  se tornara especial, eu vou te tornar especial.

Engulo em seco, antes de retomar forças e finalmente me levantar da cama. Eu não  olho para o homem, apenas queria sair daquele lugar o mais rápido possível. Ao sair do pequeno, porém  aconchegante apartamento, noto que minha porta estava entreaberta.

— Não foi arrombada...— resmungo para mim mesmo ao notar que a porta  estava intacta. — Como diabos aquele esquisito entrou em minha casa?

“Isso é ruim, muito ruim" Essas palavras invadiam meus pensamentos enquanto eu adentrava a casa. Noto que o bujão estava no lugar de onde não deveria ter saído.

Ok, tudo que sabemos até agora é que aquele homem tem, de alguma forma, acesso livre a minha casa, ele também tem informações cruciais sobre meu dia a dia, sobre minha vida e sobre a vida das pessoas que me rodeiam. O que diabos seria esse homem? Um stalker? Quando mais eu pensava sobre isso, mais assustada eu ficava. E aquele papo sobre alvo, ou me tornar especial? O quanto bizarro isso podia ficar?

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Sentada naquela mesa, eu viro mais um copo daquela bebida quente, tal que desce rasgando pela minha garganta.

Por algum motivo, eu acreditei que seria uma boa ideia sair da rotina e encher a cara quando recebi uma mensagem no e-mail sobre uma reunião de ex alunos da escola  onde estudei. Eu vivia assombrada naquele apartamento, me assustando com cada estalo que eu ouvia. Desde aquele dia eu não dormira bem, e tenho a constante sensação de que alguém está me observando, de que aquele homem está me observando.

— Mas a Maxine é a que está melhor que todos nós. Ficou famosa, está com a cara estampada em todos as matérias e jornais. — Manuel resmunga com dificuldade devido ao excesso em bebida consumida. — Será  que eu tenho que matar alguém também  pra finalmente entrar pros holofotes?

— Eu não  matei ninguém. E se estou  livre, é porque não  conseguiram provar o contrário. — Minto. A essa altura do campeonato, nem mesmo eu mais acreditava na minha inocência.

— Tem muito marginal solto por aí por falta de provas, a lei desse país falha. Você deveria estar atrás das grades. — Essa foi a vez de Miranda me ofender. Suspiro  fundo.

— Pessoal, por favor. Ela veio porque prometi que ninguém tocaria no assunto. — Paulo defende, já aumentando o tom de voz.

— Não precisa se desgastar por isso... eu vou embora! — Digo, pegando em minha bolsa algumas notas de dinheiro e pondo sobre a mesa — Até  outro dia, Paulo!

Me levando rapidamente, sentindo a cabeça rodar. E em passos ligeiros, saio do estabelecimento. Meu celular vibra em um aviso de mensagem. Suspiro, pegando o aparelho no meu bolso, ainda caminhando. E lendo a notificação de um número desconhecido.

Você não  sente vontade de matar eles?”

Era tudo que estava escrito ali, franzo o cenho. Olhando ao redor desesperada. Eu tinha  certeza que aquele homem estava por ali, em algum lugar, me observando.

— O que diabos esse homem quer de mim? Eu deveria procurar a polícia? — penso em voz alta. Eu estava assustada, estava realmente assustava. Ele me dava medo, e a certeza de que a minha intuição sobre ele sempre esteve certa me arrepiava a espinha. Eu estava de mãos atadas. Não tinha nem mesmo um centavo para mudar de condomínio. A polícia não me ajudaria por acreditar que estou apenas querendo desviar o foco de mim. O que eu poderia fazer agora?

O vizinho do ladoWhere stories live. Discover now